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sábado, 28 de agosto de 2010

SEU ALUGUEL EM TROCA DE UMA VAGA NO CÉU


O vídeo acima é antigo. Tem meses, talvez mais de um ano. Se isso o que foi dito por esse "pastor" Silas Malafaia não é considerado um ato criminoso pela Justiça, pelo Ministério Público e pela Polícia, estamos realmente muito mal. Melhor entregar logo o ouro ao bandido. Pensando bem, até o Maluf perto desse homem é um santo. O único fato positivo nesta gravação é que o "pastor", com a voz alterada, imagina ouvir de um seguidor a frase: "A coisa anda ruim pro meu lado". A coisa deve andar muito ruim mesmo, mas para o lado dele, Malafaia. Ato falho na certa. Daí o pedido desesperado de dinheiro.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

FELIS DOMESTICUS POR SYLVILAGUS BRASILIENSIS


A “Época” está vendendo felis domesticus por sylvilagus brasiliensis. Quem pegou o tempo do latim no Colégio Pedro II vai lembrar o que é isso. Refiro-me à matéria de capa sobre Dilma Rousseff. Quem vê a capa e não lê o miolo, estranha com razão. A capa promete revelações sensacionais sobre o papel da candidata de Lula à Presidência da República na luta armada.
Porém, basta ler o conteúdo das páginas 34 a 48, espaço das duas matérias com as quais a revista mimoseia a ex-ministra, para entender que não é nada disso. A “Época” só contou coisas boas da candidata que, aliás, começa a disparar nas pesquisas.
A primeira matéria é um refogado que apenas confirma o que Dilma tem dito sempre, ou seja, que nunca participou diretamente de ações armadas. Pior, desmente a sugestão do subtítulo da capa: “Documentos inéditos revelam uma história que ela não gosta de lembrar: seu papel na luta armada contra o regime militar”.
O que esse subtítulo quer significar? Que ela pegou uma metranca e saiu por aí. Mas não era isso.
A página mais hilariante desta primeira matéria é a 42, que traz um quadro negro sob o título “As dúvidas sobre o passado”, com uma série de perguntas que poderiam, sem mudar uma vírgula, ser as mesmas feitas pelos torturadores. Com exceção da última (“Dilma se arrepende de alguma atitude tomada naquele período?”), que deve ter sido feita pelo capelão militar de plantão na cadeia.
A segunda matéria tem mais jeito de reportagem do que de editorial. Graças à fantástica apuração ali contida fiquei sabendo, por exemplo, que Dilma “não tinha nenhum talento na cozinha” e que usava o pátio da cadeia para “visitas higiênicas”.
O que são “visitas higiênicas”? Além de terrorista que não deixa rastros das milhões de rajadas que disparou, a Dilma não é boa no fogão e tem mania de limpeza. Esse mundo está perdido! Mais uma pesquisa do Ibope e uns e outros vão atear fogo às vestes.

Nas vozes dos Anjos do Inferno, "Como se faz uma cuíca".

quarta-feira, 26 de maio de 2010

BIRA DA VILA E O CANTO DA BAIXADA FLUMINENSE



Bira da Vila é daquelas figuras que imediatamente estabelecem empatia com Deus e o mundo. Tem mais: é um compositor enraizado em sua Baixada Fluminense, pois sua Vila não é a Isabel do Noel e nem a Vila da Penha de seu querido amigo e parceiro Luiz Carlos da Vila. Bira é da Vila São Luís, no primeiro distrito de Duque de Caxias.
Pesquisador da história musical da região onde nasceu e vive, o Bira é também um cara tinhoso que resolveu fazer um CD importante. Não apenas mais um CD de samba, mas um documento sonoro para registrar, além dos sambas que fez com Luiz Carlos da Vila e Serginho Meriti, entre outros, outras canções bem mais antigas de compositores como Cabana, Osório Lima, João da Paz, Toninho Barros, Jairo Bráulio e Anésio. E assim nasceu “O canto da Baixada”.
Nessa pesquisa, ele teve até orientador: o radialista Adelzon Alves, um profundo conhecedor da matéria e responsável durante décadas por um programa que fez a cabeça de muita gente que até então não ligava muito para esse que é o ritmo brasileiro mais conhecido no mundo.
Em 2002, em parceria com Riko Dorilêo, Bira compôs Ventos da liberdade, uma música tocada todos os dias nas rádios do país. Que país? Angola, onde esta canção é considerada quase um hino de libertação. “Então leva”, gravada por Zeca Pagodinho, e “O daqui, o dali e o de lá”, que na faixa do CD do Bira tem a participação de Beth Carvalho, foram outros sucessos mais recentes.
Depois de dois ou três anos atrás de patrocínio, Bira enfim está lançando “O canto da Baixada”. Vai ser na terça-feira, dia 8 de junho, a partir das 19h, no anfiteatro do Clube de Engenharia, que fica na Avenida Rio Branco 124/25º andar, Centro do Rio.
Mas não espere tanto para pegar seu disco e o ingresso para o show: já estão à venda na Livraria Folha Seca, na Rua do Ouvidor nº 37, naquele pedacinho que fica entre a Primeiro de Março e a Travessa do Comércio, bem próximo à Praça 15. Por 30 pratas, você leva o ingresso e o CD, e prestigia esse projeto 100% independente, porque o dinheiro – aqui ó! – não saiu até hoje e o Bira precisa da grana para garantir a galinhada que prepara pessoalmente, sempre chamando os amigos, na Vila que lhe deu o sobrenome.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

QUEM DIRIA, HEIN? ESTE PAÍS ESTÁ MELHORANDO

O projeto Ficha Limpa passou no Senado. Políticos condenados pela Justiça, mesmo em processos ainda não concluídos, estão impedidos de se candidatar. Agora só falta a sanção presidencial para que a lei entre em vigor antes das eleições. Quem diria que os brasileiros seriam capazes de construir um país melhor, hein? Próxima parada para manter o ritmo desse avanço: a votação dos projetos do pré-sal.

domingo, 16 de maio de 2010

RÁRÁRÁRÁI, QUASE CHEGUEI LÁ, LOMBAAARDI!


Lembram disso? A jornalista Marina Motta ainda estava no berço, mas lembra perfeitamente de ter visto essa propaganda eleitoral na TV. Na época em que pintava o cabelo de preto, Sílvio Santos tentou concorrer a presidente da República, mas teve a candidatura impugnada. A favor do Sílvio diga-se que ele era (ou ainda é) o rico que pagava (ou ainda paga) mais Imposto de Renda no país. Diga-se também a favor dele que... bom, acho que era só isso. Mas, cá entre nós, basta para mostrar que os endinheirados do Bananão não estão nem aí para o Fisco. Na época em que meu amigo Cezar Motta, também jornalista e pai da Marina, cobriu as férias do Lombardi (falecido recentemente), ele me contou que foi com o Sílvio que aprendeu o tom certo de acaju que chegou a usar, durante poucos dias. O produto parou de ter efeito porque o Cezão tinha a mania de coçar as madeixas com frequência. Mas a receita foi passada adiante e atualmente é usada por um amigo comum chamado Wallace.

terça-feira, 11 de maio de 2010

PROPOSTA INDECENTE NA VÉSPERA DOS 23 DE DUNGA



Na véspera da convocação dos 23 jogadores que vão à Copa, uma proposta indecorosa foi feita na Câmara dos Deputados. O líder do governo, Cândido Vaccarezza (PT-SP), e o da oposição, João Almeida (PSDB-BA), esses dois folgados aí em cima, o petista risonho e o tucano barbudo, quiseram antecipar o recesso na Câmara dos Deputados para que os ilustres parlamentares pudessem ver os jogos da Copa. Ficariam MAIS DE UM MÊS coçando os bagos, como dizia dona Adelina, minha vó, a portuguesa mais desbocada do bairro da Abolição. Não basta parar o batente na hora dos jogos? Pensando bem, que batente? A maioria ali só trabalha de terça a quinta, alguns nem isso! O presidente da Câmara, ainda bem, foi contra, mas também não escapou de falar asneira. Segundo Michel Temer, a proposta é inviável, “apesar de patriótica”. Patriótica é o cacete! Adoro futebol, vejo os jogos da Copa, mas não me acho patriota por causa disso. A inversão de valores que a gente vê nas ruas, e muita gente só vê isso no pessoal mais jovem, vem de maus exemplos como o que essa dupla quis dar. Será que Vaccarezza e Almeida mandaram os filhos suspenderem os estudos durante um mês por causa da Copa? Será que vão dar folga à empregada durante um mês? Suas respectivas madames vão ficar mais de um mês sem ir às compras porque todo o pessoal empregado no comércio vai parar MAIS DE UM MÊS para acompanhar o Mundial? Esses caras vivem em que mundo, hein? Que país os vagulinos querem construir? Vão trabalhar, vagabundos!

sábado, 1 de maio de 2010

BOLA FORA DO SUPREMO. O MEP TINHA RAZÃO


Nos idos de 1976/1979, em brados durante manifestações de rua, em cartazes e nas pichações de muros feitas com uma caneta hidrocor da marca Pilot, que o pessoal chamava de pincel atômico, o Rio de Janeiro e o Brasil tomaram conhecimento de duas palavras de ordem contra a ditadura – “Pelas liberdades democráticas” e “Anistia ampla, geral e irrestrita”.
Nesta época, eu estudava na Universidade Federal Fluminense e era quase militante de uma organização clandestina chamada Movimento pela Emancipação do Proletariado. Quase porque eu era indisciplinado (quem me conhece não vai se horrorizar, porque continuo o mesmo) e, embora nunca tenha faltado aos pontos, comecei a discordar do grupo.
Por quê? É que, na contramão do movimento estudantil, o MEP repudiava as duas palavras de ordem. Como é que alguém pode ser contra anistia? E contra as liberdades democráticas? O MEP era e a explicação que seus dirigentes nos davam era a de que anistia significava perdão, e ninguém queria pedir perdão à ditadura. No caso da outra palavra de ordem, “Pelas liberdades democráticas”, o motivo que o pessoal do MEP dava para não fazer coro com o restante da esquerda era o de que tais liberdades eram burguesas.
Isso eu achei bobagem na época e continuo achando. Porém, no caso da anistia ampla, geral e irrestrita, o MEP estava coberto de razão. A vitória dessa palavra de ordem nos idos de 1979 deu nesse julgamento em que o STF, por sete votos a dois, manteve o texto original da lei que favoreceu os torturadores.
Daí vai que quem ficou na contramão da história, neste caso, foi o Brasil. Enquanto argentinos e chilenos julgaram Pinochet, Videla e outros genocidas, enquanto sobreviventes dos campos de concentração jamais desistiram de levar aos tribunais os criminosos nazistas, aqui no Brasil quem pediu o cumprimento da Justiça nesses casos foi rotulado de revanchista.
O MEP merece mesmo uma festa por seus 40 anos. Tô nessa!

Na foto, a manifestação pela absolvição dos 17 militantes do grupo, no dia em que estavam sendo julgados por uma Auditoria da Aeronáutica, em 1977 (ou 78?). No velho gramofone, um sucesso da época em homenagem ao Luiz Arnaldo, à Fernanda, ao Fred, à Margareth, entre outros que foram em cana, e também ao Nilo, à Analéa, ao Nilton Santos, ao Déo, ao Luciano Batatinha e demais ex-integrantes daquela turma aguerrida.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

DO GUARANI AO GUARANÁ E ÀS CONTAS EXTERNAS


Brasília completou 50 anos ontem. Parabéns, etc. e tal, mas como não sou chegado a Brasília (me desculpem seus nativos), prefiro comemorar hoje os 510 anos do Brasil.
Não sei a história que existe por trás da marchinha História do Brasil, que Lamartine Babo compôs para o carnaval de 1934, mas essa música foi a grande responsável por um erro histórico – o Brasil foi descoberto em 22 de abril de 1500, não no dia 21 de abril. Não sei quem errou, se foi o genial Lamartine, se foi quem cantou a marchinha pela primeira vez, ou seja, Henrique Foréis Domingues, o cantor conhecido como Almirante.
O fato é que a data que ficou gravada no inconsciente brasileiro é 21 de abril. Mas o país é de 22, não de 21.
Dito isso, que pensando bem não tem a menor importância, vamos à notícia mais recente sobre o Brasil nesta tarde de 22/4, que é uma notícia negativa.
Chega a ser engraçado isso. Na TV hoje, e nos jornais de amanhã, 23/4, foi (e será) dado grande destaque à má notícia de que as contas externas do país tiveram o maior déficit no primeiro trimestre desde o ano de 1947, “um rombo de US$ 12,1 bilhões”.
Por que estou rindo? É porque também hoje, nos portais jornalísticos da internet, a notícia mais recente sobre o Brasil é positiva. Diz que as aplicações de estrangeiros em ações na bolsa significaram o maior valor para um primeiro trimestre desde o ano de 1947, “num total de US$ 5 bilhões”.
As duas notícias vieram da mesma fonte: o Banco Central.
Segundo o banco, esses recursos estrangeiros no mercado de ações, somados aos investimentos estrangeiros diretos, serão utilizados para financiar o déficit das contas externas previsto para este ano, e que já se fez sentir no primeiro trimestre.
Também segundo o banco, e os noticiários de TV estranharam muito, a queda nas contas externas no primeiro trimestre está relacionada com o crescimento da economia brasileira. Com a economia crescendo mais, aumentam as importações e, com isso, o resultado positivo da balança comercial fica menor.
Ou seja, a boa e a má notícia são, literalmente, as duas faces da mesma moeda. Ambas são a pior e a melhor notícia desde o mesmíssimo ano de 1947. No entanto, foi conveniente para nossa mídia editá-las e distribuí-las para o grande público da seguinte maneira: embora a boa e a má notícia façam parte do mesmo contexto...
... o grande público que assiste TV e passa em frente à banca de jornal para ver a manchetona do jornal, só viu hoje ou vai ler amanhã o lado negativo da mesma notícia. Ou seja, o grosso do eleitorado está sendo induzido a crer que – ó meu Deus! – estamos indo mal, muito mal...
... já os leitores de jornais online, mais bem dotados de massa crítica, foram aquinhoados com o lado positivo. Como esses leitores, acredita-se, são muito poucos e mais bem informados, não tem importância dizer a verdade. Ou seja, estamos indo bem, muito bem...
Voltando à vaca fria: o engano do Lamartine Babo sobre o dia do descobrimento, pelo menos, não teve nenhuma intenção de convencer ninguém a votar num ou noutro candidato a presidente da República.
Na imagem, a primeira missa na imaginação de Vitor Meirelles. No som, a marchinha de Lalá cantada por Almirante.

domingo, 11 de abril de 2010

CIDINHA CAMPOS: "A CORRUPÇÃO ESTÁ NO DNA"


A corrupção não é invenção brasileira, mas às vezes até parece ser. No Rio de Janeiro, historicamente mal servido de políticos desde, pelo menos, a mudança da capital para Brasília, em 1960, a velhacaria infesta, impera e prospera. A corrupção pode ser nacional, sistêmica, endêmica, pluripartidária e hereditária. Mas estamos falando do Rio e aqui, como diz a deputada estadual Cidinha Campos, ela vem até no DNA. É por isso que o Rio perde tanto, apanha tanto, no Parlamento Nacional, onde oportunistas como Geddel Lima conseguem emplacar 61% das verbas federais para, supostamente, ajudar o povo da Bahia a enfrentar os desastres naturais, enquanto as bancadas cariocas na Câmara e no Senado nada fazem e, por isso, apenas 1% desses recursos são destinados ao estado. Ou como o gaúcho Ibsen Pinheiro, que hoje tenta inviabilizar a própria existência do Rio com sua emenda sobre o petróleo. Felizmente existem ainda poucos, como Cidinha. Notem como sua voz, sua emoção e sua indignação são recebidas inicialmente com chacotas e risinhos abafados, e logo depois tudo isso vira um silêncio enorme. Um erro qualquer tirou o vídeo e o texto do ar. O vídeo voltou, o texto é quase o mesmo.

terça-feira, 30 de março de 2010

O PROGRAMA DE GOVERNO DO PSDB


A campanha presidencial está chegando. Ou melhor, já chegou. Em resposta ao texto anônimo sobre futuras negociações do Lula, chegou à caixa postal do blog outra contrapropaganda divertida, desta vez em forma de vídeo e tendo como tema o programa de governo do Serra. Gostei sobretudo quando o cantor se refere a emprego e renda. Como diz a torcida do América, queremos sangue! Mas com humor, sempre!

segunda-feira, 29 de março de 2010

ANÔNIMO: LULA NEGOCIA O FIM DO PECADO ORIGINAL


Não sou chegado a reproduzir o que a gente recebe diariamente pela internet – muito lixo e algumas pepitas. Vou abrir exceção para esta bela gozada anônima. Se alguém souber a autoria, avise para entrar o crédito. Boas histórias não têm ideologia. Na vitrolinha, José Carreras.

PARAÍSO – Depois da bem-sucedida missão no Oriente Médio, onde conseguiu estabelecer uma paz duradoura entre judeus e palestinos, Lula declarou que intercederá junto a Deus Pai para que Ele nos perdoe de uma vez por todas pelo pecado original.
A caminho de Barcelona, onde pretende resolver a questão basca, Lula disse que é preciso chamar o Misericordioso para o diálogo.
“Chega de tratar o Supremo Arquiteto como um ente distante e poderoso. Durante muito tempo vivemos com esse complexo de vira-lata em relação a Ele. Está na hora de acabar com isso e conversar de homem para Deus”, disse Lula, enquanto negociava um acordo entre os armênios e os turcos.
Segundo os termos da proposta, em troca do perdão o Verbo Encarnado receberá três bolsas-família pelo resto da eternidade.
“Não faz sentido a gente discutir se é verdade ou não essa história da Santíssima Trindade. Perdoou, recebeu por três”, explicou o presidente.
Lula deixou claro que não negociará com o Arcanjo Gabriel nem com São Pedro, como sugeriram algumas agências de notícia.
“Só falo com o Bem Absoluto. É uma questão de protocolo.”
Para o presidente, o Arcanjo Gabriel não passa de um “sub do sub”, e São Pedro, apesar de simpático, no fundo seria apenas um porteiro qualificado.
“Não tenho tempo a perder”, explicou Lula, que até o fim da tarde pretende anunciar um armistício entre Suzana Vieira e todos os seus ex-maridos.
Aproveitando a ocasião, a ministra Dilma Rousseff confirmou que proporá a criação de uma estatal para explorar o mel e o maná que emanam do céu.
Rousseff acrescentou que não procedem as notícias de que José Dirceu fará a indicação do diretor responsável pelo fundo de pensão da nova empresa.
Em notícia paralela, após longas conversas com a serpente, o assessor da Presidência Marco Aurélio Garcia concluiu que o réptil não passa de uma vítima da imprensa burguesa.

segunda-feira, 22 de março de 2010

SERRA: TODOS QUEREM SER HERDEIROS DO LULA


A primeira ou uma das primeiras cenas da minissérie “Os anos rebeldes”, que a Globo levou ao ar em 1980 e qualquer coisa, mostrava um grupo de estudantes reunidos nos anos 60. Um deles deu a má notícia: “Prenderam o Serra!”.
Muita gente pensou que se tratava de José Serra, hoje governador de São Paulo e candidato a presidente, mas era outro Serra, o professor Antônio Amaral Serra, hoje professor de Filosofia da UFF.
Conheci o Serra em 1973, quando foi professor de minha turma no curso de Comunicação do IACS, na UFF. Um dos melhores, aliás. Depois de algum tempo passamos a frequentar o mesmo boteco, na pracinha de São Domingos, em Niterói. Serra sempre foi um papo e tanto. Há tempos que não o vejo, mas a internet e os e-mails nos aproximam sempre que um assunto vale a pena.
Foi o que aconteceu um dia desses e o mote foi o texto de uma coluna do Estadão, que ambos assinamos, em que Dora Kramer escreveu sobre as linhas gerais da candidatura do outro Serra.
José Serra elegeu o conceito do “Estado ativo” como fio condutor de seu programa de governo. Segundo Dora Kramer, ele se apresentará como defensor de algo que define como “meio termo entre o poderoso Estado Nacional Desenvolvimentista do passado e o Estado da pasmaceira, avesso à produção”.
Serra, o Antônio, disse-me estar com “a impressão seresteira de que esta próxima eleição será disputada pelos candidatos a herdeiro do Lula. Nenhum se apresenta como discordante ou oposição; ao contrário, oferecem-se como os melhores para fazer melhor o que Lula fez bem! Caso assim seja, nossas eleições serão um caso singular em um país livre e democrático...”.
Afinal, quem é o herdeiro do Lula? Dilma é apontada pelo presidente como a herdeira oficial. Serra, Marina e Ciro, por mais críticas que façam, também são candidatos ao espólio político lulista. Espólio? Não é bem assim. Lula já deixou bem claro que quer suceder o vencedor de 2010. E aí, como ficamos?
Será uma eleição diferente como nunca antes na história, para citar um autor da moda. O que todos esses candidatos têm em comum, além de se apresentarem como neo-Lulas, é que todos são pianos de cauda alemães. Ou seja, candidatos pesados, difíceis de carregar numa campanha. Por mais esforço que façam, nenhum deles é bom para segurar bochecha de criança, comer buchada de bode para agradar sertanejo, beber uma pinga da boa para deixar mineiro feliz, e assim por diante.
E é justamente isso que me agrada nesta próxima eleição. Inicialmente eu estava dividido, torcendo pela Dilma e pelo Serra. Hoje, definitivamente, tenho certeza de que votarei na Dilma, mas nem por isso deixei de ter boa impressão do Serra, o José.
“Serra é mais estatizante e intervencionista que Lula. Lula foi líder sindical e perdeu o medo de empresário, sabe negociar e pressionar. Veja como o governo constrangeu empresas durante a crise em relação a emprego e o caso da Vale. Ele sabe que assumir empresa é assumir só ônus”, me diz o Antônio Serra, que tem história de bom avaliador.
Filho de meteorologista, o Serra com quem já fui a botecos aprendeu com tempo bom e com tempo ruim. Foi presidente do Caco – o centro acadêmico da Faculdade de Direito da então Universidade do Brasil, hoje UFRJ – e, entre muitas boas sacadas, apoiou o colega que o sucedeu no cargo, Vladimir Palmeira, que não queria o cargo de jeito nenhum porque o negócio dele – era o que imaginava – nunca foi falar em público.
Serra, o Antônio, deu o toque que o cara precisava para desembestar e se tornar o principal líder estudantil carioca dos anos da ditadura. “Vladimir, faz o seguinte. Sobe agora ali no décimo degrau da escadaria da faculdade e começa a falar. Começa a falar agora, qualquer coisa”. E foi assim, está até registrado na história do movimento estudantil da década de 1960, que Vladimir Palmeira tomou gosto e nunca mais parou de falar.
Por esta e outras respeito muito as sacadas do Serra. Em outro e-mail, ele lembrou que, terminada a Segunda Guerra Mundial, chegou a notícia de que Churchill, um dos principais responsáveis pela vitória sobre o nazismo, perdera a eleição para primeiro-ministro. “É possível que Stalin tenha cofiado os bigodes e comentado ao pé do ouvido do Molotov como esses ocidentais são tolos e deixam escapar o poder justamente na hora em que melhor poderiam usufruí-lo”.
Serra, o José, está fazendo exatamente o que Lula fez para ganhar a primeira eleição presidencial. Em vez de falar mal de Fernando Henrique Cardoso, quase apresentou-se como herdeiro. Na segunda eleição, já era quase visto como o pai do Real.
A história se repete agora. Com uma diferença. Lula praticamente se dizia a continuação de Fernando Henrique. Já seus adversários nas duas eleições, José Serra e Geraldo Alkmin nem de longe se identificavam com o antecessor Fernando Henrique. Eis a diferença: nesta eleição de 2010, todos os candidatos viáveis – Dilma, Serra, Ciro e Marina – podem ser percebidos pelo público como continuadores de Lula. Aécio Neves, que tem sido bajulado para ser o vice de Serra, também joga no time.
Vá lá que Aécio tope ser vice de Serra (parece difícil hoje, mas em política nada é impossível de acontecer), neste caso serão dois “Pós-Lula” na mesma chapa.
Mas só um candidato, ou melhor, uma candidata, é apontada pelo próprio Lula como sua preferida. Sendo assim, a estratégia de tucanos, verdes e – quem sabe? – socialistas tem tudo para morrer antes de chegar na praia.
Na vitrolinha, "Nem às paredes confesso", com Amália Rodrigues.

quarta-feira, 17 de março de 2010

CONCEIÇÃO, OU CONCESSÃO, EU ME LEMBRO MUITO BEM...


O Rio de Janeiro não deve vir antes do Brasil. E nem o Brasil pode vir antes do Rio. Só concordo, em parte, com uma frase dita pelo autor dessa emenda que prejudica os cariocas e fluminenses. Justamente com sua frase mais infeliz em meio ao arranca-rabo: não existem estados produtores, mas estados que têm vista para o mar. Ibsen Duguay-Trouin Pinheiro tem certa razão nisso, repetindo, tem razão em parte.
O Estado que produz petróleo é o Estado brasileiro. No entanto, os estados cujos litorais têm petróleo precisam, sim, de algo mais para ter condições de segurar a peteca social, a peteca ambiental e demais consequências deste verdadeiro esforço de guerra que é a produção de petróleo de gente grande – o que vai ocorrer com a viabilização do pré-sal.
Como sempre acontece, a utilização política desse tesouro que é de todos põe sempre tudo a perder. Da mesma forma como me enojam esses prefeitos fluminenses que usam os royalties para embelezarem suas pracinhas e calçadões, o asco é maior ainda em relação aos milhares de prefeitos e governadores do resto do país que querem fazer a mesmíssima coisa quando participarem do butim. Aguenta porque a gastança vai ser infinitamente maior. Basta multiplicar por 5.500 e mais alguma coisa - o total dos municípios brasileiros.
Não vou a passeata organizada pelo governo, e não é só porque o governo organiza e nem porque está chovendo a pampa. Não vou porque essa gente toda que organiza, e os garotinhos municipais que estão nessa também, teriam apoiado integralmente a emenda do pirata Ibsen se fossem gaúchos, nordestinos, mineiros ou amapaenses.
O Rio de Janeiro deve reagir a esse butim que, posso estar enganado, tem toda a pinta de golpe sujo para liquidar com a fórmula da partilha (que é melhor para o país) e manter o atual modelo de concessão. Concessão - eu me lembro muito bem - só na voz do Cauby. É assim que vai acabar esse filme. Basta ler o que anda dizendo nas entrelinhas o Dornelles, escolhido para liderar “nosso time” na próxima rodada.

Serra se omite, como bem lembra o minieditorial publicado na página 21 do caderno de Economia do Globo de hoje, 17/3. Lula e Dilma devem ficar atentos e não somarem com a canalha ressentida que odeia o Rio.
São Sebastião que se cuide: vêm mais flechadas e bolas nas costas por aí!

domingo, 24 de janeiro de 2010

CARTA DA LEITORA ANITA AO GLOBO. COM SANFONA


"Tendo em vista matéria publicada em “O Globo” de hoje (p.4), intitulada “Comissão aprovará novas indenizações” e na qualidade de filha de Luiz Carlos Prestes e Olga Benario Prestes, devo esclarecer o seguinte:
Luiz Carlos Prestes sempre se opôs à sua reintegração no Exército brasileiro, tendo duas vezes se demitido e uma vez sido expulso do mesmo. Também nunca aceitou receber qualquer indenização governamental; assim, recusou pensão que lhe fora concedida pelo então prefeito do Rio de Janeiro, Sr. Saturnino Braga.
A reintegração do meu pai ao Exército no posto de coronel e a concessão de pensão à família constitui, portanto, um desrespeito à sua vontade e à sua memória. Por essa razão, recusei a parte de sua pensão que me caberia.
Da mesma forma, não considerei justo receber a indenização de cem mil reais que me foi concedida pela Comissão de Anistia, quantia que doei publicamente ao Instituto Nacional do Câncer.
Considerando o direito, que a legislação brasileira me confere, de defesa da memória do meu pai, espero que esta carta seja publicada com o mesmo destaque da matéria referida.
Atenciosamente,
Anita Leocádia Prestes

RJ, 13/01/2010".
Na sanfona virtual de Luiz Gonzaga, "Vozes da seca".

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

E O ADEMAR, HEIN? QUEM DIRIA... HOJE TEM GENTE PIOR


A imagem mais antiga que eu guardo é a de um rádio branco no quarto da casa onde morávamos, no bairro paulistano da Aclimação. Eu devia ter uns três anos e era neste quarto que ficava meu berço, cuja madeira, me contaram, certa vez lustrei com cocô. Pode ser viagem, mas lembro de ter ouvido o Ademar de Barros falando naquele rádio. Talvez porque alguém comentou que era o Ademar falando.
Ademar hoje é tido como decano dos corruptos, mas tinha sua grandeza. A expressão “rouba, mas faz” surgiu por causa dele. O Ademar era tão sacana que certa vez, “injustamente acusado” de alguma patifaria, foi ao rádio e fez uma peroração mais ou menos assim:
“Se cai uma tempestade em São José dos Campos, a culpa é do Ademar. Se tem enchente no Tietê, a culpa é do Ademar. Ontem eu li que uma chenhora (ele falava assim) deu a luz a trigêmeos em Chorocaba. Antes que me acujem de alguma coisa, gostaria de dizer a todos vochês, e juro por Nocha Chenhora Aparechida, que não piso em Chorocaba há quase um ano e meio”.
Havia também um retrato enorme de Ademar de Barros no Flor do Rio, bar, bilhar e restaurante do meu avô, na pequena Propriá, em Sergipe, à beira do São Francisco. Vovô era politicamente ingênuo. Naquele bar, dizem, o legendário Carne Frita, filho da terra, aprendeu a matar a sete. O Flor do Rio não existe mais. Hoje, o prédio abriga o Fórum de Propriá. Meu avô morreu há um tempão. E o Carne Frita, também.
Já os corruptos, desde o Ademar, ficaram cada vez mais ousados. Este escândalo dos panetones e do dinheiro na meia, lá em Brasília, só chateia os eleitores. Os ditos cujos, Arruda e companhia bela, não parecem se incomodar nem um pouco. Afinal, são eles que fazem as leis que acobertam toda sorte de ilícitos que praticam. Como diria o Boris Casoy – aquele que vai sair no carnaval da Sapucaí abraçado com o gari Sorriso – “isto é uma vergonha!”.
Na foto, tirada em 1947, Ademar é o de bigode. No som, um clássico de Noel Rosa, na voz de Beth Carvalho: "Onde está a honestidade?".

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

LEI SECA QUESTIONADA... PELA JUSTIÇA!

Motorista bêbado que atropela, colide, mata, enfim, bebum que usa o volante como arma e comete infração grave tem mais é que levar multa alta, perder a carteira, ser impedido de dirigir pelo resto da vida.
Fazer caixa para estados e prefeituras à custa de bons motoristas que não têm ficha suja e não fizeram mal a ninguém, mas que não passaram no teste do bafômetro, este é o absurdo!
Acabam de me enviar a seguinte notícia. Bom sinal.
"A 8ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio rejeitou a denúncia do Ministério Público estadual contra um réu acusado de conduzir um veículo automotor sob a influência de álcool. De acordo com o desembargador Gilmar Augusto Teixeira, relator do processo, comprovar uma porcentagem de álcool no sangue maior que a permitida na lei não é suficiente para a acusação. Para ser considerado crime, é necessário que o motorista tenha uma conduta anormal que demonstre que ele esteja de fato sob influência da droga.
José Rodrigues da Silva Filho foi abordado no dia 22 de maio deste ano por policiais durante uma blitz da Lei Seca, na Avenida Presidente Vargas. Submetido ao teste do bafômetro, ficou comprovado que ele estava dirigindo com uma concentração de álcool por litro de sangue superior a 6 decigramas. A denúncia, contudo, não descreve o comportamento de José no momento da ação.
"A denuncia é absoluta inepta por não descrever o comportamento fático caracterizador da denominada direção anormal, sendo tal descrição elemento indispensável para que se possa falar em ofensa ao bem jurídico. Ter ingerido álcool e mais nada constitui apenas uma infração administrativa", declarou o desembargador em seu voto".

sábado, 28 de novembro de 2009

FILHO DO BRASIL, FILHO DA PUTA, MOLEQUE INDIGESTO!


Dois personagens de nossa história política, uma história suja que foi contada na “Folha de S. Paulo” e outra versão, que saiu no portal Terra.
O primeiro personagem é o atual presidente da República, que tem feito bom governo e, possivelmente, elegerá seu sucessor ou sucessora. Digo “possivelmente”, que é diferente de “provavelmente” e está ainda mais longe de “certamente”.
Lula, possivelmente, elegerá Dilma ou outro candidato à sua sucessão porque a eleição de 2010 será decidida pelo bolso do eleitor, pelo desempenho da economia, pelo protagonismo do Brasil 500 anos e quebrados depois das caravelas. Não será uma eleição decidida por questões morais ou, melhor, moralistas.
Ainda não vi o filme de Fábio Barreto, mas Lula é, sim, um filho do Brasil e é, também, um moleque. Um moleque indigesto, como na marchinha de Lamartine Babo (liga o som e ouve a Carmen Miranda), enfim, é um bom filho da puta. Motivos não faltam: o que mais pega hoje é seu sucesso. Tanto sucesso que virou filme.
É só um filme, vá lá!, um filme de propaganda, que pode ou não ter papel importante na campanha de 2010. Se tiver, ótimo, contrabalança um pouco o tiroteio pesado de quase toda a mídia mirando o projeto de Lula de fazer a própria sucessão.
O segundo personagem, César Benjamin, também é um filho do Brasil. Não é um moleque, não é um filho da puta, até porque felizmente nunca chegou ao poder. Concorreu uma vez a vice-presidente sabendo que perderia. É só um intelectual moralista que levou 15 anos para fazer sua catarse em público. Tinha uma missão na época – eleger Lula presidente – e ficou feliz da vida porque um marqueteiro americano chato que enchia o saco dele saiu de cena para que ele pudesse continuar trabalhando na campanha daquele mesmo cara que revoltou seu estômago ao contar uma passagem escabrosa na cadeia.
Poderia ter largado aquela campanha de merda na mesma hora em que ouviu a história suja, mas pelo que entendi continuou na campanha, saindo do partido um ano depois.
A história realmente é suja. E foi ouvida também por um publicitário que Cesar Benjamin não lembra quem era. O publicitário é o hoje cineasta Sílvio Tendler, que confirmou ter ouvido o relato de Lula sobre a suposta tentativa de currar “um menino do MEP” quando ambas estavam na cadeia. Em entrevista ao repórter Bob Fernandes, do portal Terra, Tendler dá outra versão:
“... pensa só uma coisa: você acha que o Lula, logo o Lula, tão “pouco esperto” como ele é, em meio a uma campanha presidencial, vai chegar na frente de um gringo que ele mal conhecia, um gringo que vai voltar pro país dele e contar tudo o que viu, você acha que o Lula vai chegar pra um gringo que nunca viu, na frente de testemunhas, e vai contar que tentou estuprar alguém? É, foi óbvio, evidente, que aquilo era gozação, piada, brincadeira, sem nada desse drama todo do Benjamin de agora... rimos e ninguém deu a menor importância aquilo...”.
Para o cineasta, ex-publicitário, o autor do texto publicado pela Folha merece um troféu: “O César Benjamin guardou ressentimentos por 15 anos para agora despejar todo esse rancor. Ele pirou com o sucesso do Lula. Ele transformou uma piada num drama, vai ganhar o troféu Loura do Ano”.
Realmente uma história suja, uma piada do Bocage, de papagaio, de português burro ou de loura. Tem outra história: é a dessa campanha de 2010 que mal começou e que promete ser a mais suja desde a de 1989, com o caso Miriam, ou a de 1946, que o brigadeiro Eduardo Gomes perdeu porque lhe atribuíram algo que nunca disse – chamar os eleitores de seu adversário de “marmiteiros”.
O chumbo grosso só começou.


Abaixo, os textos de César Benjamin na Folha e de Bob Fernandes no Terra

Os filhos do Brasil
César Benjamin

"A prisão na Polícia do Exército da Vila Militar, em setembro de 1971, era especialmente ruim: eu ficava nu em uma cela tão pequena que só conseguia me recostar no chão de ladrilhos usando a diagonal. A cela era nua também, sem nada, a menos de um buraco no chão que os militares chamavam de "boi"; a única água disponível era a da descarga do "boi". Permanecia em pé durante as noites, em inúteis tentativas de espantar o frio. Comia com as mãos. Tinha 17 anos de idade. Um dia a equipe de plantão abriu a porta de bom humor. Conduziram-me por dois corredores e colocaram-me em uma cela maior onde estavam três criminosos comuns, Caveirinha, Português e Nelson, incentivados ali mesmo a me usar como bem entendessem. Os três, porém, foram gentis e solidários comigo. Ofereceram-me logo um lençol, com o qual me cobri, passando a usá-lo nos dias seguintes como uma toga troncha de senador romano. Oriundos de São Paulo, Caveirinha e Português disseram-me que "estavam pedidos" pelo delegado Sérgio Fleury, que provavelmente iria matá-los. Nelson, um mulato escuro, passava o tempo cantando Beatles, fingindo que sabia inglês e pedindo nossa opinião sobre suas caprichadas interpretações. Repetia uma ideia, pensando alto: "O Brasil não dá mais. Aqui só tem gente esperta. Quando sair dessa, vou para o Senegal. Vou ser rei do Senegal". Voltei para a solitária alguns dias depois. Ainda não sabia que começava então um longo período que me levou ao limite. Vegetei em silêncio, sem contato humano, vendo só quatro paredes -"sobrevivendo a mim mesmo como um fósforo frio", para lembrar Fernando Pessoa- durante três anos e meio, em diferentes quartéis, sem saber o que acontecia fora das celas. Até que, num fim de tarde, abriram a porta e colocaram-me em um camburão. Eu estava sendo transferido para fora da Vila Militar. A caçamba do carro era dividida ao meio por uma chapa de ferro, de modo que duas pessoas podiam ser conduzidas sem que conseguissem se ver. A vedação, porém, não era completa. Por uma fresta de alguns centímetros, no canto inferior à minha direita, apareceram dedos que, pelo tato, percebi serem femininos. Fiquei muito perturbado (preso vive de coisas pequenas). Há anos eu não via, muito menos tocava, uma mulher. Fui desembarcado em um dos presídios do complexo penitenciário de Bangu, para presos comuns, e colocado na galeria F, "de alta periculosia", como se dizia por lá. Havia 30 a 40 homens, sem superlotação, e três eram travestis, a Monique, a Neguinha e a Eva. Revivi o pesadelo de sofrer uma curra, mas, mais uma vez, nada ocorreu. Era Carnaval, e a direção do presídio, excepcionalmente, permitira a entrada de uma televisão para que os detentos pudessem assistir ao desfile. Estavam todos ocupados, torcendo por suas escolas. Pude então, nessa noite, ter uma longa conversa com as lideranças do novo lugar: Sapo Lee, Sabichão, Neguinho Dois, Formigão, Ari dos Macacos (ou Ari Navalhada, por causa de uma imensa cicatriz que trazia no rosto) e Chinês. Quando o dia amanheceu éramos quase amigos, o que não impediu que, durante algum tempo, eu fosse submetido à tradicional série de "provas de fogo", situações armadas para testar a firmeza de cada novato.Quando fui rebatizado, estava aceito. Passei a ser o Devagar. Aos poucos, aprendi a "língua de congo", o dialeto que os presos usam entre si para não serem entendidos pelos estranhos ao grupo. Com a entrada de um novo diretor, mais liberal, consegui reativar as salas de aula do presídio para turmas de primeiro e de segundo grau. Além de dezenas de presos, de todas as galerias, guardas penitenciários e até o chefe de segurança se inscreveram para tentar um diploma do supletivo. Era o que eu faria, também: clandestino desde os 14 anos, preso desde os 17, já estava com 22 e não tinha o segundo grau. Tornei-me o professor de todas as matérias, mas faria as provas junto com eles. Passei assim a maior parte dos quase dois anos que fiquei em Bangu. Nos intervalos das aulas, traduzia livros para mim mesmo, para aprender línguas, e escrevia petições para advogados dos presos ou cartas de amor que eles enviavam para namoradas reais, supostas ou apenas desejadas, algumas das quais presas no Talavera Bruce, ali ao lado. Quanto mais melosas, melhor.Como não havia sido levado a julgamento, por causa da menoridade na época da prisão, não cumpria nenhuma pena específica. Por isso era mantido nesse confinamento semiclandestino, segregado dos demais presos políticos. Ignorava quanto tempo ainda permaneceria nessa situação. Lembro-me com emoção -toda essa trajetória me emociona, a ponto de eu nunca tê-la compartilhado- do dia em que circulou a notícia de que eu seria transferido. Recebi dezenas de catataus, de todas as galerias, trazidos pelos próprios guardas. Catatau, em língua de congo, é uma espécie de bilhete de apresentação em que o signatário afiança a seus conhecidos que o portador é "sujeito-homem" e deve ser ajudado nos outros presídios por onde passar.Alguns presos propuseram-se a organizar uma rebelião, temendo que a transferência fosse parte de um plano contra a minha vida. A essa altura, já haviam compreendido há muito quem eu era e o que era uma ditadura. Eu os tranquilizei: na Frei Caneca, para onde iria, estavam os meus antigos companheiros de militância, que reencontraria tantos anos depois. Descumprindo o regulamento, os guardas permitiram que eu entrasse em todas as galerias para me despedir afetuosamente de alunos e amigos. O Devagar ia embora.

São Paulo, 1994. Eu estava na casa que servia para a produção dos programas de televisão da campanha de Lula. Com o Plano Real, Fernando Henrique passara à frente, dificultando e confundindo a nossa campanha.Nesse contexto, deixei trabalho e família no Rio e me instalei na produtora de TV, dormindo em um sofá, para tentar ajudar. Lá pelas tantas, recebi um presente de grego: um grupo de apoiadores trouxe dos Estados Unidos um renomado marqueteiro, cujo nome esqueci. Lula gravava os programas, mais ou menos, duas vezes por semana, de modo que convivi com o americano durante alguns dias sem que ele houvesse ainda visto o candidato.Dizia-me da importância do primeiro encontro, em que tentaria formatar a psicologia de Lula, saber o que lhe passava na alma, quem era ele, conhecer suas opiniões sobre o Brasil e o momento da campanha, para então propor uma estratégia. Para mim, nada disso fazia sentido, mas eu não queria tratá-lo mal. O primeiro encontro foi no refeitório, durante um almoço. Na mesa, estávamos eu, o americano ao meu lado, Lula e o publicitário Paulo de Tarso em frente e, nas cabeceiras, Espinoza (segurança de Lula) e outro publicitário brasileiro que trabalhava conosco, cujo nome também esqueci. Lula puxou conversa: "Você esteve preso, não é Cesinha?" "Estive." "Quanto tempo?" "Alguns anos...", desconversei (raramente falo nesse assunto). Lula continuou: "Eu não aguentaria. Não vivo sem boceta". Para comprovar essa afirmação, passou a narrar com fluência como havia tentado subjugar outro preso nos 30 dias em que ficara detido. Chamava-o de "menino do MEP", em referência a uma organização de esquerda que já deixou de existir. Ficara surpreso com a resistência do "menino", que frustrara a investida com cotoveladas e socos. Foi um dos momentos mais kafkianos que vivi. Enquanto ouvia a narrativa do nosso candidato, eu relembrava as vezes em que poderia ter sido, digamos assim, o "menino do MEP" nas mãos de criminosos comuns considerados perigosos, condenados a penas longas, que, não obstante essas condições, sempre me respeitaram. O marqueteiro americano me cutucava, impaciente, para que eu traduzisse o que Lula falava, dada a importância do primeiro encontro. Eu não sabia o que fazer. Não podia lhe dizer o que estava ouvindo. Depois do almoço, desconversei: Lula só havia dito generalidades sem importância. O americano achou que eu estava boicotando o seu trabalho. Ficou bravo e, felizmente, desapareceu.

Dias depois de ter retornado para a solitária, ainda na PE da Vila Militar, alguém empurrou por baixo da porta um exemplar do jornal "O Dia". A matéria da primeira página, com direito a manchete principal, anunciava que Caveirinha e Português haviam sido localizados no bairro do Rio Comprido por uma equipe do delegado Fleury e mortos depois de intensa perseguição e tiroteio. Consumara-se o assassinato que eles haviam antevisto. Nelson, que amava os Beatles, não conseguiu ser o rei do Senegal: transferido para o presídio de Água Santa, liderou uma greve de fome contra os espancamentos de presos e perseverou nela até morrer de inanição, cerca de 60 dias depois. Seu pai, guarda penitenciário, servia naquela unidade. Neguinho Dois também morreu na prisão. Sapo Lee foi transferido para a Ilha Grande; perdi sua pista quando o presídio de lá foi desativado. Chinês foi solto e conseguiu ser contratado por uma empreiteira que o enviaria para trabalhar em uma obra na Arábia, mas a empresa mudou os planos e o mandou para o Alasca. Na última vez que falei com ele, há mais de 20 anos, estava animado com a perspectiva do embarque: "Arábia ou Alasca, Devagar, é tudo as mesmas Alemanhas!" Ele quis ir embora para escapar do destino de seu melhor amigo, o Sabichão, que também havia sido solto, novamente preso e dessa vez assassinado. Não sei o que aconteceu com o Formigão e o Ari Navalhada. A todos, autênticos filhos do Brasil, tão castigados, presto homenagem, estejam onde estiverem, mortos ou vivos, pela maneira como trataram um jovem branco de classe média, na casa dos 20 anos, que lhes esteve ao alcance das mãos. Eu nunca soube quem é o "menino do MEP". Suponho que esteja vivo, pois a organização era formada por gente com o meu perfil. Nossa sobrevida, em geral, é bem maior do que a dos pobres e pretos. O homem que me disse que o atacou é hoje presidente da República. É conciliador e, dizem, faz um bom governo. Ganhou projeção internacional. Afastei-me dele depois daquela conversa na produtora de televisão, mas desejo-lhe sorte, pelo bem do nosso país. Espero que tenha melhorado com o passar dos anos. Mesmo assim, não pretendo assistir a "O Filho do Brasil", que exala o mau cheiro das mistificações. Li nos jornais que o filme mostra cenas dos 30 dias em que Lula esteve detido e lembrei das passagens que registrei neste texto, que está além da política. Não pretende acusar, rotular ou julgar, mas refletir sobre a complexidade da condição humana, justamente o que um filme assim, a serviço do culto à personalidade, tenta esconder".


Tendler: "Só um débil mental não viu que era piada do Lula"
Bob Fernandes
"César Benjamin, 55 anos, é ex-preso político e um dos fundadores do PT. Na sexta-feira, 27, Benjamin escreveu um artigo na Folha de S. Paulo e acusou o hoje presidente Lula de ter revelado, em 1994, uma tentativa de estupro dele, Lula, contra um "menino do MEP". Tentativa que teria acontecido em 1980, quando o então líder sindical Lula esteve preso por 30 dias, e na mesma prisão, com o jovem da organização de esquerda que já não existe, o MEP. César Benjamin cita, em seu texto, uma testemunha, "um publicitário brasileiro que trabalhava conosco cujo nome também esqueci".
O "publicitário" é o cineasta Silvio Tendler, que em 1994 trabalhou na campanha de Lula à presidência da República. De início, afirma Tendler:
- Ele diz não se lembrar de quem era o "publicitário", mas sabe muito bem que sou eu. Eu estava lá e vou contar essa história...
Sobre os fatos e a acusação, gravíssima, o cineasta, o documentarista Silvio Tendler conta o que viu e o que recorda daquele almoço em meio à campanha presidencial de 1994:
- Era óbvio para todos que ouvimos a história, às gargalhadas, que aquilo era uma das muitas brincadeiras do Lula, nada mais que isso, uma brincadeira. Todos os dias o Lula sacaneava alguém, contava piadas, inventava histórias. A vítima naquele dia era um marqueteiro americano. O Lula inventou aquela história, uma brincadeira, para chocar o cara...só um débil mental, um cara rancoroso e ressentido como o Benjamin, guardaria dessa forma dramática e embalada em rancor, durante 15 anos, uma piada, uma evidente brincadeira...
Silvio Tendler já fez cerca de 40 filmes, entre curtas, médias e longas-metragens. Além de vários prêmios é detentor das três maiores bilheterias de documentários na história do cinema brasileiro: "O Mundo Mágico dos Trapalhões" (1 milhão e 800 mil espectadores), "Jango" (1 milhão de espectadores) e "Anos JK" (800 mil espectadores).
Na 33ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, neste 2009, Silvio Tendler lançou o documentário "Utopia e Barbárie", no qual trabalhou durante 19 anos. Dentre os personagens ouvidos pelo documentarista mundo afora, o general vietnamita Vo Nguyen Giap, que derrotou os exércitos francês e americano. "Giap, o maior general do século XX", segundo o cineasta.
Na conversa que se segue, o documentarista Silvio Tendler recorda a história da história de Lula e o "menino do MEP".
- Terra Magazine - Silvio Tendler, é você o publicitário citado por César Benjamin no artigo na Folha de S.Paulo?
- Silvio Tendler - Eu mesmo, em pessoa.
- Você estava lá? Você, o Lula, o César Benjamin, o publicitário Paulo de Tarso e o tal marqueteiro dos Estados Unidos?
- Na verdade eu não me lembro é do César Benjamin lá no almoço (...) e, sim, o publicitário que ele diz não lembrar era eu. E ele, se estava lá, sabe e se lembra que era eu; não tinha mais três publicitários na campanha, portanto ele sabe que era eu quem estava lá...mas eu não sei se ele estava, não me lembro, de verdade, se ele tava na sala. Ele agora diz não se lembrar do "publicitário" porque sabe que eu não iria corroborar essa maluquice, até porque eu vi, testemunhei, a quantidade de erros, de bobagens que ele cometeu durante a campanha...
- Ele, César Benjamin?
- Ele, Benjamin...por exemplo: já tava tudo perdido, um dos poucos apoios que o Lula ainda tinha depois daqueles erros de ataques da campanha ao Plano Real, era o da Igreja. E de repente o César resolveu botar como pauta do dia o quê?
- O quê?
- O aborto! Só isso. Esse cara montava e desmontava os programas como se fosse um expert em comunicação... e não era. Me lembro de outra história dele. Tinham inventado uma legislação casuística, criada para segurar o Lula, que tinha feito aquelas caravanas pelo Brasil. Não podia ter imagem externa em movimento... então fizemos um video-clip, eu e minha ex-mulher, a jornalista Tânia Fusco. Ela fez o texto, e eu, com as fotos dele na caravana e outras imagens, fiz, fizemos um clip, uma biografia do Lula a partir de fotos...
- E aí?
- Aí fui dar aula no Rio de Janeiro por dois dias, o comando da campanha era em São Paulo, e quando voltei o clip estava desfigurado pelo gênio da comunicação. Onde havia poesia o César colocou chavões do tipo "arrocho salarial"...
- Por quê?
- Porque se acha um gênio, melhor do que todo mundo... peguei meu boné e fui embora pro Rio...
- E o César?
- Ele continuou com suas trapalhadas. E quinze anos depois ele segue em campanha, agora contra o Lula diretamente. Ele atrapalhou o Lula em 94 e segue tentando atrapalhar o Lula.
- Ok, esses detalhes à parte, você estava à mesa do almoço no dia da tal conversa do Lula?
- Eu estava lá, sentado à mesa. Eu sou o publicitário "anônimo" que estava lá. O Lula, um cara que foi brincalhão durante toda a campanha, mesmo quando já tava tudo perdido. Eu até pensava "esse cara passa a noite pensando em como sacanear os outros", porque todo dia tinha uma piada, um brincadeira, uma vítima de gozação... nesse dia o Lula queria chocar o tal marqueteiro americano... O James Carville era...O James Carville tinha sido contratado para ajudar na campanha do Fernando Henrique e nós tínhamos o nosso americano também. O Lula brincava: "O americano do Fernando Henrique fez a campanha do Bill Clinton, o nosso americano fez a campanha do Daniel Ortega" (NR: Ex e atual presidente da Nicarágua). Bem, o Carville já tinha ou tava sendo mandado embora da campanha do FHC e a campanha do Lula também ia despachar o "nosso" americano.
- E o que aconteceu?
- ...e aí, nesse dia, o Lula, claramente num clima de brincadeira, tava a fim de sacanear, de chocar o americano com essa história dele "seco" na prisão, todos na mesa, nós todos, sabíamos que aquilo era uma brincadeira, era gozação, sacanagem, e imaginando como seria se fosse traduzido pro cara...
- Você tem, teve então a certeza de que era uma brincadeira?
Não teve e não tem nenhuma dúvida?
- Nenhuma. Era claro, óbvio que era uma brincadeira, mais uma piada, mais uma gozação do Lula, nenhuma dúvida. E além disso a história, a cena toda não teve de forma alguma esse ar, essa dramaticidade que o César enfiou nesse texto melodramático. É incrível essa história... todos sabíamos que aquilo era uma brincadeira, como tantas outras feitas durante a campanha...
- As tais "conversas de homem"...
- Nem era esse clima "conversa de homem", era brincadeira, pura gozação, nenhuma responsabilidade, nunca, nunca com esse tom de "confissão" que o Benjamin fez parecer que teve. E você acha que se isso fosse, soasse verdadeiro, todos nós não ficaríamos chocados? Todos ali da esquerda, com amigos presos, ex-presos e tudo mais, você acha que nós ouviríamos aquilo com tom de verdade, se assim fosse ou parecesse, e não reagiríamos, não ficaríamos chocados?
- Na sua opinião, que conhece os personagens dessa história, o que aconteceu?
- O César Benjamin guardou ressentimentos por 15 anos para agora despejar todo esse rancor. Ele pirou com o sucesso do Lula. Ele transformou uma piada num drama, vai ganhar o troféu "Loura do Ano".
- O Paulo de Tarso estava lá?
- Estava. E estava o americano... pensa só uma coisa: você acha que o Lula, logo o Lula, tão pouco esperto como ele é, em meio a uma campanha presidencial, vai chegar na frente de um gringo que ele mal conhecia, um gringo que vai voltar pro país dele e contar tudo o que viu, você acha que o Lula vai chegar pra um gringo que nunca viu, na frente de testemunhas, e vai contar que tentou estuprar alguém? É, foi óbvio, evidente, que aquilo era gozação, piada, brincadeira, sem nada desse drama todo do Benjamin de agora... rimos e ninguém deu a menor importância àquilo...
- Você, um cineasta, um documentarista que viveu a cena, relembrando-a quadro a quadro, o que verdadeiramente pensa, o que diria hoje?
- O Lula adorava provocar... era óbvio para todos que ouvimos a história, às gargalhadas, que aquilo era uma das muitas brincadeiras do Lula, nada mais que isso, uma brincadeira. Todos os dias o Lula sacaneava alguém, contava piadas, inventava histórias. A vítima naquele dia era o marqueteiro americano. O Lula inventou aquela história, uma brincadeira, para chocar o cara... como é possível que alguém tenha levado aquilo a sério? Então...Isso não tem, não deveria ter importância nenhuma. Só um débil mental, um cara rancoroso e ressentido como o Benjamin, guardaria dessa forma dramática e embalada em rancor, durante 15 anos, uma piada, uma evidente brincadeira...".

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

MENINOS DE RUA É O CACETE!

O texto indignado abaixo é do meu chapa Victor Abramo. Reproduzo aqui porque vale a pena ser lido pelo menos por mais meia dúzia de pensantes, de acordo com a última pesquisa que o Ibope fez aqui perto de casa.

Outro dia O Globo trouxe estampada em sua capa uma foto mostrando um grupo de garotos dormindo em um monumento no bairro do Flamengo. Corriqueiro, meninos e meninas perambulando pelas ruas do Rio é o que mais se vê, o fato em si não me causou nenhuma surpresa. O que me chamou a atenção mesmo foi a legenda, que começava assim: “Meninos de rua ...” Ora, meninos de rua é um eufemismo que usamos para aliviar um pouco nossa culpa por essa verdadeira vergonha nacional que é o abandono de milhares de crianças. O rótulo “Meninos de rua” dá a impressão de que eles brotam dos bueiros de cada esquina, e que não temos absolutamente nada a ver com essa incômoda realidade.
Não sei o que motivou minha reação tão forte nesse dia, mas ao ver a foto e ler a legenda pensei imediatamente: Não, não são meninos de rua! São crianças abandonadas! Crianças que não têm um lar, uma família estruturada, que não freqüentam uma escola, que vestem trapos e se alimentam de solvente ou, pior, de pedras de crack. Crianças que não têm direito de sonhar, pois só conheceram o pesadelo do abandono, crianças que certamente já ouviram falar em carinho, em afeto, mas nunca viram ou sentiram nada parecido e nem sabem como são essas coisas. São crianças que levam porrada desde o dia em que chegam ao mundo, e que nós fingimos não ver em nossa ida e volta ao trabalho.
É mesmo muito fácil pensar que isso é um problema que cabe ao Governo resolver, e continuar desviando o olhar dessa cena deprimente, dessa enorme covardia cometida contra crianças indefesas. Se o Governo não cumpre sua obrigação, cabe a nós exigir que o faça. Cada vez que viramos o rosto para não enxergar essa criminosa realidade compactuamos com os administradores incompetentes ou mal intencionados que nem sequer esboçam qualquer ação no sentido de dar a esses pequenos brasileiros um mínimo de cidadania, algo que a Constituição Brasileira em tese garante a todos os brasileiros, mas na prática só acontece para os ricos e os remediados.
Os mesmos administradores que comemoram a realização dos Jogos Olímpicos a um custo astronômico de R$ 26 bilhões, não têm a decência de explicar, entre uma e outra viagem ao exterior com o dinheiro público, por que nunca existe “verba” para tirar essas crianças desse verdadeiro martírio. O máximo que se envolvem na questão é quando participam de seminários para discutir “as causas da violência”. Ora, é de chorar esse cinismo oficial, esse faz de conta governamental. Perdemos quatro ou cinco ou mais gerações nas ruas. Entregamos milhares de crianças ao Deus dará, não nos incomodamos quando, com fome, sede e atordoados pelas drogas eles vêem os ricos passar com suas poderosas picapes que custam algo em torno de R$ 300 mil e na maioria das vezes transportam apenas o ego de seu dono.
Mas nossas engravatadas autoridades insistem em não entender o que causa a violência. Na certa esperam que estas crianças a quem tudo é negado, a começar pelo direito de existir, nos assaltem com educação, com delicadeza. “Oh, por favor, o senhor pode me passar sua carteira, se não for incômodo?”. “A senhora me perdoe, mas vou levar sua bolsa, seu celular e esse cordão de ouro, tá bem?”. “Oi, irmãozinho, me entregue essa bicicleta? Seu pai amanhã lhe dará outra novinha!”
Não, não é assim. É demais esperar isso de quem sempre foi tratado à tapa em casa (casa?) ou nas ruas. Mas fiquem atentos. Não vai demorar e, como num passe de mágica, esta criançada que brota dos bueiros cheirando a esgoto vai desaparecer pelo menos por uns tempos da cena carioca. Ora, os responsáveis pela realização da Copa de 2014 e das Olimpíadas de 2016 vão tratar de varrer esse lixo humano para um depósito público de crianças sem porvir. E ao pensar nisso torço para que ninguém tenha a péssima idéia de recorrer à solução final ao estilo nazista no pavoroso Rio da Guarda, página mais vergonhosa da história do Rio de Janeiro.
Antes disso, vamos combinar uma coisa. Sempre que aparecer em algum jornal ou site a expressão “meninos de rua” vamos mandar uma enxurrada de e-mails e cartas exigindo que pelo menos tenham a decência de tratá-los pela realidade a que estão condenados: são crianças abandonadas. E vamos nos mobilizar para que na campanha eleitoral que se aproxima esse tema seja obrigatório. Vamos premiar com nosso voto somente quem se comprometer verdadeiramente com essa bandeira e, o mais importante de tudo, vamos nos organizar para, depois da eleição, cobrar o cumprimento de todas as promessas.
Victor Dawes Abramo

domingo, 8 de novembro de 2009

ABAIXO A LEI SECA! CASSEM OS PSICOPATAS DO TRÂNSITO!

Existem milhares de maus motoristas no país, psicopatas do trânsito, garotões que ganham carrinho zero do pai rico que faz isso para que o moleque pare de encher o saco. E se o moleque vai em cana, o pai poderoso e seus amigos influentes vão lá soltá-lo. Geralmente isso funciona. Quando não funciona, seja porque o policial era honesto ou porque, mesmo corrupto, ficou chateado com alguma coisa que o garotão lhe disse, vira notícia de jornal.
Uma barreira para impedir que esses desgraçados continuem à solta deveria atuar da seguinte maneira:
- O policial para alguns carros, aleatoriamente ou por perceber algo estranho em alguns dos sujeitos que estão na direção.
- Pede a carteira e sugere o teste no bafômetro num nível aceitável, não com essa tolerância zero que só existe contra gente de bem que toma umas e outras, e sai dirigindo melhor do que a maioria dos sóbrios.
- O cara nunca teve uma infração séria e o teste aponta que o motorista estava quase no limite.
- O policial observa que o sujeito está transtornado, estranho, o cacete. Multa o sujeito. Se este for um imprudente contumaz, o que o Detran, essa repartição acima de qualquer suspeita, deve fazer? Cassar a carteira pelo resto da vida do infeliz.
- O cara passou um pouco do limite, mas conversa cordialmente, não demonstra desequilíbrio, etc., tudo bem. Ah! O prontuário do sujeito está limpo. Vai segurar esse cara? Até pode. Aplique uma multa, 100 reais, que tal? Assim dá para concorrer com a corrupção que já está grassando entre os fiscais da Lei Seca.

ABAIXO ESSA BOSTA DE LEI SECA!

Faço questão de repetir aqui o comentário feito por meu chapa Salvador, criador do "Qual Delas", um blog para quem gosta de samba e choro. Salvador hoje vive em Curitiba, mas é daqui de Niterói.
O que ele disse:
"Estou sabendo que aí em nossa terra, numa dessas barreiras policiais, cem metros antes delas algumas pessoas se oferecem, em troca de pagamento, para conduzir o seu veículo até alguns poucos metros após a barreira. Quem utilizou o "serviço" notou uma certa camaradagem entre os policiais e o prestador de serviço. Pode???".
Não pode, camarada, não pode. Mas existe, sim, esse novo "serviço".
É mais uma consequência nefasta da falta de seriedade de quem formulou, de quem aprovou, de quem fiscaliza essa bosta de Lei Seca.
Lei Seca é, será e sempre foi uma merda.
Não sei se foi naquele livro do Hobsbawn, sob pseudônimo, "A História Social do Jazz", que li, mas em Kansas City, durante a Lei Seca, um prefeito mafioso liberou o birinaite. E salvou o jazz que em Chicago, Nova York, na Costa Leste estava agonizando por conta da escassez de clientela nas casas de espetáculo.
Kansas City reagiu, com prefeito mafioso e tudo (foda-se! em casos como este, estou com a máfia), e o resultado é que naquela cidade foram revelados alguns gênios do jazz: Count Basie, Billie Holiday, Lester Young etc.
A Lapa está morrendo, e em outros lugares, como Niterói, casas de samba que antes recebiam 400, 500 pessoas, ou até mais, estão entrando em crise.
Minha amiga Rita, que comanda uma dessas casas, está tendo prejuízo em cima de prejuízo.
Lugares frequentados por gente boa, e com público inclusive acima dos 30 anos, esvaziaram.
Mas quem enche o rabo de ecstasy e de red bull continua passando no teste do bafômetro e morrendo. A garotada que sempre fez merda no trânsito não deixou de fazer.
Cantores e músicos de samba, de chorinho, de pagode, de qualquer merda que acham que é música; bebedores de cerveja e de uísque, frequentadores de pés-sujos, boêmios do Rio de Janeiro, de Niterói, de São Paulo, do Brasil inteiro; donos de bares e de restaurantes; garçons, cozinheiros, vamos pensar numa manifestação maior que a passeata dos 100 mil contra essa merda de Lei Seca.
Alô, alô, políticos que bebem e que dizem gostar de samba, vamos pensar em saídas legais contra essa bosta de Lei Seca.
A propósito, sou sócio da ANDA (Associação dos que Não Dirigem Automóvel).
Na foto, para servir de inspiração a todos os boêmios de culhões, Antônio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes.