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sábado, 28 de agosto de 2010

SEU ALUGUEL EM TROCA DE UMA VAGA NO CÉU


O vídeo acima é antigo. Tem meses, talvez mais de um ano. Se isso o que foi dito por esse "pastor" Silas Malafaia não é considerado um ato criminoso pela Justiça, pelo Ministério Público e pela Polícia, estamos realmente muito mal. Melhor entregar logo o ouro ao bandido. Pensando bem, até o Maluf perto desse homem é um santo. O único fato positivo nesta gravação é que o "pastor", com a voz alterada, imagina ouvir de um seguidor a frase: "A coisa anda ruim pro meu lado". A coisa deve andar muito ruim mesmo, mas para o lado dele, Malafaia. Ato falho na certa. Daí o pedido desesperado de dinheiro.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

WILSON GREY E JOHN WAYNE NA TERRA DO SOL



A expressão de Wilson Grey era a mesma, e a idade talvez seja também. Em 1975 ou 1976, sei lá, o grande buchicho na minúscula Travessa Ator Jayme Costa era a competição sobre quem seria o ator recordista de filmes do planeta. Nós, do curso de Cinema da UFF, por motivos patrióticos, sentimentais, corporativistas, ideológicos e etílicos, torcíamos descaradamente pelo eterno vilão do cinema nacional. Ainda mais porque seu competidor direto era John Wayne, o cowboy americano, o sobrinho favorito do Tio Sam e do Tio Patinhas.
Enfim, Wilson Grey era a esquerda latino-americana, e John Wayne, o capitalismo imperialista. A competição ganhou as páginas do Caderno B e de outros suplementos culturais. A coisa ficou animada.
Tudo bem que outro brasileiro, o grande José Lewgoy, também era um vilão, só que refinado, chefe de gangue, mentor de crimes horrendos, por vezes até usando monóculo.
Wilson Grey era o vilão pobre, suburbano, de má formação dentária, semialfabetizado que tentava “falar difícil”. Lewgoy era um grande ator e cansou de atuar em papéis principais. Grey foi o melhor dos nossos coadjuvantes e só uma vez na vida (“O mágico e o delegado”) teve o papel principal.
Virou uma espécie de programa de alguns alunos de Cinema dar uma passadinha na travessinha da Cinelândia, onde atores e técnicos se reuniam para saber das novidades – quem estava filmando, onde poderia pintar trabalho etc.
Nosso barato era entrar na conversa daqueles malandros velhos, tentar uma vaguinha qualquer nos filmes. A coisa sempre terminava ali bem perto, no bar Tangará, para fechar o fim de tarde com as primeiras doses da noite.
Foi nessa época que meus chapas Albertino da Paz Ferreira e Chico Moreira tiveram a ideia de fazer um filme no Jockey Club, na Gávea. Me chamaram para cuidar do som, pilotando um sensacional e moderníssimo gravador Nagra. Moderníssimo foi modo de dizer.
O título da pantalla seria “Ponta e Placê”. Tomada a decisão, pegamos o Nagra 4 e a Arriflex BL 16 mm que a Embrafilme sempre emprestava aos alunos da UFF e partimos rumo ao prado. Foram vários dias de filmagem. Falamos com treinadores, jóqueis, bilheteiros que sempre queriam nos passar uma barbada (davam falsas barbadas para todos, na esperança de ganhar um qualquer, caso o chute desse certo) e até com o Bolonha, figura imponente e folclórica do lugar, neto ou bisneto do Duque de Caxias e eterno adversário da família Paula Machado.
Minha geração foi marcada por muitos projetos irrealizados e o “Ponta e Placê” foi um deles. Ficou só no copião, esquecido em algum canto do IACS (Instituto de Artes e Comunicação Social) da UFF.
O diretor Albertino sumiu da área por uns tempos, depois resolveu ficar somente com seu emprego no Banco do Brasil. O fotógrafo e montador Chico Moreira conheceu Sílvio Tendler, com quem trabalhou nos documentários sobre Juscelino e Jango. E eu resolvi que seria só jornalista, que esqueceria aquele negócio de virar roteirista.
Mas esse projeto, mesmo não tendo ido adiante, teve um “the end” à altura. Numa das filmagens na parte externa do hipódromo, perto da bilheteria, havia um telão para que os apostadores que não queriam ver a corrida lá dentro, nas cadeiras, pudessem acompanhar os resultados de cada páreo ali fora.
Adivinhem quem estava lá. Ele mesmo, Wilson Grey.
Malandro de raciocínio rápido, bastou ver aqueles três garotos empunhando Arriflex, Nagra, pau de luz e claquete para ficar no enquadramento perfeito. Coisa de profiça. Olhando o telão, atento, mordendo a haste dos óculos, simulou que havia acertado o cavalo ganhador e deu até um pulo para comemorar.
“Corta!”, disse o Albertino, emocionado com a cena.
No que o velho ator vibrou:
“Eu, eu, eu! John Wayne se fodeu! Ganhei, porra! Com este, são 251 filmes!”.
Na verdade, não lembro o número de filmes que ele citou. O fato é que John Wayne teria feito 250 filmes, quase 99% deles como ator principal. Dane-se! Wilson Grey correu por fora, passou o alazão ianque e venceu por uma cabeça, sem necessidade de esperar o photochart para conferir.
Quer dizer, foi o que pensamos na ocasião.
Infelizmente, Wilson Grey morreu puto da vida com essa história de recorde. Parece que do John Wayne ele ganhou mesmo, em quantidade de filmes. Mas na última volta, surgiu do nada, em outra raia, um fdp de um ator indiano, pioneiro daquilo que ficaria mais tarde conhecido como Bollywood.
Superou, por um ou dois filmes, o verdadeiro homem que matou o facínora e o inimigo de Oscarito e Grande Otelo.
E ainda deve ter comemorado à moda Grey:
“Eu, eu, eu, o Ocidente se fodeu!”.
Na trilha sonora, "Os Bohemios", de Anacleto de Medeiros, com o Art Metal Quinteto.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

BIRA DA VILA E O CANTO DA BAIXADA FLUMINENSE



Bira da Vila é daquelas figuras que imediatamente estabelecem empatia com Deus e o mundo. Tem mais: é um compositor enraizado em sua Baixada Fluminense, pois sua Vila não é a Isabel do Noel e nem a Vila da Penha de seu querido amigo e parceiro Luiz Carlos da Vila. Bira é da Vila São Luís, no primeiro distrito de Duque de Caxias.
Pesquisador da história musical da região onde nasceu e vive, o Bira é também um cara tinhoso que resolveu fazer um CD importante. Não apenas mais um CD de samba, mas um documento sonoro para registrar, além dos sambas que fez com Luiz Carlos da Vila e Serginho Meriti, entre outros, outras canções bem mais antigas de compositores como Cabana, Osório Lima, João da Paz, Toninho Barros, Jairo Bráulio e Anésio. E assim nasceu “O canto da Baixada”.
Nessa pesquisa, ele teve até orientador: o radialista Adelzon Alves, um profundo conhecedor da matéria e responsável durante décadas por um programa que fez a cabeça de muita gente que até então não ligava muito para esse que é o ritmo brasileiro mais conhecido no mundo.
Em 2002, em parceria com Riko Dorilêo, Bira compôs Ventos da liberdade, uma música tocada todos os dias nas rádios do país. Que país? Angola, onde esta canção é considerada quase um hino de libertação. “Então leva”, gravada por Zeca Pagodinho, e “O daqui, o dali e o de lá”, que na faixa do CD do Bira tem a participação de Beth Carvalho, foram outros sucessos mais recentes.
Depois de dois ou três anos atrás de patrocínio, Bira enfim está lançando “O canto da Baixada”. Vai ser na terça-feira, dia 8 de junho, a partir das 19h, no anfiteatro do Clube de Engenharia, que fica na Avenida Rio Branco 124/25º andar, Centro do Rio.
Mas não espere tanto para pegar seu disco e o ingresso para o show: já estão à venda na Livraria Folha Seca, na Rua do Ouvidor nº 37, naquele pedacinho que fica entre a Primeiro de Março e a Travessa do Comércio, bem próximo à Praça 15. Por 30 pratas, você leva o ingresso e o CD, e prestigia esse projeto 100% independente, porque o dinheiro – aqui ó! – não saiu até hoje e o Bira precisa da grana para garantir a galinhada que prepara pessoalmente, sempre chamando os amigos, na Vila que lhe deu o sobrenome.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

O VEREADOR RUIM DE PROJETO E "BOM" DE PORRADA

A figura em questão exerce as funções de vereador na cidade onde vivo. Como quase todos os colegas dele na Câmara Municipal - com raríssimas exceções - não trabalha para a coletividade. O negócio dele (deles) é atuar no campo do clientelismo. O salário é pago pelo povo de Niterói, começando pelos vizinhos e pelo mais humilde dos envolvidos no fuzuê, o porteiro do prédio, surrado por ele e pelos seguranças particulares do político. Estes, por sua vez, nem zelam por segurança alguma e, apesar de "particulares", são pagos direta ou indiretamente com dinheiro público. Quem reclamou do barulho da festa depois do horário de silêncio - que em muitos bairros de Niterói é uma ficção - foi destratado e agredido. As câmeras de vigilância captaram tudo e o vídeo foi parar no telejornal. Mas, como sou pessimista, ou melhor realista, aposto: querem ver só como a figura é capaz de se reeleger? Um motivo: do bairro do Ingá, seu reduto eleitoral, com o "apoio" dele, saem nos dias de jogos ônibus lotados de torcedores do Flamengo, do Vasco, do Botafogo e do Fluminense. E sempre tem um churrasco 0800, uma cervejada, uma festa na rua e coisa e tal, para amarrar esse tipo de eleitor que, infelizmente, ainda existe em Niterói e em muitas e muitas cidades brasileiras.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

O TRADUTOR DE SURDOS-MUDOS DE MOÇAMBIQUE


O tradutor pode ser um traidor, como dizem os italianos ("tradutori, traditori"). Se tem uma coisa que eu não suporto são as legendas para surdos-mudos nos canais da TV aberta. A ideia é ótima, mas as legendas às vezes são um amontoado de bobagens. Ou seja, nem agradam aos deficientes auditivos nem aos que ouvintes. E a gente ainda fica sem saber quem está falando, de onde está falando. Mas esse tradutor que a Frente de Libertação Nacional de Moçambique arranjou para esculachar com os corruptos, com a prostituição e com os maconheiros (surumáticos), esse cara é genial. O vídeo foi enviado por meu chapa Eduardo Varela.

sábado, 8 de maio de 2010

O HOMEM QUE SABIA DEMAIS E ASSINAVA TUDO


Mestre do suspense, o inglês Alfred Hitchcock é conhecido também por assinar seu longo trabalho no cinema com criatividade. Os cinéfilos se divertem em lembrar suas aparições - as assinaturas - em cada um dos 40 filmes que dirigiu. Este vídeo do Youtube reúne boa parte dessas cenas antológicas em obras-primas como Psicose, Pacto Sinistro, Um Corpo que Cai, Janela Indiscreta, Os Pássaros e Frenesi, entre outras. A que gosto mais é o anúncio do remédio para emagrecer no jornal lido por um ator do filme Um barco e nove destinos.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

UM CONSELHO DE STEPHEN HAWKING

Stephen Hawking sabe das coisas. A última do físico britânico foi alertar a humanidade, em entrevista à BBC que o G1 publicou neste domingo, para que evite contato com extraterrestres.
“Se alienígenas nos visitassem, as consequências seriam semelhantes às que aconteceram quando Colombo desembarcou na América, algo que não acabou bem para os nativos”.
Em vez de procurar sarna para se coçar em outros mundos, o cientista aconselha os humanos a olharem para si mesmos. Para ver se encontram vida inteligente.

domingo, 11 de abril de 2010

CIDINHA CAMPOS: "A CORRUPÇÃO ESTÁ NO DNA"


A corrupção não é invenção brasileira, mas às vezes até parece ser. No Rio de Janeiro, historicamente mal servido de políticos desde, pelo menos, a mudança da capital para Brasília, em 1960, a velhacaria infesta, impera e prospera. A corrupção pode ser nacional, sistêmica, endêmica, pluripartidária e hereditária. Mas estamos falando do Rio e aqui, como diz a deputada estadual Cidinha Campos, ela vem até no DNA. É por isso que o Rio perde tanto, apanha tanto, no Parlamento Nacional, onde oportunistas como Geddel Lima conseguem emplacar 61% das verbas federais para, supostamente, ajudar o povo da Bahia a enfrentar os desastres naturais, enquanto as bancadas cariocas na Câmara e no Senado nada fazem e, por isso, apenas 1% desses recursos são destinados ao estado. Ou como o gaúcho Ibsen Pinheiro, que hoje tenta inviabilizar a própria existência do Rio com sua emenda sobre o petróleo. Felizmente existem ainda poucos, como Cidinha. Notem como sua voz, sua emoção e sua indignação são recebidas inicialmente com chacotas e risinhos abafados, e logo depois tudo isso vira um silêncio enorme. Um erro qualquer tirou o vídeo e o texto do ar. O vídeo voltou, o texto é quase o mesmo.

domingo, 31 de maio de 2009

O MARECHAL QUE NÃO BRINCAVA EM SERVIÇO


Esse jingle em forma de marchinha foi composto há 50 anos por Rutinaldo Silva e Vicente Amar e foi estopim de polêmicas no comando da campanha do marechal Henrique Teixeira Lott à presidência da República. Não era tocado fora do antigo Estado do Rio, que, para quem não sabe, era o mesmo estado em que nos encontramos, menos a cidade do Rio de Janeiro, então Distrito Federal, capital da República, depois Estado da Guanabara, hoje capital do RJ.
O sururu teve origem na letra esquerdista da marchinha, que contrastava com o perfil do Lott, candidato da coligação PSD-PTB à sucessão de Juscelino Kubitschek, militar legalista, avesso a golpes na política e nos quartéis, mas antes de tudo um homem conservador. De comunista, de esquerdista, Lott não tinha nada. Mas era o melhor candidato na época. O outro, que o venceu, Jânio Quadros, renunciou sete meses após assumir o cargo e, de certa forma, sua tresloucada passagem pela política abriu caminho para o golpe militar de 1964.
Em certo trecho do jingle, os autores dão o seguinte recado:
Quem for contra a democracia,
vai entrar em fria, vai entrar em fria
A turma que não gosta do trabalho,
vai cair do galho, vai cair do galho
E os entreguistas vão levar sumiço
porque o marechal não brinca em serviço
”.
Recado mais claro, impossível. Se eleito fosse, de acordo com a marchinha, Lott mandaria para a cadeia ou para o cemitério aqueles que a turma do PTB fluminense considerava inimigos da Pátria. Claro que Lott não seria tão radical – esse perfil não condizia com ele. Mas era a grande aspiração de parte de um eleitorado, cansado de certos varejos da política.
No resto do país, o jingle do marechal foi outro, bem mais ameno.
Nas eleições de 1960, como todos sabem, Jânio ganhou de Lott em quase todos os estados da federação. Uma das poucas exceções foi o antigo Estado do Rio, na época governado por Roberto Silveira, que encomendou o jingle à dupla de compositores.
Muitas e boas histórias daquela campanha eleitoral são contadas no livro “Como não se faz um presidente”, do jornalista mineiro Milton Senna, esgotado há décadas. Senna, que queria Lott em Brasília, acompanhou o candidato pelo país afora e foi excelente observador de episódios e detalhes que contribuíram para a derrota do marechal.
A comparação que faz dos dois candidatos mostra como Jânio, uma raposa para galinheiro nenhum botar defeito, era extremamente atento ao burburinho das ruas, enquanto seu oponente perdia terreno por conta da integridade ingênua.
Sempre que convidado para algum comício, evento, solenidade, etc., Jânio perguntava antes:
– Tem povo? Se tiver povo, eu vou!
Já o marechal, em mais de uma oportunidade, quando os cabos-eleitorais tentavam tirá-lo do chão para criar aquela imagem, muito em voga nos anos 50 e sempre reproduzida pelos jornais, do “candidato nos braços do povo”, dava um esporro em regra nesses auxiliares:
– Não me tirem do chão. Tenho pernas!
Só que as pernas não o levaram para o Palácio da Alvorada, na época o palácio do governo, hoje residência do presidente da República.

sexta-feira, 29 de maio de 2009

QUE BELA COLEGA DE TRABALHO, RRROOOCHAAA!


Entrevistei o Brizola uma vez, para o Jornal do Brasil. Aliás, entrevistamos, eu e a repórter Valéria Blanc. Eu era subeditor da Política e o que nos levou ao encontro da lenda trabalhista foi um arranca-rabo entre ele e o então ministro da Justiça do governo Itamar Franco, Maurício Corrêa.
Maurício Corrêa também era do PDT e as coisas não andavam muito bem entre ele e Brizola, o chefe do partido. Como a entrevista foi marcada numa sexta-feira, dia de pescoção, e teria que ser publicada no domingo, foi uma correria só. Levando-se em conta que Brizola nunca respondia ao que lhe era perguntado, a menos que quisesse muito falar a respeito, e que era preciso escrever material suficiente para fechar uma página, a editora Regina Zappa achou boa a idéia de irem dois para a entrevista, marcada para o fim da tarde e que teria, portanto, de ser escrita no fim da noite ou de madrugada. Não levamos fotógrafo, as fotos seriam mesmo do arquivo e a página estava desenhada.
O detalhe é que eu não esperava esse compromisso e estava com blaser, mas sem gravata. Brizola não se importaria com isso, mas seria melhor o traje completo. Pedi emprestada ao jovem repórter Luís Antônio Ryff, neto do queridíssimo Raul, uma bela gravata vermelha. Saímos da Avenida Brasil, eu e a Valéria, e fomos recebidos no apê do homem, na Avenida Atlântica. Tentamos fazer algumas perguntas, mas ele era mesmo incorrigível. Só respondeu algumas. A matéria nem era tão boa, pois as declarações mais fortes (e nem tanto assim) foram do ministro, que, se não me engano, nos deu por telefone.
Logo de cara, uma cena engraçada. Ao me ver, e já sabendo nossos nomes, elogiou a gravata, para todos os efeitos minha:
– Rrrrocha! (nunca ninguém me chamou assim, com tantos “erres”). Que bela gravata! Estás parecendo um maragato! Veja a minha, o que acha?
Não sou entendido em moda, mas posso garantir que nunca vi gravata tão horrorosa. Era azul clara e tinha o desenho de um canguru. Acho que ele tinha várias iguais aquela.
– É australiana!
Como se eu não soubesse. Brizola naquela época, era apaixonado pela Austrália, que deve ser um Uruguai grandão. Essa mania pela Austrália nunca me convenceu, acho que foi uma bela sacada dele para deixar os militares (ainda no poder, mas já em tempo de distensão) menos nervosos. Valéria, visivelmente, segurava o riso. Eu já havia percebido duas coisas: uma, que o entrevistado não ia nos oferecer nada de bom; e duas, que o foco de seu interesse era aquela moça loura, alta, bonita e muitíssimo bem-humorada.
A conversa durou meia hora, se tanto, uma abobrinha atrás da outra. De repente, levantou-se e prometeu que teríamos material para escrever, pois a entrevista continuaria depois de outra, já programada, no estúdio do SBT no Rio, com o Bóris Casoy. Fomos até São Cristóvão e na TV o caudilho não agiu diferente. O Bóris tentava, tentava e nada de bom saía. A coisa durou uns 10 ou 15 minutos, com tela dividida, e quando terminou já passava de onze e meia.
– E a nossa entrevista, governador? É para domingo, depois de amanhã.
– É claaaro que vamos charlar! Vamos encontrar um local melhor para vocês.
E, para mim, mas acho que em tom alto o suficiente para que a moça ouvisse:
– Mas, francamente, Rrrrrocha, que bela colega de trabalho tu tens!
Seguimos no carro dele, eu e Valéria no banco traseiro, Brizola no carona, tendo atrás e na frente mais dois carros com os seguranças. Fomos parar, a nosso pedido, na esquina da Avenida Brasil com aquela rua da igreja, cujo nome esqueci, bem em frente ao JB.
Entrevista? Quem dera. O tempo inteiro, Sua Excelência alternava conversa fiada e elogios à jovem repórter. Num dado momento, o sacana do Leonel não resistiu e, como quem não quer nada, deu um jeito de colocar a mão no joelho da coleguinha, mas de um modo que poderia parecer meio paternal. Profissa!
Só que o nosso deadline estava estourando e, pensando bem, o pouco que ele nos contara, juntando com o desabafo do Maurício Corrêa, já daria para o gasto. Quando viu que a coisa estava caminhando para um terreno perigoso, Valéria, muito franca, mas sem passar recibo, cortou o barato do sucessor de Getúlio e Jango e praticamente me empurrou para fora do carro. Saímos correndo feito loucos não só para tentar um segundo, em vez de terceiro clichê. Não dava mais para segurar as gargalhadas.
A matéria rendeu meia página de texto e o resto enchemos de fotos.

O JORNALISTA QUE MORREU DE FOME


Morrer de fome existe sim, não apenas no sentido figurado, que o digam os desabrigados do Maranhão e de outros estados castigados pelas chuvas e enchentes no Nordeste. Até jornalista morre de fome. Teve um que, desempregado, virou mendigo no Campo de Santana, e não tem tanto tempo. Não sei por onde anda. Tomara que esteja muito bem.
O caso mais famoso, porém, aconteceu há quase 100 anos. Gustavo de Lacerda, de pai branco e mãe escrava, socialista radical, chegou ao Rio de Janeiro, vindo de Santa Catarina, e trabalhou em vários jornais importantes, como O País, onde o pagamento era em vales.
Foi um dos idealizadores do Congresso Operário Brasileiro e, enfrentando muita oposição, um dos criadores e primeiro presidente da entidade que, em 1908, começou a prestar assistência aos profissionais de imprensa e seus familiares, o que incluía atendimento médico e até moradia.Um ano depois de fundar a ABI, Gustavo de Lacerda morreu, aos 55 anos, num leito da Santa Casa de Misericórdia. Subnutrido.

O DIA EM QUE O POVO SAUDOU O REI ERRADO


Foi em 1990, ano em que Pelé completou 50 anos de idade. Todos os jornais e suplementos esportivos do país fizeram matérias grandes para contar tudo sobre a vida do Edson Arantes do Nascimento dentro e fora do gramado. Teve até jogo na Europa entre as equipes do Brasil e do Resto do Mundo, reunindo craques do passado. Falando nisso, fomos derrotados por 2x1.
Aproveitando o embalo, Odair Pimentel, repórter esportivo do Globo na sucursal de São Paulo, lembrou uma ótima história. O Santos dos áureos tempos excursionava pela África e era sempre aquele frenesi dos fãs no Pelé, que mal conseguia andar sem ser perturbado pela moçada.
Como Odair tinha certa semelhança com seu grande amigo, o Rei, topou a brincadeira sugerida por alguém da delegação e se fez passar por Pelé. Mal desembarcou no aeroporto, usando a camisa dez, foi cercado por uma multidão. Desfilou de carro aberto e coisa e tal, sendo ovacionado, beijado, abraçado, cuspido, essas coisas. Tem uma versão segundo a qual uns guerrilheiros do país africano estavam meio revoltados e teriam planejado um atentado e teria sido esta a razão do Odair se apresentar como sósia-cobaia.
Seja como for, deu tudo certo. Naquele dia, Pelé foi poupado do carinho das massas e conseguiu sair do avião sem ser percebido. O que Odair Pimentel nunca esqueceu é que foi o Rei por um dia.
Voltando a 1990, nosso editor de esportes era o Mário Marona, que pediu ao então redator, hoje repórter, Márcio Tavares para ler o relato do Odair, escrever a matéria, legendar e titular.
Márcio Tavares fez o combinado. Mas resolveu aprontar com o chefe. Marona quase caiu da cadeira ao ler o título que o Márcio botou:
“O dia em que o povo saudou o crioulo errado”.
Pura sacanagem, evidente. O título verdadeiro era outro – se não me engano, “O dia em que a multidão saudou o Rei errado”.

O TÍTULO DA CONDESSA


Mais uma do Emmanuel, tendo como personagem Maurina Dunshee de Abranches, que o povo do JB chamava de “Senhora Condessa” sem puxa-saquismo. A velhinha era querida mesmo daquela gente:
“Eu nunca trabalhei no Jornal do Brasil, a não ser como correspondente por meia dúzia de dias em Volta Redonda, quando andei por aquelas bandas. Mas conheci a condessa Pereira Carneiro em 1977, na inauguração do Museu Histórico, ali onde um dia foi Palácio do Ingá. O governador Faria Lima compareceu, e onde tem governador tem aquele bando de seguranças, jornalistas, deputados e, principalmente, puxa-sacos. Foi quando vi a condessa, sozinha, longe da muvuca e dos refletores, caminhando pelo corredor e apreciando os quadros.
Fui lá, puxei conversa, e o papo rolou até quase a festa acabar. Cativante, a condessa. Riu muito quando contei que escapei por pouco de ser repórter do JB, graças a um “dinessauro” que perambulava por lá, nos idos de 1966. E eu ri muito quando ela contou do título de Cidadã Niteroiense que foi obrigada a recusar.
Não, não. A condessa não cometeu nenhuma grosseria com a Ilustríssima Câmara da Invicta Cidade (na foto). Fina, educada, culta, seria incapaz disso. Qualidades tinha de sobra para merecer qualquer título que lhe quisessem dar, até mesmo o de condessa, que a rigor não tinha, porque essas mercês concedidas pelo Papa não são hereditárias nem transmissíveis pelo casamento.
O motivo foi outro. Numa daquelas enxurradas de títulos de cidadania que acontecem todo mês de novembro, algum vereador lembrou que a condessa, figura tão importante do cenário nacional, nunca tivesse sido agraciada. Mais que depressa foi lá e tascou o projeto, aprovado por unanimidade: “Fica concedido à condessa Pereira Carneiro o título de Cidadã Niteroiense etc e tal”.
Aprovação unânime, como sói acontecer em casos tais. O presidente da Câmara era o vereador Luís Morgado, que deu solenidade à coisa, comparecendo com uma comitiva edílica à sede do JB, para comunicar a homenagem e pedir que ela marcasse data para vir receber, em sessão solene.
Foi aí que dona Maurina, emocionadíssima, sensibilizada pela lembrança e pelo gesto da Câmara, que agradeceu mil vezes, deixou os vereadores de cara no chão, quando disse que não podia aceitar o título.
Por uma razão muito simples: ela era nascida em Niterói, ali pelos lados da praia de Itapuca".

A REMINGTON VOADORA DO VELHO PARAHYBA


Bruno Cartier, ainda adolescente, queria porque queria ser jornalista. Pegou emprestados um paletó xadrez e uma gravata de bolinhas, e foi pedir emprego na Rádio Globo. Nada feito. O diretor da emissora disse que não tinha trabalho para lhe oferecer e ainda tentou demovê-lo daquela maluquice.
“Onde já se viu? Você ainda é um garoto, tem muito futuro pela frente. Vai estudar!”.
No entanto, tinhoso, marrento, aos 18 anos, em 1975, foi admitido pela Tribuna da Imprensa como... linotipista. Vivia rondando a redação e, após um ano ralando na oficina, cheio de queimaduras provocadas pelo chumbo derretido, conseguiu uma vaga na Editoria de Esportes.
Naquela editoria, Bruno conheceu um sujeito quase cego de um olho, meio capenga e com fama de brabo, Arthur Parahyba. Certo dia, o editor, que se dizia analfabeto, perguntou-lhe com quem o Botafogo ia jogar. “Acho que é com o Olaria”, respondeu Bruno, que só teve tempo de pular para desviar o esqueleto da Remington que o velho furioso arremessou-lhe aos berros:
– Aqui dentro ninguém acha porra nenhuma!!! Se não souber, apura!!! Bruno diz que nada do que aconteceu nos 30 anos seguintes teve tanta importância para sua formação profissional.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

BARRETO ERA PINTO PERTO DESSA GENTE


O cidadão ao lado, Edmundo Barreto Pinto, foi o primeiro político brasileiro que teve o mandato cassado na história republicana, por ter posado de cueca para uma foto publicada na revista “O Cruzeiro”. Isso aconteceu em 1946. Barreto Pinto perdeu o mandato por quebra do decoro parlamentar. Seus colegas da Câmara dos Deputados tomaram a decisão porque avaliaram que a foto ridicularizava todo o Poder Legislativo.
Hoje, outro deputado, Sérgio Moraes, foi afastado da relatoria do conselho de ética por ter afirmado que se lixava para a opinião pública. Mas ganhou logo o apoio do líder do governo, Cândido Vacarezza, e está recebendo muitos tapinhas nas costas.
Moraes, cujos (maus) antecedentes criminais também foram fartamente divulgados pela imprensa, anunciou que vai recorrer ao Supremo. Decoro parlamentar? O que é isso mesmo?
O barulho de fundo para tanta esculhambação é produzido pela orquestra desafinada do programa humorístico PRK-30, do tempo do Barreto Pinto.