sexta-feira, 29 de maio de 2009

O URUBU QUE NEM MORTO PARAVA QUIETO


Tem histórias tão malucas que duvidamos que tenham realmente acontecido, mas esta ouvi de tanta gente que pode até ter acontecido mesmo. Não esqueçam da frase final do filmaço “O homem que matou o facínora”, de John Ford: “Se a versão é melhor do que o fato, publique-se a versão”, algo assim.
Houve um acidente de trânsito na Presidente Vargas, de pouca gravidade. Os dois motoristas se feriram, mas todos os jornais foram cobrir porque rolou nas redações que a colisão fora provocada por um urubu, que, aliás, foi a única vítima fatal.
Fotógrafos e repórteres policiais adoravam histórias assim. E cada jornal contou o episódio de um jeito.
Primeiro teria chegado a equipe do JB, que achou o urubu estendido no chão, a uns dois metros do carro mais batido. Veio o fotógrafo e clicou a cena do “crime”, mostrando o falecido em primeiro plano. Uma foto, evidentemente, produzida. O urubu e o carro destroçado não sairiam juntos na foto se o fotógrafo não tivesse colocado a ave preta um pouquinho mais perto do carro.
A turma do Diário de Notícias teria chegado depois, mas em questão de minutos um dos carros já teria partido e o jeito que o fotógrafo encontrou foi parar outro veículo, com sinais de algum acidente recente, para fazer a grande foto da tragédia. Para compensar o atraso, o urubu, que antes estava estendido no chão, coitado, ganhou lugar mais nobre, a uns dois metros do carro que não era mais o carro da colisão.
Em seguida, o fotógrafo do Globo, que deu nova guaribada para deixar a cena ainda mais real. O urubu, dessa vez, foi parar em local nobre, como se tivesse sido arremessado para cima do capô. Finalmente veio o pessoal do Dia, ou da Luta Democrática, e dessa vez a coisa tinha que pingar sangue. O fotógrafo jogou um líquido escuro (bastava parecer, pois o jornal era em preto e branco. Diz a lenda que o urubu ensanguentado, a essa altura, já estava colado no para-brisa.

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