quarta-feira, 6 de maio de 2009

O GAROTINHO TE ELOGIOU MUITO


Quem trabalhou no Jornal do Brasil, nos anos 70 e 80, vai lembrar dele: Armando. Um cara tão engraçado, até no visual meio Zé Trindade (comediante da fase áurea das chanchadas da Atlântida, na foto), com aquele bigodinho, terno amarfanhado e farta distribuição de piadas, que nenhum outro assessor de imprensa da ditadura tinha tanto acesso às redações.
Armando, cujo sobrenome não lembro, não mandava release. Talvez nem soubesse escrever. Ia pessoalmente aos jornais contar a última façanha de seu chefe, o ministro dos Transportes Mário Andreazza, a quem se referia sempre como “o Garotinho”.
Quase todos na redação já haviam algum dia recebido seu cumprimento marcante:
– Boa tarde! O Garotinho é seu fã, elogiou muito o seu trabalho e mandou dar parabéns por sua trajetória profissional.
Uma vez, pegamos o mesmo ônibus, na Princesa Isabel, divisa entre o Leme e Copacabana, e por acaso sentamos no mesmo banco. Era um homem sério, nem parecia o mesmo. Não resisti. Me identifiquei e, com muita simpatia, Armando contou que o grande amor de sua vida era o teatro de revista. Chegou a atuar numa peça da Dercy Gonçalves.
Armando só ficou sem graça uma vez. Ao entrar no elevador com uma senhora simpática de cabelos brancos, usou sua fórmula consagradora:
– Como vai a senhora? Sabe quem lhe mandou parabéns?
A velhinha gente boa, ingenuamente, perguntou quem era a pessoa.
– O Garotinho, que é seu fã!
– Que garotinho? – ficou intrigada.
– Ora, o nosso grande ministro Mário Andreazza.
Ela sorriu e agradeceu, prosseguindo a viagem até o nono andar, o da diretoria, enquanto Armando saltou no sexto, o da redação.
Miando de tanto rir, um coleguinha que também estava no elevador contou que o Garotinho tinha virado fã da dona do jornal, a Condessa Pereira Carneiro.

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