domingo, 3 de maio de 2009

NEM TUDO É PERFEITO


Na véspera do jogo amistoso Brasil x Inglaterra, em maio de 1992, toda a comunidade brasileira em Londres estava ouriçada, o que incluía o coleguinha Augusto Diniz, hoje assistente de diretoria da Ricardo Viveiros & Associados, em São Paulo.
O niteroiense Augusto conhecera no Rio o Oldemário Touguinhó, um dos maiores repórteres brasileiros de todos os tempos, e marcou um encontro com ele na porta do hotel onde ficaram todos, delegação e imprensa.
“Caminhando pelas limpas calçadas de Londres, Oldemário não se conteve quando viu um pedinte sentado no chão com a mão estendida. Sacou uma pequena câmara e, quando passou, clicou o mendigo britânico enquanto andava, sem que o coitado percebesse”. A foto, publicada no dia seguinte, mostrou que no Primeiro Mundo nem tudo são flores”, lembra Augusto.
Mais à frente, sentaram em um café. “Conversa vai, conversa vem, ele me pergunta: será que conseguiríamos um notão?”.
Augusto bem que tentou ajudá-lo na apuração, mas não lembrou de nada que valesse a pena para encher linguiça nas páginas do JB.
Só então percebeu que Oldemário queria mesmo era uma bela nota fiscal do café para justificar a despesa ao jornal, que lhe pagava, naquela época já de crise, ajuda de custo irrisória para as frequentes viagens que fazia.
Augusto respondeu-lhe que na Inglaterra isso seria difícil, quase impossível, e ficou triste de não poder ajudá-lo.
“Oldemário, na Inglaterra o povo é sério demais. Ninguém faz isso, não há superfaturamento de nota, a coisa complica aí”.
À noite, quando o reencontrou, o lendário editor do JB ria com todos os dentes. A questão estava resolvida.
O mendigo pedindo grana na rua foi um aviso para Oldemário.
Nem tudo podia ser tão certinho na Velha Albion.

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