sexta-feira, 29 de maio de 2009

O RECADO DA DIVINA


O baile Parece que foi hontem (assim mesmo, com h) era esperado o ano inteiro pelo povo das redações até que neguinho começou a torcer o nariz, dizendo que era coisa de velho. A Coopim, cooperativa de jornalistas que tinha à frente Fichel Davit Chargel, Domingos Meirelles e Ronaldo Buarque, entre outros, promoveu mais de 20 edições da festança onde só se entrava com fantasia da época ou smoking, summer, enfim, traje a rigor. A produção era esmerada e dinheiro para isso não faltava, pois os maiores anunciantes corriam para patrocinar a brincadeira que tinha sempre duas atrações principais – a Orquestra Tabajara, do maestro Severino Araújo, e um grande nome da música popular brasileira, gente do tempo do rádio e das gafieiras. A bagunça começava lá pelas nove da noite e terminava quase as seis da manhã.
Envergando meu summer alugado, fui a quase todos os bailes, o primeiro na ABI, depois na Galeria dos Empregados do Comércio, no Clube Espanhol do Humaitá e até no Copacabana Palace (Dick Farney e Cauby Peixoto), até se fixar no Monte Líbano. Neste clube vi Sílvio Caldas se despedindo do palco (ele era famoso por encerrar a carreira e voltar) pela última vez, a Ângela Maria, o Miltinho, os Cariocas.
Muitas cenas inesquecíveis e uma lembrança marcante: Ronaldo Buarque, um dos pais da idéia, exigiu que, quando morresse, fosse enterrado com o smoking ou summer que usava no baile. Assim foi feito.
Entre as cenas que não dá para esquecer, o show de Elizeth Cardoso, já no Monte Líbano. Sempre que chegava a hora da grande atração, o apresentador pedia a todos que voltassem para suas mesas para curtirem melhor o espetáculo. Alguns, meio bêbados, como os barbudos aí da foto menor – o então gerente da Souza Cruz Eduardo Varela (com os olhos azuis da Sheila, com os quais é casado até hoje) e Lauro Faria (hoje assessor de imprensa da Funcefet, em segundo plano, jogando um lero para uma criatura que nem ele deve lembrar mais quem era) – não ouviram o pedido e continuaram na pista. O apresentador insistiu, com educação, no que foi interrompido pela Divina Elizeth, que deu a contra-ordem:
– Pessoal, com licença dos meus amigos da Coopim, eu vou fazer outro pedido a vocês. Por favor, voltem à pista e dancem. Vai ser um prazer pra mim, não esqueçam que comecei minha carreira artística como crooner do Dancing Avenida, picotando carnê. Pés-de-valsa, tá na hora de sacudir o esqueleto!
Não foi preciso dizer duas vezes.

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