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quinta-feira, 12 de agosto de 2010

MAIS QUATRO HISTÓRIAS DO MELHOR JORNAL DO MUNDO



Na noite de terça-feira, 31 de agosto, no anexo do Capela, Alfredo Herkenhoff lança seu livro "Memórias de um secretário do Jornal do Brasil". É dia de cercar o cabrito com arroz e brócolis e enviá-lo direto para o estômago, afogado em litros de chope. Antes disso, mais quatro historinhas que me contaram do melhor jornal que o Brasil teve nos últimos 510 anos. No gramofone do Elefantinho do JB, "Ameno Resedá" com a Orquestra do Rancho Flor do Sereno.


O menor título do mundo
Titular matéria pode ser complicado, sobretudo quando o paginador (ou diagramador) dizia ao redator:
“Olhaí. É matéria de colunão. Faz um três de onze”.
Ou seja, o título tinha que ter três linhas e, no máximo, onze batidas em cada uma delas.
O infeliz tinha que se virar.
No velho JB, o secretário do jornal e chefe do Copidesque, José Silveira era o rei do título enxuto. Literalmente, tirava de letra o desafio de acomodar em espaços mínimos o assunto principal da reportagem.
Foi assim, por exemplo, no ano de 1961, quando Juscelino Kubitschek, recém-saído da Presidência da República, foi convidado pelo sucessor Jânio Quadros para assumir a Embaixada do Brasil junto às Nações Unidas.
Provocado por um diagramador a fazer valer sua fama de titulador, usando um formato mínimo, Silveira perguntou se serviria um título de três de três. Sentou diante das pretinhas e batucou na hora:
JK:
ONU
NÃO
Se o Guiness não registrou, devia.

O dia em que ACM chorou
Correu a notícia de que o governador da Bahia ia colocar três pontes de safena.
No JB, Gilberto Menezes Côrtes, responsável pela coluna Informe JB, não pensou duas vezes:
“Antônio Carlos Magalhães vai fazer três pontes: uma com a OAS, outra com a Camargo Corrêa e a terceira com a ADM”.
ACM leu, não gostou e revidou via fax:
“Você esqueceu de dizer que vou fazer uma também com a senhora sua mãe”.
Gilberto replicou:
“Governador, lamento o tom de sua resposta a uma simples brincadeira. Mas devo adiantar que, infelizmente, perdi minha mãe recentemente num trágico acidente automobilístico que levou também meu pai e meu único irmão".
Dizem que o cacique foi às lágrimas, antes de se desculpar pela grosseria e de convidar Gilberto para almoçar no Palácio de Ondina.

O trem do JB
O repórter João Batista de Abreu tinha um compromisso: chegar às sete em ponto na estação da Leopoldina para seguir no trem húngaro em sua primeira viagem a São Paulo.
Chegou às 7h02min, e minutos depois viu quando o ministro Mário Andreazza, seus auxiliares e os puxa-sacos de sempre voltavam da cerimônia de lançamento.
Com medo de ser demitido, pensando na falta que o leite faria à prole botafoguense que em breve botaria no mundo, faria qualquer coisa, menos voltar ao jornal.
O trem era rápido, mas o avião muito mais. Pegou o táxi para o Santos Dumont. Perguntou se tinha vôo para São Paulo e quanto custava. Daria um jeito de pagar, e receber depois do controlador de diárias. Era muita grana, mesmo assim, e note-se que não havia ainda cartão de crédito na mão de qualquer Mané.
Teve um lampejo: e para São José dos Campos? Sabia que o trem passaria na cidade.
Em vez de responder, dando horário do embarque e preço da viagem, o funcionário perguntou o peso do repórter. “72 quilos”, respondeu.
“Então, embarque no portão 1 que é de graça”.
Opa, a sorte mudou de conta. Chegando a São José dos Campos com bastante antecedência, encontrou um primo, professor do Instituto Tecnológico da Aeronáutica, e pediu que ele dissesse qual era a bandeirinha que usaria para obrigar o trem a parar.
“Esqueça. Pega a chave do Fusca e vai para São Paulo”.
O retardatário saiu voado pela Dutra e chegou à Luz antes do bendito expresso magiar. A tempo de entrevistar autoridades e transeuntes na plataforma, de receber o trem e conversar com os passageiros. Do resto cuidaria o fotógrafo Otávio Magalhães, que chegou na hora e embarcou.
Juntou os depoimentos com o ambiente de cada lugar percorrido – ele conhecera o trajeto na viagem experimental, semanas antes – e enviou a matéria pelo telex da sucursal paulistana do JB.
No dia seguinte, chegando ao jornal, soube que o editor nacional Juarez Bahia queria falar com ele.
“Pronto. Nem assim adiantou. Fui demitido”.
Juarez o recebeu na saleta ao lado do Telex, parecia meio chateado. Não era, porém, o que havia pensado.
“Queria te pedir desculpas. Sua matéria foi publicada sem sua assinatura. Por engano, saiu com o crédito da sucursal”.

Oldemário e o coronel
Na ditadura, em qualquer empresa pública ou privada, a área de segurança tinha um poder tremendo. No Jornal do Brasil dos anos 70, nem tanto. O chefe, um certo coronel Melo, chegava até a ser cordial, mas impunha um clima pesado, nada condizente com o de uma redação de jornal. O respeito deu adeuzinho quando seus subordinados foram se meter com Oldemário Touguinhó. Não era permitido entrar no JB usando bermuda, mas Oldemário precisou dar um pulinho na editoria de esportes, numa manhã, para pegar alguma coisa que havia esquecido na gaveta.
Foi assim que me contaram essa história:
O segurança foi barrá-lo na portaria. O editor se identificou e pediu novamente para ter acesso ao elevador. Iria apenas à sala pegar uns papéis. A paciência de Oldemário foi embora quando ouviu a frase:
“O senhor não pode subir de bermuda. São ordens do coronel Melo!”.
“Ah, é? Então vai tomar no cu. E diga ao coronel Melo que eu mandei ele também tomar no cu!”.
O segurança não sabia o que fazer. Oldemário, muito puto, resolveu não insistir mais.
Na segunda-feira, o telefone toca na editoria. Era pro Oldemário.
“Oldemário, boa tarde. Aqui é o coronel Melo. Tudo bem contigo?”.
“Pode falar, coronel”.
“Oldemário, aconteceu uma coisa desagradável. Um subordinado meu me contou... etc. etc.”.
“Pois não, coronel, o que o senhor quer mesmo saber?”.
“Ah, Oldemário, eu só queria saber se isso aconteceu mesmo, afinal de contas...”.
“Coronel, parabéns! Seu subordinado não mentiu. Agora, o senhor faz o seguinte: o senhor vai tomar no cu que eu tenho mais o que fazer”.

O SAMBA DE BREQUE QUE FALA NO CADERNO B


Nestes minutos em que começo a contar mais algumas histórias do Jornal do Brasil, que assisti ou me contaram, um avião particular acaba de cair na Baía da Guanabara. Quem me deu a notícia foi o Romildo Guerrante, com quem eu falava pelo telefone no momento da queda. Romildo fechava um jornal na Avenida Beira Mar, ali pertinho do Santos Dumont, e pela janela acompanhou o pouso forçado nas águas do Flamengo. Em instantes, entro no G1 e o flash do desastre já está no portal de notícias, com foto do mais-pesado-que-o-ar nadando no mar, porém inteiraço. Felizmente, ninguém morreu. Os jornalistas que trabalham na grande rede terão muito que falar sobre estes tempos da internet a lenha.
Veja, ilustre passageiro, a foto que ilustra esta página virtual. São teclas de uma antiga máquina de escrever. Por serem em geral teclas pretas, o pessoal da antiga as chamava de pretinhas. Faziam muito barulho quando eram batucadas e integravam a trilha sonora das redações de jornais junto com outros sons característicos: esporros das chefias, pigarros e tosses dos fumantes que constituíam a maioria dos internos naquelas casas de loucos, gargalhadas de diferentes calibres e, no início da modernidade, guinchos de impressoras, entre outras algaravias.
Agora que você entrou no clima, mais umas historinhas, ao som deste samba-de-breque maneiro que fala do JB, do Caderno B e da Condessa Pereira Carneiro, cantado por João Nogueira e enviado para este blog por Roberto Dufrayer. Saca a letra:
“Eu de chinelo charlote/ meu chapéu copa norte/ meu blusão de voil/ (não tinha ainda de tergal)/ cordão bem fininho/ na medalha um bom santinho/ trabalhado em metal/ (era São Jorge, o maioral)/ cristão e umbandista/ eu tinha o meu ponto de vista/ meu padrinho era Ogum/ (não tinha santo mais nenhum)/ só dava eu com a Judite/ aos domingos no Elite/ e às sextas no Mil e Um/ (era traçado em vez de rum)/ E enquanto a nêga não vinha/ era uma boa cervejinha/ com a rapaziada/ (salta uma loura bem suada)/ depois do basquete/ era bater na bola sete/ e caprichar na tacada/ (olha a menina encaçapada)/ Mas eu de sambista/ tive que ser jornalista/ pra me valorizar/ (passei no tal vestibular)/ e agora veja só você/ trabalho no Caderno B/ critico samba popular/ (seu Tinhorão vem devagar)/ Um dia então fui chamado/ convidado pra jurado/ de julgar samba-enredo/ (confesso até que tive medo)/ no meio da quadra/ apareceu um camarada/ com jeitão de Ipanema/ (era um artista de cinema)/ chegou-se pra mim/ foi dizendo logo assim/ "sou diretor de carnaval"/ (até aí nada de mal...)/ esse é o samba dos cartolas/ vai dar grana pra escola/ de direito autoral/ (toca na Rádio Mundial)/ Se é coisa que eu não adoto/ é nêgo cabalando voto/ na maior cara de pau/ e o samba de sobra/ era um tremendo boi com abóbora/ rimava açúcar com sal/ antes de eu virar a mesa/ pra acabar com a safadeza/ foi armado um trelelê/ (era judô e karatê)/ e o tal do branco cabeludo/ me deu tanto do cascudo/ que eu nem sei mais escrever/ (tá pensando que eu sou telha?)/ Dona Condessa aborrecida/ me expulsou do JB/ (veja você...)”

terça-feira, 27 de julho de 2010

DIVAS ENSANGUENTADAS NO BANHEIRO DA RÁDIO


Em 1973, com ditadura e milagre econômico, os jornais eram proibidos de quase tudo. Foi o ano em que comecei na profissão, trabalhando em dois jornais. Das 9 ou 10 da manhã até 4 da tarde, no Diário de Notícias, e das 5 até 10/11 da noite, no Jornal do Brasil.
Foi um breve período, pouco mais ou menos de um ano no nº 114 da Rua do Riachuelo, mas tão estimulante quanto meu começo no JB. Talvez ainda mais porque no DN fui estagiário, depois repórter da Geral, ganhando... o quê mesmo? Ah, sim! Ganhando experiência.
Salário não havia. O jeito era recorrer a vales, que eu peguei poucos, pois tinha medo de ouvir um não. O jornal, apesar de dirigido por gente íntegra, a começar pelo chefe da redação Múcio Borges, a amabilidade em pessoa, não tinha dinheiro para pagar todo mundo, ainda mais gente nova e inexperiente, que devia estar agradecida por ganhar cancha.
Passei um período fazendo polícia, ora era escalado para cobrir assuntos religiosos (nas férias da Marinilda Marchi, o nome da bela na época), ora fazendo matérias para outras editorias.
Eu tentava caprichar tanto nos lides que a coisa não fluía. Tinha que ouvir calado gozações maravilhosas como a de certo editor chamado João Rath: “Elegancinha, você é um gê-ni-o! Há muito tempo não vejo esse erro!”. Mas essa história já contei em algum lugar aí pra trás, neste mesmo blog. Ou de ter a primeira matéria assinada (sobre o pintor João Câmara) totalmente reescrita por outro colega, o tcheco Luís Carlos Cabral.
Enfim, eu devia melhorar. Como melhorar? Arranjando rapidamente um furo de reportagem. Acho que eu sonhava com o editor-chefe gritando “Parem as rotativas! Parem as rotativas!”. Se não sonhei com isso, deveria.
Eis que, do nada, surgiu minha oportunidade. Estava de plantão no jornal, acho que num sábado, quando bateu o telefone. A linha estava péssima mas deu para ouvir um pesquisador ensandecido dizendo que Emilinha Borba e Marlene estavam jogadas no chão de um banheiro da Rádio Nacional.
A ligação caiu e o sujeito não tornou a ligar. Mas a afobação de iniciante não estava nem aí para confirmação de algo que eu já via estampado na primeira página. E a imaginação fértil do mesmo iniciante fez o resto. Eu sabia desde criancinha da disputa encarniçada entre as duas cantoras e seus respectivos fãs-clubes e pensei logo no pior.
O pior era o melhor para mim: um furo.
Pedi fotógrafo e motorista e seguimos para a Praça Mauá nº 7. O porteiro, que devia ser também um novato, auxiliar de portaria escalado para trabalhar no fim de semana, ficou assustado quando perguntei se as rainhas do rádio haviam saído no tapa e estavam se esganando no chão do banheiro da emissora.
Como viu que eu estava acompanhado por um sujeito fortão, o fotógrafo Lúcio Marreiro (que não acreditou na história, mas assim mesmo foi na onda para curtir com a cara do foca), e que havia um carro de reportagem na porta, nos deixou entrar.
Não sei como, ninguém nos parou, ainda não havia essa frescura de crachá sendo pedido a todo instante. Fomos até o andar da emissora. Passamos pelo auditório, uns e outros que estavam em um estúdio pareceram estranhar, mas também não ficaram no caminho.
“O que vocês devem estar procurando está logo ali”, disse um camarada de cabelo ruivo, com certeza pintado, quase sussurrando. Era a minha fonte, com certeza.
Chegando ao local do crime, o tal banheiro, nenhum vestígio de divas ensangüentadas. Mas realmente estávamos diante de um crime: rolos de gravação e documentos apodrecidos empilhados entre a latrina e a pia. O fotógrafo explodia de tanto rir. A matéria só foi sair na terça ou quarta-feira seguinte, como nota de colunão, para irritação do meu chefe de reportagem, o gente boa Alfredo Schleumer, que fez questão, no dia seguinte, de me entregar duas cartas de leitores indignados com aquilo. Um deles sugeria que aquelas caixas e rolos fossem imediatamente levados para o Museu da Imagem e do Som, que incorporou no ato o acervo fedendo a xixi.
Não durei muito no emprego. Logo arranjei outro, numa agência de notícias, onde eu recebia, sim, todo final de mês, além de continuar na Editoria Internacional do JB.
Foi uma boa saída, apesar da opinião contrária do meu chapa João Batista de Abreu, que foi para o Diário de Notícias dias depois de minha saída.
"Por que você não volta pra lá? Entrou um grupo novo, com dinheiro. Quem manda agora é o Olímpio Campos".
Até deu vontade.
Semanas depois perguntei ao João Batista como estava no emprego do DN.
"Tá ótimo, tô aprendendo muito, fui até aumentado em 30%!".
Êpa! O que foi que eu perdi...
"Só tem uma coisa, Zé", fez questão de dizer o João. "Fui aumentado em 30% e devo ter outro aumento qualquer dia desses, mas o Olímpio não paga!".
Escapei, assim, de entrar na famosa fila do banco dos credores do Olímpio, onde só recebia o primeiro da fila. Quem chegasse primeiro ao guichê, levava.
O novo chefão do velho jornal dos militares e das professoras inventou o famoso "cheque olímpico". Só recebia o papel quem corria e chegava na frente.
Na vitrolinha Philco, "Fanzoca do rádio", de Miguel Gustavo, na voz do palhaço Carequinha.
Extra! Extra! O blogueiro se enganou. Os horários não conferem. De manhã eu tinha aula na UFF. Entrava no DN pouco depois do meio-dia (saía um pouco mais cedo da última aula, quando tinha aula, e partia voado de Niterói para a Riachuelo). Quando surgiu a oportunidade de me profissionalizar no Diário de Notícias, fiquei só mais um mês, porque estava de férias escolares. Saí logo depois. O horário da agência era quase o mesmo do estágio, com uma hora a mais (cinco horas) e por isso deu pra ter esse segundo emprego no tempo do IACS. A idade é uma eme.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

WILSON GREY E JOHN WAYNE NA TERRA DO SOL



A expressão de Wilson Grey era a mesma, e a idade talvez seja também. Em 1975 ou 1976, sei lá, o grande buchicho na minúscula Travessa Ator Jayme Costa era a competição sobre quem seria o ator recordista de filmes do planeta. Nós, do curso de Cinema da UFF, por motivos patrióticos, sentimentais, corporativistas, ideológicos e etílicos, torcíamos descaradamente pelo eterno vilão do cinema nacional. Ainda mais porque seu competidor direto era John Wayne, o cowboy americano, o sobrinho favorito do Tio Sam e do Tio Patinhas.
Enfim, Wilson Grey era a esquerda latino-americana, e John Wayne, o capitalismo imperialista. A competição ganhou as páginas do Caderno B e de outros suplementos culturais. A coisa ficou animada.
Tudo bem que outro brasileiro, o grande José Lewgoy, também era um vilão, só que refinado, chefe de gangue, mentor de crimes horrendos, por vezes até usando monóculo.
Wilson Grey era o vilão pobre, suburbano, de má formação dentária, semialfabetizado que tentava “falar difícil”. Lewgoy era um grande ator e cansou de atuar em papéis principais. Grey foi o melhor dos nossos coadjuvantes e só uma vez na vida (“O mágico e o delegado”) teve o papel principal.
Virou uma espécie de programa de alguns alunos de Cinema dar uma passadinha na travessinha da Cinelândia, onde atores e técnicos se reuniam para saber das novidades – quem estava filmando, onde poderia pintar trabalho etc.
Nosso barato era entrar na conversa daqueles malandros velhos, tentar uma vaguinha qualquer nos filmes. A coisa sempre terminava ali bem perto, no bar Tangará, para fechar o fim de tarde com as primeiras doses da noite.
Foi nessa época que meus chapas Albertino da Paz Ferreira e Chico Moreira tiveram a ideia de fazer um filme no Jockey Club, na Gávea. Me chamaram para cuidar do som, pilotando um sensacional e moderníssimo gravador Nagra. Moderníssimo foi modo de dizer.
O título da pantalla seria “Ponta e Placê”. Tomada a decisão, pegamos o Nagra 4 e a Arriflex BL 16 mm que a Embrafilme sempre emprestava aos alunos da UFF e partimos rumo ao prado. Foram vários dias de filmagem. Falamos com treinadores, jóqueis, bilheteiros que sempre queriam nos passar uma barbada (davam falsas barbadas para todos, na esperança de ganhar um qualquer, caso o chute desse certo) e até com o Bolonha, figura imponente e folclórica do lugar, neto ou bisneto do Duque de Caxias e eterno adversário da família Paula Machado.
Minha geração foi marcada por muitos projetos irrealizados e o “Ponta e Placê” foi um deles. Ficou só no copião, esquecido em algum canto do IACS (Instituto de Artes e Comunicação Social) da UFF.
O diretor Albertino sumiu da área por uns tempos, depois resolveu ficar somente com seu emprego no Banco do Brasil. O fotógrafo e montador Chico Moreira conheceu Sílvio Tendler, com quem trabalhou nos documentários sobre Juscelino e Jango. E eu resolvi que seria só jornalista, que esqueceria aquele negócio de virar roteirista.
Mas esse projeto, mesmo não tendo ido adiante, teve um “the end” à altura. Numa das filmagens na parte externa do hipódromo, perto da bilheteria, havia um telão para que os apostadores que não queriam ver a corrida lá dentro, nas cadeiras, pudessem acompanhar os resultados de cada páreo ali fora.
Adivinhem quem estava lá. Ele mesmo, Wilson Grey.
Malandro de raciocínio rápido, bastou ver aqueles três garotos empunhando Arriflex, Nagra, pau de luz e claquete para ficar no enquadramento perfeito. Coisa de profiça. Olhando o telão, atento, mordendo a haste dos óculos, simulou que havia acertado o cavalo ganhador e deu até um pulo para comemorar.
“Corta!”, disse o Albertino, emocionado com a cena.
No que o velho ator vibrou:
“Eu, eu, eu! John Wayne se fodeu! Ganhei, porra! Com este, são 251 filmes!”.
Na verdade, não lembro o número de filmes que ele citou. O fato é que John Wayne teria feito 250 filmes, quase 99% deles como ator principal. Dane-se! Wilson Grey correu por fora, passou o alazão ianque e venceu por uma cabeça, sem necessidade de esperar o photochart para conferir.
Quer dizer, foi o que pensamos na ocasião.
Infelizmente, Wilson Grey morreu puto da vida com essa história de recorde. Parece que do John Wayne ele ganhou mesmo, em quantidade de filmes. Mas na última volta, surgiu do nada, em outra raia, um fdp de um ator indiano, pioneiro daquilo que ficaria mais tarde conhecido como Bollywood.
Superou, por um ou dois filmes, o verdadeiro homem que matou o facínora e o inimigo de Oscarito e Grande Otelo.
E ainda deve ter comemorado à moda Grey:
“Eu, eu, eu, o Ocidente se fodeu!”.
Na trilha sonora, "Os Bohemios", de Anacleto de Medeiros, com o Art Metal Quinteto.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

LIVRAÇO SOBRE SAMBA-ENREDO JÁ PODE SER LIDO HOJE


Meu samba-enredo preferido, qual é mesmo? São tantos que resolvi fazer uma lista dos quinze que gosto mais. Todo mundo sabe que falou samba-enredo, falou Império Serrano, dizem os entendidos. Se, porém, o assunto for samba de quadra, aí é Portela, completam outros entendidos - todos de Madureira, evidentemente.
Por que essa lista? Porque me lembrei que neste 3 de fevereiro, a partir das 18h, na livraria Al-Farabi, ali na Rua do Rosário, Luiz Antônio Simas e Alberto Mussa lançam um livraço sobre o tema. O convite tá ilustrando essa postagem.
Agora, meus 15, sem ordem de preferência, errando o nome do samba às vezes (os nomes são grandes às vezes e não lembro):
1. Lapa em três tempos (Portela)
2. Invenção de Orfeu (Vila Isabel)
3. Contos de areia (Portela)
4. Sublime pergaminho (Unidos de Lucas, tocando neste poste)
5. Chico Rei (Salgueiro)
6. Riquezas do Brasil (Portela)
7. Heróis da liberdade (Império Serrano)
8. Cinco bailes na história do Rio (Imperio Serrano)
9. O mundo encantado de Monteiro Lobato (Mangueira)
10. Os sertões (Em cima da hora)
11. Aquarela brasileira (Império Serrano)
12. Cântico à natureza (Mangueira)
13. Martim Cererê (Imperatriz Leopoldinense)
14. Criação do mundo na tradição nagô (Beija Flor)
15. Ao povo em forma de arte (Quilombo)
Quer saber de uma coisa? Essa lista é e não é definitiva. Lembrei de outros: Chica da Silva, do Salgueiro; o samba enredo dos imigrantes, do Império; mais dois ou três da Imperatriz; mais um monte da Vila Isabel; Lendas e mistérios da Amazônia, Macunaíma, o Homem do Pacoval, mais três da Portela (tem mais, tem mais!); os sambas da Ilha, cacilda!, como esquecer os sambas do Didi? Aquele samba da Viradouro antiga, sobre o ouro de Sabará, que dizia "levem prata, levem ouro, bebam vinho que vai acabar o tesouro" - feito, dizem, pelo bicheiro Albano... Esse negócio de lista é bobagem. Vamos ao lançamento da obra do Simas e do Mussa que é o que interessa.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

A MULATA VELHA, SEUS AUTORES E SEUS SAMBAS


Tá escrito na tabuleta. É a segunda vez que coloco esta imagem aqui no blog. O assunto é, novamente, a África. Quem já visitou o Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, deparou com esta informação aí em cima. Os racistas que se rasguem. Berço da humanidade e da linguagem humana, não é à toa que a África seja tema de ótimos livros. Coincidentemente, cinco figuras que prezo muito estão escrevendo sobre este continente que o Rio de Janeiro traz dentro de si. Um desses amigos é o Marco Carvalho, que está terminando um romance sobre aquele Rio de Janeiro musical, rítmico e grandioso dos tempos das tias baianas da Praça Onze. Outro é o mestre Nei Lopes, que está sempre mandando bem sobre o assunto. O livro mais recente é o fantástico "Mandingas da Mulata Velha na Cidade Nova". A Mulata Velha, pra quem não sabe, é como o autor se refere aquele continente imenso que já foi e continua grudado em nossa América do Sul.
Tem mais autor na fita. Fernando Paulino, mais conhecido como Fernando Paduana, que já terminou “Mãe Meninazinha d´Oxum”, livro-reportagem que vai ser lançado ainda neste primeiro trimestre pela Fundação Palmares. Fernando conta a história do “Consulado Baiano” e de sua mentora, Vó Davina, falecida nos anos 60, e de sua descendência. Chega até esta mãe de santo que dá título ao livro. Nascida em Ramos, criada na Zona Portuária, Mãe Meninazinha d´Oxum vive hoje em São Mateus, distrito de São João de Meriti. Contou muitas e ótimas histórias ao Paduana. Vai ser mais um livro sério na estante de quem é apaixonado por histórias deste Rio de Janeiro africano, latino, místico, sambista e sacana onde temos o privilégio de viver. Aguardem, parece que é em março o lançamento.
Os dois nomes que faltam? Alberto Mussa e Luiz Antônio Simas, que lançam neste dia 3 de fevereiro de 2010, quarta-feira que vem, na livraria Al-Farabi (Rua do Rosário, nº 30, uma obra de fôlego. Desculpem o clichê, mas é isso mesmo, só muito fôlego pode dar origem a um livraço, “Samba de enredo – história e arte”, surgido de uma pesquisa pra lá de séria sobre mais de mil composições do gênero. De onde vem o samba-enredo? Pois é. Da África.
Falando em samba-enredo, acabo de ler na coluna “No Embalo”, do chapa Cesar Tartaglia, página 14 do Globo, que é praticamente certo o enredo da Vila Isabel em 2011 tendo Angola como tema. Ideia do Martinho da Vila. Ótima ideia, diga-se. Ai, minha Portela, quando vais acordar? Vamos ter em 2011 mais um carnaval de sambas de escritório? Logo a escola do Monarco?

Na caixa, para homenagear os cinco autores cariocas, Martinho da Vila leva Patrão, prenda seu gado, de Pixinguinha, Donga e João da Bahiana. A Santíssima Trindade do samba.

domingo, 2 de agosto de 2009

O RIO DE JANEIRO NOS CONTOS DE AGUINALDO RAMOS

“Rio de amores” é o título do livro de contos que o coleguinha Aguinaldo Ramos, o Guina, lançará no dia 15 de agosto, sábado, das 16h às 20h, na Sorveteína – um simpático café que fica ali na São Clemente, 107 – loja B, a alguns passos do Metrô de Botafogo. Vai ter sarau e birita. Ou seja, que café que nada!
O livro é dividido em três partes: “Rio de amores” (12 contos, um para cada mês do ano), “Rodada carioca” (novela em dez rápidos capítulos) e “Outros mistérios” (que o autor define como “contos avulsos e um tanto ou quanto vadios”).
Como não ganhou a megassena, Guina – que foi repórter fotográfico do JB de sangue azul, nos anos 70 e 80 – montou um esquema para bancar a edição, pelo sistema de vendas antecipadas. Saiba tudo, ou um pouco mais, entrando no blog
http://riodeamores.blogspot.com. Vai logo lá que o livro entra na gráfica nesta terça-feira, 4 de agosto. Depois, é só esperar pelo correio ou receber o livro na tarde-noite de autógrafos.
Peraí, esta nota podia ter saído antes, né não? Ficou muito em cima. Pois é, desculpe Guina, mas andei distante do blog por causa do batente.
O último a chegar na Sorveteína é mulher do padre!

quinta-feira, 18 de junho de 2009

UM HOMEM DE BEM NA MIRA DAS MILÍCIAS

O parlamentar Marcelo Freixo (na foto) e seu assessor Vinícius George estão em risco de sofrer um atentado contra suas vidas por grupos milicianos do Rio de Janeiro. Planos foram descobertos pela polícia em uma busca e apreensão de milícias em maio. Parte de uma investigação de longo prazo contra membros de grupos de milícias que tomaram o controle de mais de cem territórios pobres do Rio de Janeiro, a busca também encontrou cartas do chefe da milícia de Rio das Pedras – um bairro na Zona Oeste da cidade –, um sargento antigo da polícia militar, solicitando suporte de outro grupo miliciano para assassinar a dupla.
Ao final da operação, não foram feitos esforços para deter o chefe da milícia de Rio das Pedras que enviou o pedido para assassinar Marcelo Freixo e Vinícius George. Ainda que os dois estejam sendo providos de alguma proteção, a Anistia Internacional considera que é fundamental o imediato reforço da mesma, em conformidade com o desejo de ambos.
Marcelo Freixo e Vinícius George começaram a receber ameaças de morte em junho de 2008 quando foi instalada a CPI para investigar a expansão das milícias no Rio de Janeiro, da qual Freixo foi presidente.
A CPI foi formada por parlamentares e investigou o padrão de envolvimento de governos estaduais nas atividades ilegais das milícias antes de apresentar seu relatório final, submetido ao Parlamento do estado e ao Ministério Público para potenciais processos penais.
Há preocupação, no entanto, que as recomendações feitas pelo relatório final da CPI não tenham sido plenamente implementadas pelas autoridades municipais, estaduais e federais, especialmente aquelas destinadas à criminalização e repressão das atividades de que financiam os grupos. Isto significou a continuidade de expansão das milícias apesar da detenção de alguns de seus membros-chave.
As milícias são compostas por policiais, agentes prisionais e bombeiros afastados que expulsaram traficantes de drogas das favelas alegando oferecer segurança. No entanto, efetivamente controlam comunidades através da violência, extorquindo dinheiro para provisão de segurança bem como serviços de gás, transporte, TV a cabo entre outros. Eles são acusados de empunhar o poder político, garantindo, através de intimidação, votos a certos parlamentares. Embora existam no Rio de Janeiro há algum tempo, a súbita expansão das milícias remonta a dezembro de 2006, quando mais de 100 favelas foram dominadas por grupos milicianos.
As tentativas de investigar e denunciar o papel das milícias no Rio de Janeiro encontrou ameaças e violência, incluindo o rapto e tortura de 3 jornalistas do jornal O Dia, acompanhados de um morador em maio de 2008 e o bombardeio de uma delegacia em julho.
O crescimento dos grupos milicianos pode ser atribuído há décadas de uma política de segurança publica baseada na negligência, violação de direitos humanos e impunidade de autores, permitindo que policiais criminosos e corruptos prosperem à custa daqueles que trabalham incansavelmente para servir à comunidade.
De acordo com recentes relatórios de jornais que citam a frouxa segurança e os privilégios usufruídos por policiais mantidos em detenção no “Batalhão Especial Prisional”, unidade prisionalespecial em que agentes policiais são detidos, acentua-se ainda mais a preocupação com a segurança dos dois homens.
O relatório das investigações policiais descobriu casos de autorização para saída de agentes para ameaçar ou matar testemunhas. Investigações policiais apontaram a prisão como “um terreno de recrutamento para assassinos”. Diversos membros das milícias se encontram detidos nessa unidade.
Recomendações:Envie apelos o mais rapidamente possível, em português ou na sua própria língua;
– Assegurando que para Marcelo Freixo e Vinicius George, ambos dedicados ao enfrentamento às atividades das milícias, seja fornecida uma proteção eficaz em conformidade com os seus desejos;– Instando as autoridades a realizar rapidamente uma investigação independente e imparcial de todas as ameaças contra Marcelo Freixo e Vinicius George; e que os responsáveis sejam levados à Justiça; – Instando as autoridades a denunciar publicamente as atividades das milícias e a definir um plano conjunto, com um cronograma claro, para implementar todas as recomendações da CPI para combater a propagação das milícias e do crime organizado;
– Solicitando que sejam dados passos eficazes para trazer à justiça os líderes e os membros das milícias;
– Instando as autoridades a tomar medidas imediatas para investigar o Batalhão Especial Prisional, e que as autoridades envolvidas nas atividades criminosas sejam levadas à Justiça.
Recebi essa mensagem e a transcrevo integralmente porque concordo com a urgência na tomada de providências que garantam a integridade de Freixo e Vinicius, bem como a continuidade do trabalho que fazem.
Os demais interessados devem usar os meios a seu dispor para divulgar esses fatos e destinar mensagens com esse teor ao ministro da Justiça, Tarso Genro; ao governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral; e ao procurador-geral de Justiça (MPRJ), Cláudio Soares Lopes.

sábado, 28 de fevereiro de 2009

REFLEXÕES DE INÍCIO DE QUARESMA

O terceiro lugar da minha querida Portela não é suficiente para me fazer acreditar na Liesa, no seu júri, em seus critérios de julgamento etc. Eu nem devia estar comentando sobre um desfile que mal assisti, fora uns flashes na volta dos blocos. Mas, por tudo que li de pessoas que realmente entendem, por tudo que ouvi de gente que respeito:
1) O Salgueiro mereceu ganhar. E mereceria muito mais se tivesse um samba de qualidade, e vocês sabem do que estou falando: do samba composto por Luiz Antônio Simas e Alberto Mussa. O enredo do Salgueiro foi um achado.
2) A Portela deveria ser vice-campeã. Só ficou em 3º lugar porque o esquemão Beija-Flor continua firme. Ou você duvida quem será a campeã de 2010?
3) O Império Serrano foi garfado novamente. Não há muito o que dizer além disso, Marechal. A coisa não foi feita para escolas como o Império ganharem. A Mangueira (que há muito se rendeu ao esquemão), o Salgueiro (grande responsável pela existência dele) e a Portela (que estava fora, mas seu atual presidente está doido para aderir) ainda têm chances.
4) A Mangueira não merecia ficar entre as seis melhores.
5) A Porto da Pedra ou a Mocidade, mesmo pelos critérios viciados da Liesa, é que deviam ter caído. Uma ou outra.
6) A briga entre os manda-chuvas da Viradouro e da Vila Isabel foi fundamental para mexer um pouco com a apuração viciada. Houve "traições"? É possível. Mexer um pouco, só um pouco, ano que vem volta tudo ao “normal”.
7) Carnavalesco não curte carnaval. Com exceção do Milton Cunha e de mais uns dois ou duas, os demais se sentiriam mais felizes participando daqueles concursos de fantasias bregas do Municipal e do Copacabana Palace.
8) Este ano, finalmente, as autoridades acordaram para o fato de que o Rio é muito mais carnaval de bloco do que Sapucaí. Acho que o marketing baiano já deu o que tinha que dar. Já se ouve até gente metidinha, que não gosta de carnaval, falar mal de trios elétricos.
9) Não sei se isso é bom. Quem realmente gosta, vai ter que pagar caro pela camisa do Bola Preta, que este ano custou R$ 15,00. Camisa de bloco sempre comprei, mas não pago por abadá. E você? Quer apostar como gente do Bola vai começar a vender os abadás antecipadamente, tal e qual nas micaretas?
10) Como ousam comparar - e alguns jurados compararam - o samba-enredo do Império Serrano com bobagens sempre iguaizinhas às bobagens dos anos anteriores?
11) Zezé de Camargo e Luciano foram a uma das feijoadas da Portela. Não vou mais lá enquanto esse presidente mandar. Mesmo que a Portela seja campeã graças a ele.
12) Agora a coisa vai: a global Grande Rio agora é séria candidata ao título, a partir da contratação de Ciça, o mestre fanqueiro.
13) Querem apostar como vai ter até trio elétrico em breve na Sapucaí, substituindo os puxadores?

sábado, 21 de fevereiro de 2009

SOU MAIS O REI ZULU E A MARIA ESCANDALOSA

Os blocos em que os foliões cantam marchinhas antigas são os melhores. O Bola Preta era tão bom que cresceu muito e foi invadido por antifoliões, mas a receita mágica continua dando certo. O Céu na Terra enchia muito para a geografia acanhada de Santa Teresa e fazia sucesso, desde os primeiros clarões do sol, por ser um bloco de marchinhas. No Cordão do Boitatá e em sua “dissidência”, o Boi Tolo, o pessoal se esbalda ao som de “Mamãe eu quero”, “Pirata da perna de pau”, “Aurora” e “Cabeleira do Zezé”. Tomara que continue assim por bom tempo. O melhor bloco que havia aqui em Niterói, Se Melhorar Afunda, rachou e acabou. Era bom demais por causa ... das marchinhas! Não citei um monte de blocos bons, mas cada um sabe do que gosta mais.
Bloco com samba, o mesmo samba se arrastando na avenida, não dá mais. Pra começar, a qualidade das letras e músicas quase sempre é ruim. Eu já fui jurado e ajudei a escolher mal no bloco dos jornalistas do Rio, o Imprensa que eu Gamo. Vou ganhar um monte de inimigos agora, mas nunca o Imprensa saiu com um bom samba. O melhorzinho foi o do Larry Rother, que teve como tema a briga do Lula com aquele americano do New York Times. Este ano teve um bom samba concorrendo e um passarinho me contou que não ganhou porque era politicamente incorreto. Pode isso, no carnaval?
Aliás, o Imprensa enche, é legal, não posso reclamar do bloco e não vou deixar de ir nele por nada – a Rita até me botou lá no alto do caminhão dessa vez, hehehe. No entanto, as disputas estão cada vez mais chatas. Parece escola de samba, muita política, a coisa girando em torno de amizades pessoais, gente te virando a cara quando percebe que você gostou mais de outro samba (depois, a coisa volta ao normal, mas isso enche o saco). Este ano, teve um grupo que até fez camisa para a torcida de determinado samba. Não era um samba ruim e perdeu. Um dos parceiros é até meu chapa. Mas o que ganhou não era tão melhor. Posso falar muito porque já ajudei a escolher mal. Outra coisa ruim do Imprensa: as letras são sempre previsíveis. São sempre colagens das notícias mais fortes.
O Simpatia é Quase Amor às vezes é exceção. Já teve bons e até ótimos sambas. Tenho em casa o CD comemorativo dos 15 anos do bloco e vale a pena ouvir quase metade dos sambas. Outros blocos sem-vergonha, do jeito que o diabo gosta, como o Bloco do Bigode, são muito legais porque têm letra e melodia fáceis e animadas. Mas, em geral, os sambas de blocos são ruins, chatos, com exceções boas evidente. Fico matutando cá com meus adereços de mão e desconfio que o problema é este mesmo: samba em vez de marchinha. O Bloco do Barbas chega a ter dois sambas e o resultado é ruim, sobretudo quando um dos sambas é muito melhor do que o outro. E muito ruim quando os dois empatam...
Bloco pode e deve cantar samba sim, mas o forte devia ser marchinha. Escola de samba é para os Silas, Walter Rosa, Paulo Brazão, Jurandir da Mangueira, Bala etc. Bloco é a cara de Braguinha, de Lamartine Babo, de João Roberto Kelly.
Eu sei que tem coisas mais importantes acontecendo no mundo, e daí?

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

QUEM NÃO CHORA, DEFINITIVAMENTE, NÃO MAMA

Não é preciso muito esforço para juntar multidão. Basta reunir os primos do Nei Lopes, os filhos do jornalista Fernando Paulino Neto (o Nando, também conhecido como Coelho) e os afilhados da Beth Carvalho. Acrescente os fundadores do PT (engraçado, até gente que em 1980 torcia para os militares não largarem a rapadura hoje diz que fundou aquele ex-partido) e os desafetos do Galvão Bueno. Junte os puxa-sacos do presidente em exercício, seja ele quem for. Pronto! Mais de 200 mil pessoas pulando e se divertindo no Cordão da Bola Preta.
Pulando e se divertindo? Quem dera. Já foi tempo. O Bola saía da Cinelândia, seguia um quarteirão da Araújo Porto Alegre, dobrava na Rua México, festejava na Nilo Peçanha, atravessava a Rio Branco, tomava um banho de mangueira na Rua da Carioca e circundava a Praça Tiradentes, de lá voltando ao ponto de origem, triunfal, ocupando a Rio Branco tomada de gente animada de todas as idades.
O bloco cresceu demais e ficou grande para certos trechos do Centro do Rio. Durante uns dois ou três anos, o trajeto foi mudado. O cordão passou pela espaçosa Presidente Antônio Carlos, em lugar da acanhada México. Foi bom, mas continuou crescendo e a Araújo Porto Alegre ficou inviável. Há vários anos, o Bola festeja apenas na Rio Branco, indo da Cinelândia até a Candelária, e voltando.
Já dava para brincar melhor, pois não? Mas sempre tem uns filhos da puta que atrapalham a diversão do povo. No caso, um monte de babacas – e nenhum tem parentesco com o Nei ou com o Nando – de todas as idades que ficam parados, feitos dois de paus, na frente do caminhão com a orquestra. Virou programa ir ao desfile do Bola só para atrapalhar. Já ouvi garotão musculoso e menininha saradona berrando no celular, latinha de cerveja na mão:
“Manhêêê! Tô aqui pulando no Bola. O carnaval do Rio é o máááximo! Como? Não estou entenDEEENdo! Tá tudo bem, vou desligar!!!”.
Que vontade de ver o caminhão passando por cima desses chatos, os seguranças do Bola enfiando a raquete neles!
Não sei ainda o que fazer na manhã de sábado de carnaval, há tantos anos, mesmo sob aguaceiros, preenchida pelo querido Cordão da Bola Preta. No domingo, ainda dá para ir ao Boitatá. Segunda de carnaval, que era talvez a parte mais sem graça do tríduo momesco, parece que deu uma levantada. Terça, bem, terça é um mistério. Soube que um dos melhores blocos – o Se Melhorar, Afunda, aqui de Niterói – fechou as portas e um grupo montou um bloco que sai na Zona Sul cantando músicas de Roberto Carlos (!!!) em ritmo de marchinhas.
Tem “nêgo bêbo” aí, tem "nêgo bêbo" aí!