Nestes minutos em que começo a contar mais algumas histórias do Jornal do Brasil, que assisti ou me contaram, um avião particular acaba de cair na Baía da Guanabara. Quem me deu a notícia foi o Romildo Guerrante, com quem eu falava pelo telefone no momento da queda. Romildo fechava um jornal na Avenida Beira Mar, ali pertinho do Santos Dumont, e pela janela acompanhou o pouso forçado nas águas do Flamengo. Em instantes, entro no G1 e o flash do desastre já está no portal de notícias, com foto do mais-pesado-que-o-ar nadando no mar, porém inteiraço. Felizmente, ninguém morreu. Os jornalistas que trabalham na grande rede terão muito que falar sobre estes tempos da internet a lenha. Veja, ilustre passageiro, a foto que ilustra esta página virtual. São teclas de uma antiga máquina de escrever. Por serem em geral teclas pretas, o pessoal da antiga as chamava de pretinhas. Faziam muito barulho quando eram batucadas e integravam a trilha sonora das redações de jornais junto com outros sons característicos: esporros das chefias, pigarros e tosses dos fumantes que constituíam a maioria dos internos naquelas casas de loucos, gargalhadas de diferentes calibres e, no início da modernidade, guinchos de impressoras, entre outras algaravias. Agora que você entrou no clima, mais umas historinhas, ao som deste samba-de-breque maneiro que fala do JB, do Caderno B e da Condessa Pereira Carneiro, cantado por João Nogueira e enviado para este blog por Roberto Dufrayer. Saca a letra: “Eu de chinelo charlote/ meu chapéu copa norte/ meu blusão de voil/ (não tinha ainda de tergal)/ cordão bem fininho/ na medalha um bom santinho/ trabalhado em metal/ (era São Jorge, o maioral)/ cristão e umbandista/ eu tinha o meu ponto de vista/ meu padrinho era Ogum/ (não tinha santo mais nenhum)/ só dava eu com a Judite/ aos domingos no Elite/ e às sextas no Mil e Um/ (era traçado em vez de rum)/ E enquanto a nêga não vinha/ era uma boa cervejinha/ com a rapaziada/ (salta uma loura bem suada)/ depois do basquete/ era bater na bola sete/ e caprichar na tacada/ (olha a menina encaçapada)/ Mas eu de sambista/ tive que ser jornalista/ pra me valorizar/ (passei no tal vestibular)/ e agora veja só você/ trabalho no Caderno B/ critico samba popular/ (seu Tinhorão vem devagar)/ Um dia então fui chamado/ convidado pra jurado/ de julgar samba-enredo/ (confesso até que tive medo)/ no meio da quadra/ apareceu um camarada/ com jeitão de Ipanema/ (era um artista de cinema)/ chegou-se pra mim/ foi dizendo logo assim/ "sou diretor de carnaval"/ (até aí nada de mal...)/ esse é o samba dos cartolas/ vai dar grana pra escola/ de direito autoral/ (toca na Rádio Mundial)/ Se é coisa que eu não adoto/ é nêgo cabalando voto/ na maior cara de pau/ e o samba de sobra/ era um tremendo boi com abóbora/ rimava açúcar com sal/ antes de eu virar a mesa/ pra acabar com a safadeza/ foi armado um trelelê/ (era judô e karatê)/ e o tal do branco cabeludo/ me deu tanto do cascudo/ que eu nem sei mais escrever/ (tá pensando que eu sou telha?)/ Dona Condessa aborrecida/ me expulsou do JB/ (veja você...)”
Em 1973, com ditadura e milagre econômico, os jornais eram proibidos de quase tudo. Foi o ano em que comecei na profissão, trabalhando em dois jornais. Das 9 ou 10 da manhã até 4 da tarde, no Diário de Notícias, e das 5 até 10/11 da noite, no Jornal do Brasil.
Foi um breve período, pouco mais ou menos de um ano no nº 114 da Rua do Riachuelo, mas tão estimulante quanto meu começo no JB. Talvez ainda mais porque no DN fui estagiário, depois repórter da Geral, ganhando... o quê mesmo? Ah, sim! Ganhando experiência. Salário não havia. O jeito era recorrer a vales, que eu peguei poucos, pois tinha medo de ouvir um não. O jornal, apesar de dirigido por gente íntegra, a começar pelo chefe da redação Múcio Borges, a amabilidade em pessoa, não tinha dinheiro para pagar todo mundo, ainda mais gente nova e inexperiente, que devia estar agradecida por ganhar cancha.
Passei um período fazendo polícia, ora era escalado para cobrir assuntos religiosos (nas férias da Marinilda Marchi, o nome da bela na época), ora fazendo matérias para outras editorias. Eu tentava caprichar tanto nos lides que a coisa não fluía. Tinha que ouvir calado gozações maravilhosas como a de certo editor chamado João Rath: “Elegancinha, você é um gê-ni-o! Há muito tempo não vejo esse erro!”. Mas essa história já contei em algum lugar aí pra trás, neste mesmo blog. Ou de ter a primeira matéria assinada (sobre o pintor João Câmara) totalmente reescrita por outro colega, o tcheco Luís Carlos Cabral. Enfim, eu devia melhorar. Como melhorar? Arranjando rapidamente um furo de reportagem. Acho que eu sonhava com o editor-chefe gritando “Parem as rotativas! Parem as rotativas!”. Se não sonhei com isso, deveria. Eis que, do nada, surgiu minha oportunidade. Estava de plantão no jornal, acho que num sábado, quando bateu o telefone. A linha estava péssima mas deu para ouvir um pesquisador ensandecido dizendo que Emilinha Borba e Marlene estavam jogadas no chão de um banheiro da Rádio Nacional. A ligação caiu e o sujeito não tornou a ligar. Mas a afobação de iniciante não estava nem aí para confirmação de algo que eu já via estampado na primeira página. E a imaginação fértil do mesmo iniciante fez o resto. Eu sabia desde criancinha da disputa encarniçada entre as duas cantoras e seus respectivos fãs-clubes e pensei logo no pior. O pior era o melhor para mim: um furo. Pedi fotógrafo e motorista e seguimos para a Praça Mauá nº 7. O porteiro, que devia ser também um novato, auxiliar de portaria escalado para trabalhar no fim de semana, ficou assustado quando perguntei se as rainhas do rádio haviam saído no tapa e estavam se esganando no chão do banheiro da emissora. Como viu que eu estava acompanhado por um sujeito fortão, o fotógrafo Lúcio Marreiro (que não acreditou na história, mas assim mesmo foi na onda para curtir com a cara do foca), e que havia um carro de reportagem na porta, nos deixou entrar. Não sei como, ninguém nos parou, ainda não havia essa frescura de crachá sendo pedido a todo instante. Fomos até o andar da emissora. Passamos pelo auditório, uns e outros que estavam em um estúdio pareceram estranhar, mas também não ficaram no caminho. “O que vocês devem estar procurando está logo ali”, disse um camarada de cabelo ruivo, com certeza pintado, quase sussurrando. Era a minha fonte, com certeza. Chegando ao local do crime, o tal banheiro, nenhum vestígio de divas ensangüentadas. Mas realmente estávamos diante de um crime: rolos de gravação e documentos apodrecidos empilhados entre a latrina e a pia. O fotógrafo explodia de tanto rir. A matéria só foi sair na terça ou quarta-feira seguinte, como nota de colunão, para irritação do meu chefe de reportagem, o gente boa Alfredo Schleumer, que fez questão, no dia seguinte, de me entregar duas cartas de leitores indignados com aquilo. Um deles sugeria que aquelas caixas e rolos fossem imediatamente levados para o Museu da Imagem e do Som, que incorporou no ato o acervo fedendo a xixi.
Não durei muito no emprego. Logo arranjei outro, numa agência de notícias, onde eu recebia, sim, todo final de mês, além de continuar na Editoria Internacional do JB.
Foi uma boa saída, apesar da opinião contrária do meu chapa João Batista de Abreu, que foi para o Diário de Notícias dias depois de minha saída.
"Por que você não volta pra lá? Entrou um grupo novo, com dinheiro. Quem manda agora é o Olímpio Campos".
Até deu vontade.
Semanas depois perguntei ao João Batista como estava no emprego do DN.
"Tá ótimo, tô aprendendo muito, fui até aumentado em 30%!".
Êpa! O que foi que eu perdi...
"Só tem uma coisa, Zé", fez questão de dizer o João. "Fui aumentado em 30% e devo ter outro aumento qualquer dia desses, mas o Olímpio não paga!".
Escapei, assim, de entrar na famosa fila do banco dos credores do Olímpio, onde só recebia o primeiro da fila. Quem chegasse primeiro ao guichê, levava.
O novo chefão do velho jornal dos militares e das professoras inventou o famoso "cheque olímpico". Só recebia o papel quem corria e chegava na frente.
Na vitrolinha Philco, "Fanzoca do rádio", de Miguel Gustavo, na voz do palhaço Carequinha.
Extra! Extra! O blogueiro se enganou. Os horários não conferem. De manhã eu tinha aula na UFF. Entrava no DN pouco depois do meio-dia (saía um pouco mais cedo da última aula, quando tinha aula, e partia voado de Niterói para a Riachuelo). Quando surgiu a oportunidade de me profissionalizar no Diário de Notícias, fiquei só mais um mês, porque estava de férias escolares. Saí logo depois. O horário da agência era quase o mesmo do estágio, com uma hora a mais (cinco horas) e por isso deu pra ter esse segundo emprego no tempo do IACS. A idade é uma eme.
Este blog, logo na primeira postagem, alinhou-se à doutrina marxista e, de cara, elegeu os irmãos Marx – Groucho, Harpo e Chico - seus gurus. Eram cinco irmãos no total, mas dois não tinham graça nenhuma. Neste vídeo aí em cima, que meus chapas Lauro Faria e Eduardo Varela me enviaram quase na mesma hora – são dois ratos do Youtube –, os impagáveis Harpo (o mudinho, de cabelo encaracolado) e Chico Marx (que nos filmes vivia a figuraça que era na vida real, um jogador contumaz que só andava duro e extorquindo os irmãos) fazem o diabo num piano, tocando “Mamãe eu quero mamar”, da dupla brasileira Jararaca e Ratinho. O filme “The Big Store” é de 1941. A marchinha, ainda hoje tocada em tudo quanto é bloco de carnaval carioca, foi popularizada nos EUA e no resto do mundo por Carmen Miranda.
Bira da Vila é daquelas figuras que imediatamente estabelecem empatia com Deus e o mundo. Tem mais: é um compositor enraizado em sua Baixada Fluminense, pois sua Vila não é a Isabel do Noel e nem a Vila da Penha de seu querido amigo e parceiro Luiz Carlos da Vila. Bira é da Vila São Luís, no primeiro distrito de Duque de Caxias. Pesquisador da história musical da região onde nasceu e vive, o Bira é também um cara tinhoso que resolveu fazer um CD importante. Não apenas mais um CD de samba, mas um documento sonoro para registrar, além dos sambas que fez com Luiz Carlos da Vila e Serginho Meriti, entre outros, outras canções bem mais antigas de compositores como Cabana, Osório Lima, João da Paz, Toninho Barros, Jairo Bráulio e Anésio. E assim nasceu “O canto da Baixada”. Nessa pesquisa, ele teve até orientador: o radialista Adelzon Alves, um profundo conhecedor da matéria e responsável durante décadas por um programa que fez a cabeça de muita gente que até então não ligava muito para esse que é o ritmo brasileiro mais conhecido no mundo. Em 2002, em parceria com Riko Dorilêo, Bira compôs Ventos da liberdade, uma música tocada todos os dias nas rádios do país. Que país? Angola, onde esta canção é considerada quase um hino de libertação. “Então leva”, gravada por Zeca Pagodinho, e “O daqui, o dali e o de lá”, que na faixa do CD do Bira tem a participação de Beth Carvalho, foram outros sucessos mais recentes. Depois de dois ou três anos atrás de patrocínio, Bira enfim está lançando “O canto da Baixada”. Vai ser na terça-feira, dia 8 de junho, a partir das 19h, no anfiteatro do Clube de Engenharia, que fica na Avenida Rio Branco 124/25º andar, Centro do Rio. Mas não espere tanto para pegar seu disco e o ingresso para o show: já estão à venda na Livraria Folha Seca, na Rua do Ouvidor nº 37, naquele pedacinho que fica entre a Primeiro de Março e a Travessa do Comércio, bem próximo à Praça 15. Por 30 pratas, você leva o ingresso e o CD, e prestigia esse projeto 100% independente, porque o dinheiro – aqui ó! – não saiu até hoje e o Bira precisa da grana para garantir a galinhada que prepara pessoalmente, sempre chamando os amigos, na Vila que lhe deu o sobrenome.
Tem gente que gosta de ouvir o bigode crescer, outros preferem farrear. Pertenço a este segundo grupo. Respeitando quem gosta de comidinhas francesas em pratos rasos, meu negócio é feijoada – só de escrever isso, já noto uma leve oscilação da taxa do ácido úrico. Pagar mico também é comigo: vivo rindo de mim mesmo. Quem ainda não se deu conta de que, residentes deste terceiro planetinha fuleiro de quem vem do Sol, sentido Júpiter, não passamos, nós terráqueos, de futuros defuntos que apenas estão pelaí, de bobeira, enquanto não descem os sete palmos? Futuros? Nem tanto. Tirando o Niemeyer, que não é leitor desse blog, quem mais se habilita a fechar a conta dos dois galos? Dos vivos hoje, só ele mesmo e alguns moradores dos Montes Urais passaram do centenário. A vida é curta. Meu chapa Paulo Eduardo Neves é um que sabe disso. Completou quarentinha um dia desses e, em vez de fechar uma casa de festa cheia de pinguins servindo canapezinhos, proseccos e outras porcarias, armou a quizumba no meio da rua, no caso a Ouvidor, num domingo sem pagodeiros. Foi com sua linda Cris e os dois pimpolhos, Seu Natal e Seu Candeia. Em vez de espumante, o que teve foi cerveja e bons produtos extraídos da cana, que além do etanol também é bom combustível. Na roda de samba, comandada pelo Galotti, o homem-repertório, lá estavam o garoto Pratinha com seu sete cordas, e ainda o pandeiro, o tantã, o tamborim e o surdo revezados pelos tarimbados André Pressão, Almir e Declarck. Nas imediações, o Digão da Folha Seca, corresponsável (esta nova ortografia é de matar) pela organização da farra (farra também se organiza), e um monte de gente boa que foi chegando e contribuindo para o sucesso da carraspana etílico-musical. Lá pelas tantas, eu mais pra lá do que pra cá, metido pra cacete com um tamborim vermelho que consigo tocar melhor do que a maioria dos percussionistas do Tibete, novamente pago um mico, sem perceber que minha querida amiga portelense Bia estava filmando aquela atormentada, mas nem por isso menos elogiada, performance. Hoje, este blog é autocentrado, sim, e aperto a tecla F.
Com vocês, eu... e, ahá!, mais um mico de minha autoria! O samba tocado no momento é “Loira Luzia”, de Nei Lopes: “No dia em que a loira Luzia pôs fogo no morro Sargento Garcia deu tapa no Zorro E a Rua do Chichorro mudou de lá do Catumbi Um gato que estava num poste roubando energia Comeu um cachorro, crente que comia Uma gata escaldada, na laje lá no Tuiuti Foi nisso que uma coisa estranha baixou no terreiro Cabeça de área, corpo de bombeiro Uma perna de três e dois dedos de prosa, Orelha de livro, um pé de conversa (era um espantalho!) A boca de fumo, um dente de alho Mané, que trabalho, que coisa horrorosa! O carro da polícia ia saindo ileso Mas acabou preso no engarrafamento E o da funerária morreu a caminho De um sepultamento O carro do bombeiro pegou fogo E a ambulância chamou o socorro... No dia em que a loira Luzia pôs fogo no morro”.
Esta meu chapa Simas, do segundo melhor blog que conheço, o Histórias Brasileiras (http://hisbrasileiras.blogspot.com), vai adorar. Digo segundo porque o primeiro ainda é o Histórias do Brasil (http://hisbrasil.blogspot.com/), do mesmo autor. Não lembro se este samba-enredo hilariante, "Noruega, gelo e alegria", foi gravado num compacto simples ou duplo. Acho que era simples e – pior ainda – esta "exaltação" à Noruega estava no lado B do disquinho. Tenho quase certeza de que no lado A estava o “Samba do crioulo doido”, de Stanislau Ponte Preta. Não conhecia a história deste samba até, por acaso, topar com um site chamado Trem de doido (http://mynerva.podomatic.com). Foi lá que encontrei a letra de “Noruega, gelo e alegria”, de Luiz Carlos Sá (aquele do trio Sá, Rodrix e Guarabira) e Paulinho Machado. A segunda parte eu tinha toda na cabeça, desde adolescente. Agora sei toda e compartilho com vocês. Melhor ainda, achei também a gravação. Clique na seta acima para ouvir. A propósito, ali na ilustração são cabeças de bacalhau. Pois é, existem sim. A letra é a seguinte: “Noruega, teus campos brancos de neve Nos trazem a mais feliz recordação Dos momentos gloriosos Inesquecíveis, heróicos Da pesca do bacalhau, ô ô Quem já viu o sol da meia-noite nascer Pode nos dizer com mais razão, ô ô Noruega, Noruega querida Para sempre morarás no meu coração, Noruega Baluarte da Europa Setentrional Banhada pelo Oceano Glacial, ô ô Teve em sua história grandes vultos Reis, crianças e adultos Que fizeram sua honra e tradição As ardósias dos fiordes majestosos As papoulas das falésias tão gentis Ôo, ôo, ôo, ôo Abre alas minha gente que a Noruega chegou (diz, Noruega!) Das planícies geladas e silenciosas Partiram os temidos vikings Navegando rumo oeste, mar afora Descobriram a América antes da hora Na bandeira o vermelho da coragem O branco da pureza e o azul do imenso céu Terra abençoada onde reside o bom velhinho conhecido pela alcunha de Papai Noel, Noruega Ôô, ôô, ôô Abre alas minha gente Que a Noruega chegou (bis) (Noruega ou não é?)”.
O nepotismo vem de longe na história universal – foi inventado pelos Papas da Idade Média que escolhiam seus sobrinhos para cardeais (aí tem, ou melhor, tinha!). No Brasil, o primeiro caso foi flagrado na carta de Pero Vaz de Caminha. Depois de contar as maravilhas do Novo Mundo, o sacana aproveitou o embalo e pediu ao Rei de Portugal a transferência do genro (e um carguinho melhor, estava implícito!).
Quinhentos anos depois da epístola de Pero – os filólogos ensinam que vem daí a gíria pistolão –, muita água passou por baixo do moinho (por cima, somente mediante comissão) e os Trens da Alegria, de tempos em tempos, percorrem alegremente os ramais dos Três Poderes, transportando irmãos, primos, sobrinhos, cunhados, genros, noras, sogras e até ex-mulheres e ex-maridos com destino aos salários mais polpudos da administração pública.
Pois é, mas nem sempre esse negócio de colocar a parentada pela janela é nociva. No Rio de Janeiro, um exemplo de nepotismo que deu certo foi o da família Sá, do Estácio nosso fundador, que se aboletou no poder e botou os franceses para correr, nos quinhentos de nossa história.
Cinco séculos depois, surgiu outro nepotismo do bem - a Escola Portátil de Música, fundada em 2000 por músicos de choro e hoje tendo como coordenadores os craques Luciana Rabelo, Maurício Carrilho e Pedro Aragão. A Escola Portátil funciona nas instalações da Uni-Rio, na Praia Vermelha, com duas dezenas de professores e mais de 800 alunos que aprendem ou tentam aprender tudo quanto é instrumento e, também, canto, harmonia, arranjo e composição.
Os mestres fazem parte da nata dos instrumentistas de choro do país. E entre os alunos, tem de tudo - desde a garotada que em breve vai brilhar nos palcos até os cascudos, como eu, que estão lá pra fazer menos feio nas rodas de samba e de choro familiares e dos botequins. E o que se paga pelo aprendizado é mixaria – a semestralidade equivale a uma ou duas mensalidades de aulas particulares.
Tem nepotismo na EPM? Tem sim, mas o nepotismo de lá é sinônimo de meritocracia. E disso sou testemunha mais ocular do que ouvinte do Repórter Esso (pararará parararará papá), pois participo como aluno deste projeto cultural e social realmente fantástico, em parte bancado pela Petrobras, tendo como professores um pessoal de primeiríssima, muitos pertencentes a respeitáveis dinastias musicais – os Carrilho, Rabello, Aragão e Silva, entre outros sobrenomes ilustres.
Seguindo a ordem acima, os Carrilho têm cinco representantes na EPM. Álvaro Carrilho é flautista, nascido em Santo Antônio de Pádua como o irmão e lenda viva Altamiro Carrilho. Começou na flauta de bambu, passou para a transversa e compôs delícias como Chorando em Barbacena, Na sombra da caramboleira e De pai para filho. O filho César, nem sei se toca algum, mas é o homem dos sete instrumentos da escola, o coordenador da produção. Afinal de contas, alguém tem que trabalhar na família, pombas! Figuraço que, vez por outra, e com toda a razão, dá esporro na rapaziada que esquece de levar de volta para o devido lugar as cadeiras usadas no Bandão. O outro filho de Seu Álvaro, o genial Maurício Carrilho, é violonista, arranjador, compositor inspirado e um dos fundadores e coordenadores da EPM. Com muita estrada, Maurício Carrilho já acompanhou grandes nomes da música, como Aracy de Almeida, Elizeth Cardoso e Nara Leão. Cantar, ele não canta, mas berra no Maracanã quando o Flamengo perde. Do clã também faz parte a violonista e cantora Anna Paes, casada com Maurício Carrilho e mãe de Anita, que tem nove anos e está aprendendo pandeiro na EPM. Anna Paes é também uma afiada pesquisadora responsável pelo levantamento da obra de compositores de choro. Na EPM, que ajudou a fundar, ensina canto e violão.
A forte presença feminina na EPM tem nas irmãs Luciana e Amelia Rabello, e na filha de Luciana, Ana Rabello, três destaques. Luciana, há 30 anos na profissão, é cavaquinista, compositora e produtora. Aprendeu tudo com os mestres do cavaco Jonas (do Época de Ouro de Jacob do Bandolim) e Canhoto (do Regional que herdou de Benedicto Lacerda e que fez história nos anos dourados do rádio e dos cassinos) e hoje democratiza este notório saber na EPM. Mestra rigorosa, temperando esse rigor com um humor fino, Luciana transmite os fundamentos do choro, do samba e de outros gêneros e ritmos brasileiros para que seus alunos não cometam no futuro crimes hediondos contra a música brasileira. Ana Rabello, ex-aluna da EPM, filha de Luciana e do grande poeta do samba Paulo César Pinheiro, é outra integrante do corpo docente do cavaco e de seu currículo constam numerosas participações em shows e gravações ao lado de monstros sagrados com os quais convive desde os tempos do berço e do bebê-conforto. Amelia Rabelo, irmã de Luciana e do inesquecível sete cordas Raphael Rabello, é cantora de rara afinação e que sabe tudo dos fundamentos do choro e do samba. Entre os CDs que gravou, o Todas as canções, lançado em 2002, reúne a obra autoral de Raphael, de quem foi a principal intérprete.
O único nepotismo que deu certo no Brasil tem representantes também na ilustre Casa dos Aragão, que tem um violão e um bandolim pintados no brasão. Embora essa dinastia seja numericamente inferior – são apenas dois irmãos, por enquanto –, não fica a dever em talento. O bandolim do escudo heráldico pertence a Pedro Aragão, que na EPM ministra aulas de Leitura Rítmica e Apreciação Musical e nos estúdios e shows ao vivo vem se destacando como um dos bandolinistas mais competentes e requisitados. Regente formado pela Escola de Música da UFRJ, Pedro é também o maestro do Bandão da Escola Portátil de Música, que todos os sábados, a menos que chova, a partir de 12h30m, põe em prática o que os alunos estavam aprendendo pouco antes, nas salas de aula. Pedro Aragão também é diretor e fundador do Instituto Jacob do Bandolim e fundador e regente do Rancho Carnavalesco Flor do Sereno. Seu irmão, Paulo Aragão, mestre em Musicologia pela Uni-Rio e bacharel em Violão pela UFRJ, nos dois cursos aprovado com louvor, é integrante do Quarteto Maogani de Violões, pelo qual já lançou quatro discos. O Maogani é um grupo altamente conceituado no cenário musical brasileiro, conjunto instrumental de extremo bom gosto, vencedor de prêmios importantes e que se destaca por sua produção fonográfica de alta qualidade, reconhecida no Brasil e no exterior. Um grupo que modestamente vi nascer nas noites de domingo do bar Orquídea, em Nikity. Como se não bastasse, os irmãos Aragão têm outra grande qualidade – ambos são botafoguenses!
Last, but not least, outra linhagem que comanda os trabalhos na EPM é formada por três gerações da família Silva. Eles mesmos, os Silva do pandeiro – avô, pai e neto. O couro come a partir do patriarca das platinelas, Jorginho do Pandeiro, que toca desde os 14 anos e viveu a era de ouro do rádio brasileiro, ao lado de astros e estrelas como Sílvio Caldas, Elizeth Cardoso e Carlos Galhardo, entre outros, até os dias de hoje, quando acompanha craques da estirpe de Paulinho da Viola ou Chico Buarque. Jorginho integra há 40 anos uma das maiores referências do choro, o conjunto Época de Ouro, criado por Jacob do Bandolim. É irmão do genial Horondino Silva, o Dino Sete Cordas, que se fosse vivo, quem sabe, também estaria dando aulas na EPM. O percussionista Celsinho Silva, filho de Jorginho, outro pioneiro e um dos mais bem-humorados professores da Escola Portátil, também já encontrou seu lugar entre os grandes pandeiristas e chorões do Brasil, desde sua estreia no grupo Os Carioquinhas, do qual também fizeram parte Raphael Rabello, Luciana Rabello e Maurício Carrilho. Integra também o Nó em Pingo d´Água e há 30 anos faz parte do grupo que acompanha Paulinho da Viola. Com esse DNA todo que vem no sangue, não teve jeito: Eduardo Silva, também professor da EPM, deu continuidade à arte do pai e do avô. Embora seja o mais novo dos três, é o único que não tem inho no nome artístico. Eduardo é fundador do Regional Carioca e toca e/ou já tocou em grupos importantes como o Sarau.
Pois é, e além desse pessoal todo já citado, a EPM conta também, no seu corpo docente, com o talento do percussionista Oscar Bolão, dos bandolinistas Pedro Amorim e Marcílio Lopes, do pianista Cristóvão Bastos, dos cavaquinistas Jayme Vignoli e Ignez Perdigão, do violonista Luiz Flávio Alcofra, da flautista Naomi Kumamoto, da cantora, instrumentista e fera em harmonia Bia Paes Leme, entre tantos outros.
Deu vontade de aprender algum instrumento? Deu vontade de aproveitar essa pauta e escrever sobre esse timaço? Visite o site www.escolaportatil.com.br ou, melhor ainda, apareça num sábado desses, sem chuva, pouco depois do meio-dia, pra conferir uma apresentação do Bandão. A EPM fica na Avenida Pasteur 436, fundos. É 0800, digrátis. Neste vídeo de 2007, o Bandão toca Gafieira Suburbana, de Cristóvão Bastos.
O samba "O juiz apitou", de Wilson Batista, na postagem abaixo, era só áudio, na voz do cantor Gasolina, sambista gaúcho que fez sucesso nos anos 50 e 60. Neste vídeo, gravado na Confeitaria Colombo, a pérola é interpretada pelo tricolor Chico Buarque. Olha só a nata de músicos que o acompanha: Carlinhos Sete Cordas, Márcio Hulk Almeida no cavaquinho, Beto Cazes pandeirando, Dirceu Leite na flauta e o maestro Luiz Cláudio Ramos, no violão de seis cordas. A dica foi simultaneamente enviada por minha chapa Regina Zappa (jornalista, botafoguense e biógrafa do gênio Chico) e por meu amigão Salvador Falcão (funcionário do BNDES, rubro-negro e um dos maiores colecionadores de música do país).
E o Flamengo, hein? Seus torcedores gozaram tanto o Botafogo e o Vasco com aquela história de que eram seus eternos vices... Num só dia, o time dos grã-finos à beira da Lagoa foi vice duas vezes: da Taça Rio e do Campeonato Carioca. Na caixinha musical, a vingança dos alvinegros da estrela solitária e da cruz de malta no belo samba do cracaço rubro-negro Wilson Batista (na foto).
Meu samba-enredo preferido, qual é mesmo? São tantos que resolvi fazer uma lista dos quinze que gosto mais. Todo mundo sabe que falou samba-enredo, falou Império Serrano, dizem os entendidos. Se, porém, o assunto for samba de quadra, aí é Portela, completam outros entendidos - todos de Madureira, evidentemente. Por que essa lista? Porque me lembrei que neste 3 de fevereiro, a partir das 18h, na livraria Al-Farabi, ali na Rua do Rosário, Luiz Antônio Simas e Alberto Mussa lançam um livraço sobre o tema. O convite tá ilustrando essa postagem. Agora, meus 15, sem ordem de preferência, errando o nome do samba às vezes (os nomes são grandes às vezes e não lembro): 1. Lapa em três tempos (Portela) 2. Invenção de Orfeu (Vila Isabel) 3. Contos de areia (Portela) 4. Sublime pergaminho (Unidos de Lucas, tocando neste poste) 5. Chico Rei (Salgueiro) 6. Riquezas do Brasil (Portela) 7. Heróis da liberdade (Império Serrano) 8. Cinco bailes na história do Rio (Imperio Serrano) 9. O mundo encantado de Monteiro Lobato (Mangueira) 10. Os sertões (Em cima da hora) 11. Aquarela brasileira (Império Serrano) 12. Cântico à natureza (Mangueira) 13. Martim Cererê (Imperatriz Leopoldinense) 14. Criação do mundo na tradição nagô (Beija Flor) 15. Ao povo em forma de arte (Quilombo) Quer saber de uma coisa? Essa lista é e não é definitiva. Lembrei de outros: Chica da Silva, do Salgueiro; o samba enredo dos imigrantes, do Império; mais dois ou três da Imperatriz; mais um monte da Vila Isabel; Lendas e mistérios da Amazônia, Macunaíma, o Homem do Pacoval, mais três da Portela (tem mais, tem mais!); os sambas da Ilha, cacilda!, como esquecer os sambas do Didi? Aquele samba da Viradouro antiga, sobre o ouro de Sabará, que dizia "levem prata, levem ouro, bebam vinho que vai acabar o tesouro" - feito, dizem, pelo bicheiro Albano... Esse negócio de lista é bobagem. Vamos ao lançamento da obra do Simas e do Mussa que é o que interessa.
Não sou chegado a novelas e nem mesmo às minisséries. Acho que estas já foram melhores, na mesmíssima Globo. “Dalva e Herivelto”, por exemplo, um puta enredo, poderia ter capítulos mais longos e mais uma ou duas semanas de duração. Falo como telespectador: acho que esta história está sendo contada com pressa, nas coxas. Mas nem por isso me privei de assisti-la. Claro que estou gostando: é um resgate dos anos dourados do rádio. Pronto. Só isso justifica. Adorei a exposição do mau-caratismo do David Nasser, letrista inspirado e escroque do jornalismo. E, mais do que tudo, o mergulho de Adriana Esteves na personagem. O motivo desta postagem é contar outra história, escrita por alguém que esteve no hospital São Lucas, onde a cantora foi internada. Eduardo Varela, que foi repórter da Rádio Nacional e do Globo antes de virar publicitário e professor da UFF, dá um testemunho importante sobre aqueles que foram os últimos momentos de vida de Dalva de Oliveira. É uma narrativa bem ao jeito do Varela. O DNA do texto está em todos os parágrafos, sobretudo no final. Com direito a um comentário genial de outro amigo a quem o Varela enviou o texto por e-mail, um dia desses. Com vocês, Dalva de Oliveira e o texto de Eduardo Varela. Ao som de "Fim de comédia", de Ataulfo Alves:
“Dias antes de morrer a Estrela Dalva – ela estava internada direto num hospital de Copacabana – um repórter de uns 22 anos, primeiro emprego e poucas saídas para coisas importantes, recebeu a incumbência de registrar alguma coisa nova no panorama que se arrastava tristemente para o fim: a cantora ia mal, piorava e não morria, atrasando os necrológios feitos por todas as rádios do Rio de Janeiro. A ordem fora deixada à tarde; o repórter chegou, pegou um desajeitado gravador a tiracolo e foi pro hospital. Lá, coleguinhas disputavam nos corredores uma entrevista com artistas, com o filho da estrela, Peri Ribeiro, e com quem mais importante chegasse. O foca, envergonhado com o tamanho do gravador, resolveu escondê-lo na portaria e ficou andando pelo corredor, no meio do qual estava o quarto da paciente. Ouvido atento, soube de uma enfermeira que ela sofrera várias hemorragias e precisava de sangue. Assim, deslizou suavemente para as proximidades do quarto – a ausência do gravador ajudava nisso – entreolhou o que ia lá dentro e esperou uma chance, que chegou meia hora depois. Peri, o próprio Peri, ajoelhou-se no corredor, pensativo, ao lado do repórter que, cautelosamente, falou com ele estas possíveis palavras: “Peri, soube que a Dalva precisa de sangue, é verdade?”. Ele olhou o moço sem saber o que este fazia ali, talvez fosse um fã, um empregado da casa... “Sim, outra hemorragia, ontem...”. “Olha – disse o garoto – quem sabe se a gente fizer um anúncio na Rádio Nacional as pessoas acudam e não haja problema de doação? Sua mãe foi uma das maiores estrelas da Nacional, quem sabe!?”. O cantor coçou o queixo e fez uma cara de interrogação (“como?”), o que fez o outro se identificar: “Sou repórter da Nacional, deixei um gravador na portaria, você faz um pedido e quem sabe o problema será resolvido; e aí?”. Peri Ribeiro chamou o irmão – este é que parecia decidir as coisas por ali – cochichou com ele, voltando-se para o foca com um olhar triste e condescendente, não precisou falar. O rapaz atravessou o salão sob o olhar curioso de alguns colegas e voltou com o imenso gravador de rolo, ajoelhando-se ao lado dos filhos da cantora. O pedido, feito por Peri, não tinha um minuto de duração, mas era claro, não será preciso escandi-lo. O repórter voltou à rádio, preparou a matéria, entregou ao editor com o texto retirado do gravador e foi embora. Tinha prova na universidade onde era aluno de Jornalismo. No dia seguinte, ao chegar ao trabalho por, volta do meio-dia, encontrou o diretor da emissora (o velho e exagerado Arakem Távora) de pé, à frente de todos os repórteres da tarde, alguns dos tempos de ouro da Nacional, e ouviu assustado o primeiro elogio de sua curta vida de jornalista, algo assim: “Que sirva pra todo mundo. Esse garoto está aqui há poucos meses e teve a coragem de enxergar uma notícia onde ninguém viu. A gravação vai ao ar de hora em hora, o hospital está jorrando sangue. Parabéns!”. Vendo agora a minissérie da Globo e as cenas – irretocáveis – feitas no quarto do hospital onde a estrela padecia, aquele repórter (61 anos e com o pau ainda duro) estica a cabeça para ver na TV se aparece o corredor e, encostado na parede em frente, um jovem de 22 anos assustado e inseguro com o que tinha feito”.
O texto do Varela termina aqui. E o comentário a quem me referi na introdução, de outro jornalista e professor da UFF, João Batista de Abreu, em resposta ao e-mail do nosso amigo comum, diz o seguinte:
“Varela, Gostei muito da história. Estava acreditando até aquela referência ao pau duro, aos 61 anos. Aí vi que era ficção. Abraços, JB”.
Em março de 2008, a banda country Sons of Maxwell embarcou em Halifax, no Canadá, com destino a Chicago, onde tinha um show programado. Da janela do avião da United Airlines, Dave Carrol viu os carregadores da empresa aérea jogando a bagagem de qualquer maneira. Resultado: seu violão Taylor, de US$ 3,5 mil, foi encontrado na esteira quebrado. Para consertar o instrumento, ele morreu em US$ 2,4 mil, mas a companhia aérea se recusou a pagar. Um parto (nove meses) depois, o músico canadense fez a última tentativa de recuperar a grana e a United voltou a cagar solenemente para o consumidor. Dave deu o troco: disse que colocaria três videoclipes na internet denunciando a irresponsabilidade e a negligência da voadora. Então compôs a baladinha “United breaks guitars” e botou no Youtube. Em um mês, o vídeo foi acessado mais de 700 mil vezes e, em poucos meses, 4,5 milhões de pessoas assistiram. A Taylor deu um violão novo para o autor da canção que chegou ao ranking das 20 mais vendidas no Canadá, ainda mais depois que Dave foi ao programa da Oprah, aquela apresentadora meio Hebe, meio Marília Gabriela. Aí quem entrou em pânico foi a United Airlines, que passou a suplicar para que o músico aceitasse a grana preta que ofereceu para que o caso fosse encerrado e o vídeo retirado do Youtube. Os caras ainda prometeram colocar o vídeo num programa de treinamento. Resposta do Dave: "Vão pra puta que os pariu!". Esse clipe já circula há uns meses, mas só conheci há pouco, quando me foi enviado por meu chapa Wallace Grecco. Não é hilariante?Se demorar muito, vá direto ao youtube ou clique no hiperlink http://www.youtube.com/watch?v=5YGc4zOqozo. Alô, alô, operadoras de telefonia e concessionárias em geral: caiu a ficha?
Wallace Grecco, que (não) cansou de dar uma mãozinha (na verdade, mãozona) às artes brasileiras, no tempo em que comandou a Comunicação da Embratel, é outro maluco que fuça a internet em busca de jóias. Olha só o que o cara encontrou: uma interpretação fantástica da Aquarela do Brasil, de Ary Barroso, em Liubliana, na Eslovênia. No palco, em apresentação gravada pelo programa "Vokal Xtravaganzza 2008", foram reunidos os integrantes do coro esloveno Perpetuum Jazzile e seu maestro Tomaz Kozlevcar e os músicos brasileiros que formam o grupo BR6 – Crismarie Harkenberg (mezzo soprano), Deco Fiori (tenor), André Protásio (barítono), Eduardo Braga (barítono), Simô (baixo) e Marcelo Manes (percussão vocal). Inicialmente misturados com os eslovenos, depois eles ficam à frente do coral. O grande Ary, se ainda estivesse por aqui, teria aguçado os ouvidos em busca de algum errinho, mas os eslovenos capricharam até no sotaque e não perderam o caminho de casa nem mesmo no trecho que fala da "merencória luz da lua". Pode demorar um pouco para entrar o vídeo do Youtube, que é longo. Mas vale a pena esperar. Porém, se ficar meio cansativo, copie o link http://www.youtube.com/watch?v=jmttwEHdfB0 e cole no browser. Outra coisa: quando terminar, clique nas imagens e ouça Mas que nada,Só danço samba e outras músicas do repertório do Perpetuum Jazzile.
Tem doido pra tudo. Eu, por exemplo, adoro um temporal, trovões, relâmpagos, é comigo mesmo. Evidente que gosto de observar de um lugar seco, fico horas na janela só sacando a algaravia da natura. Não coloco nenhuma foto que fiz sobre esse assunto porque até hoje não saiu uma que prestasse. Minha câmera digital não ajuda muito. Isso tudo foi pra dizer que acabo de receber esse vídeo do Sérgio Fleury, grande repórter, colega dos bons tempos do JB e agora, também, pescador de pérolas na internet. Volta e meia, eu e outros felizardos recebemos os e-mails do Fleury com textos, imagens e vídeos pra lá de interessantes. Procurei, de todas as maneiras, encontrar mais informações sobre essa orquestra e ainda não achei nenhuma pista. Quem souber, mande um comentário para esta postagem.
Há uns quatro ou cinco anos fui na casa dele, na ensolarada freguesia de Maricá, com alguns amigos - dois deles, Floriano e Salvador, viviam lá. A festa era para levantar uma grana pro gênio, que estava meio caidinho, de dinheiro e saúde. Mas foi pegar no instrumento para remoçar uns quarenta anos. Soprou com força Na Glória, Pororó, Voltei ao meu lugar, das que me lembro. Na vitrolinha, outro clássico das gafieiras, Paraquedista, deJosé Leocádio, que também faz parte do repertório mais conhecido.
Aos 93 anos, Raul de Barros foi ensinar trombone aos anjos.
O baile Parece que foi hontem (assim mesmo, com h) era esperado o ano inteiro pelo povo das redações até que neguinho começou a torcer o nariz, dizendo que era coisa de velho. A Coopim, cooperativa de jornalistas que tinha à frente Fichel Davit Chargel, Domingos Meirelles e Ronaldo Buarque, entre outros, promoveu mais de 20 edições da festança onde só se entrava com fantasia da época ou smoking, summer, enfim, traje a rigor. A produção era esmerada e dinheiro para isso não faltava, pois os maiores anunciantes corriam para patrocinar a brincadeira que tinha sempre duas atrações principais – a Orquestra Tabajara, do maestro Severino Araújo, e um grande nome da música popular brasileira, gente do tempo do rádio e das gafieiras. A bagunça começava lá pelas nove da noite e terminava quase as seis da manhã. Envergando meu summer alugado, fui a quase todos os bailes, o primeiro na ABI, depois na Galeria dos Empregados do Comércio, no Clube Espanhol do Humaitá e até no Copacabana Palace (Dick Farney e Cauby Peixoto), até se fixar no Monte Líbano. Neste clube vi Sílvio Caldas se despedindo do palco (ele era famoso por encerrar a carreira e voltar) pela última vez, a Ângela Maria, o Miltinho, os Cariocas. Muitas cenas inesquecíveis e uma lembrança marcante: Ronaldo Buarque, um dos pais da idéia, exigiu que, quando morresse, fosse enterrado com o smoking ou summer que usava no baile. Assim foi feito. Entre as cenas que não dá para esquecer, o show de Elizeth Cardoso, já no Monte Líbano. Sempre que chegava a hora da grande atração, o apresentador pedia a todos que voltassem para suas mesas para curtirem melhor o espetáculo. Alguns, meio bêbados, como os barbudos aí da foto menor – o então gerente da Souza Cruz Eduardo Varela (com os olhos azuis da Sheila, com os quais é casado até hoje) e Lauro Faria (hoje assessor de imprensa da Funcefet, em segundo plano, jogando um lero para uma criatura que nem ele deve lembrar mais quem era) – não ouviram o pedido e continuaram na pista. O apresentador insistiu, com educação, no que foi interrompido pela Divina Elizeth, que deu a contra-ordem: – Pessoal, com licença dos meus amigos da Coopim, eu vou fazer outro pedido a vocês. Por favor, voltem à pista e dancem. Vai ser um prazer pra mim, não esqueçam que comecei minha carreira artística como crooner do Dancing Avenida, picotando carnê. Pés-de-valsa, tá na hora de sacudir o esqueleto! Não foi preciso dizer duas vezes.
Roberto Ferreira, ex-repórter do Globo e do JB, tinha um mecânico de confiança para seu possante. Um negão boa gente que atendia no Leme, chamado Edeor de Paula. O cara era também compositor e no ano de 1976 tinha prontas letra e música do samba-enredo para sua escola de coração, a Em Cima da Hora. A melodia estava nos trinques, mas a letra precisava de uma guaribadazinha. Chegou ao cliente, o tal jornalista, e pediu ajuda no português. Roberto ficou encantado com o samba, realmente uma obra-prima, e mexeu um pouco aqui, um pouco ali, no português, sugerindo poucas mudanças. Edeor de Paula aceitou quase todas, menos uma. – Edeor, não fica bem essa história de “guerra fatal”. Toda guerra é fatal. Por que não muda para “guerra final”? – Não dá, Roberto. Eu ia ter que mexer no verso anterior, que ficou bom. – E ficou mesmo. Mas é só dar uma mexidinha que você resolve. E cantarolou “Os jagunços lutaram/ até o final/ defendendo Canudos/ naquela guerra fatal”. Cacilda, não ficou bom assim. Edeor nem tentou. Disse que o povo ia gostar assim mesmo. E o povo gostou tanto de “Os Sertões” que é considerado um dos clássicos do samba-enredo. Edeor chegou a insinuar que o jornalista poderia ser seu parceiro. Roberto não topou, achou que seria sacanagem e ainda acha até hoje. Os autores de samba-enredo, hoje em dia, são quase sempre dois ou três sambistas, se tanto. Mas sempre entram mais cinco ou seis na parceria, seja por terem acrescentado um “ôôô”, por serem protegidos do diretor ou do patrono da escola.
Aqui não se dança conforme a música. A música é que toca conforme o texto. A ideologia é de esquerda pra quem vem da direita, e vice-versa, se não for contramão. Missão, meio jornalística: metade da vida em redações de jornais. Aqui se persegue a imparcialidade antes que dobre a esquina. Os valores são reais, até a moeda mudar de nome. O Manuel da Redação (revisor, mora em Niterói) se orienta pelo novo Acordo Hortográfico, digo Ortográfico, que está enchendo de grana a Academia. Time, o Glorioso Botafogo. Escola, Portela, a Majestade do Samba. Constituição, a de Capistrano de Abreu (1853-1927) com uns cacos: Art. 1º: Todo brasileiro deve ter vergonha na cara, e isso vale para os que se submeteram a cirurgias plásticas, pintam o cabelo, passam o tablete de Santo Antônio no bigode ou botam as barbas de molho; Art. 2º: Revogam-se as disposições em contrário.
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