sexta-feira, 29 de maio de 2009

O XÁ DA PÉRSIA CHEGA AO ESPÍRITO SANTO


Quantas pessoas se apaixonaram pelas vozes das novelas, na era de ouro da Rádio Nacional? Pior que os artistas não tinham seus rostos conhecidos do público, e alguns por um ótimo motivo – eram feios. Na TV, as paixões são igualmente arrebatadoras e engana-se quem pensa que isso só acontece com os fãs das modelos-manequins que faturam mais do que os verdadeiros atores e atrizes. A tia de um amigo meu não perde a programação esportiva da Globo, o que inclui os gols do Fantástico. Diz meu chapa Marco Carvalho, autor de “Feijoada no Paraíso – a saga de Besouro, o capoeira”, que a velhinha – solteira desde o tempo em que o Estado Novo fazia jus ao nome – se empeteca toda, bota roupa legal, se maquia, só para ver na telinha seu objeto de desejo... o Léo Batista, mais antigo apresentador da televisão brasileira em atividade, com mais de 60 anos de carreira.
– Um dia eu rodo a baiana e vou pra porta da Globo só pra beliscar aquele lindo, aquele bochechudo! – sonha em voz alta a vivida senhora, para deleite dos sobrinhos e sobrinhos-netos, um bando de sacanas.
Mas o rádio é o rádio e a história que agora reproduzo foi enviada por meu amigo Eduardo Varela, hoje professor da UFF, ex-repórter do Globo. Lembram do Eliakim Araújo, que hoje mora nos EUA? No tempo em que ainda não tinha seu rosto na TV, quando trabalhava na Rádio JB, ele quase foi pedido em casamento por um amiga nossa, a serventuária da Justiça Gerusa Dan Moraes, que veio do Espírito Santo para morar muitos anos em Niterói.
Os dois viviam no Bar Natal, um pé-sujo inesquecível no Centro de Niterói, que foi demolido para a construção de um shopping.
Uma vez, conta o Varela, Gerusa me segredou que ficava louca quando ouvia a voz do Eliakim, na JB AM.
– Varela, eu fico louca com aquele homem! Quando ele diz “Teerã urgente! O Xá Reza Pahlevi afirmou ontem...”, qualquer coisa assim, chego a ter um orgasmo! Acordo cedo todo dia só pra ouvir o noticiário!
Entre aspas, o texto do Varela:
“Isso foi dito no meio de uma porrada de cervejas e guardei a confidência daquela amiga que veio de Jerônimo Monteiro, cidade também conhecida como Jerominho. Naquele lugar, Gerusa tinha uma pequena casa, dois ou três bois, um poço e uma vida simples. Com a família, morava uma tia querida, dona Placídia, que perdoava a vida um tanto desregrada da sobrinha no Rio de Janeiro.
Meses depois, eu fazia o house organ de uma multinacional e teria que gravar um audiovisual sobre a empresa. Os diretores queriam que fosse escalada voz mais badalada da época: o próprio Eliakim. Liguei para ele – o cara era super gente boa – e marcamos a hora da gravação num estúdio da Rua Santa Luzia, Centro do Rio.
Enquanto o vozeirão gravava no aquário, lembrei da Gerusa e, numa máquina de escrever, fiz um texto. Eliakim riu e topou a brincadeira.
Muito sério, voltou ao estúdio e, após um pigarro, mandou em tom de edição extraordinária:
– E atenção, atenção! O Xá Reza Pahlevi acaba de chegar a Jerônimo Monteiro para conhecer Gerusa Dan Moraes, que admira muito a cultura persa. Jerominho recebeu o visitante de braços abertos e a comitiva se hospedou na casa da própria Gerusa, onde o Xá do Irã travou longa conversa com Titia Placídia para conhecer detalhes sobre o fechamento iminente do Bar Natal”.
A gravação foi presenteada à Gerusa, com música de fundo e tudo. Ela levou a fita à cidade natal e pediu audiência ao prefeito, que não se fez de rogado: no ato, concedeu ao Xá do Irã e ao apresentador da JB AM o título de Cidadão Honorário.

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