segunda-feira, 11 de maio de 2009

A GENTE ACABA ACREDITANDO EM TUDO


“Na primeira noite, eles se aproximam e roubam uma flor de nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem: pisam as flores, matam nosso cão, e não dizemos nada.
Até que um dia, o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a luz e, conhecendo nosso medo, arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada”
.
Lembro vagamente desses versos. Foram divulgados pelo movimento estudantil dos anos 70 em um pôster (na verdade, esse pôster foi reeditado, pois um amigo acaba de me contar que já vira algo parecido nos anos 60) e eram atribuídos a Maiakovski.
Corria também o bochincho de que Maiakovski teria plagiado o texto de Brecht, que se lê abaixo:
“Um dia vieram e levaram meu vizinho, que era judeu. Como não sou judeu, não me incomodei.
No dia seguinte, vieram e levaram meu outro vizinho, que era comunista. Como não sou comunista, não me incomodei.
No terceiro dia, vieram e levaram meu vizinho católico. Como não sou católico, não me incomodei.
No quarto dia, vieram e me levaram; já não havia mais ninguém para reclamar”.

Pois é, era tudo caô. Nem o poeta russo escreveu os versos mais acima, nem é da autoria do dramaturgo alemão o poema que acabo de digitar.
Essa (falsa) polêmica confirma aquele ditado de que o apressado come cru (atenção, Manuel da Revisão, cuidado!). O texto atribuído a Brecht não era poema coisa alguma, mas um trecho de sermão pronunciado pelo pastor luterano alemão Martin Niemöller, no início do Reich nazista. O sermão custou-lhe a liberdade. O pastor foi para o campo de Dachau, mas sobreviveu e veio a falecer somente nos anos 80.
Já o verdadeiro autor dos versos tidos como da lavra de Maiakovski (o nome do poema é “No caminho com Maiakovski”) é um artista plástico e poeta brasileiro chamado Eduardo Alves da Costa, que nasceu em Niterói e há muitos anos mora na Espanha.
No rádio de ondas curtas, direto da Rádio Moscou, Yves Montand canta Bella ciao!

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