sábado, 1 de maio de 2010

BOLA FORA DO SUPREMO. O MEP TINHA RAZÃO


Nos idos de 1976/1979, em brados durante manifestações de rua, em cartazes e nas pichações de muros feitas com uma caneta hidrocor da marca Pilot, que o pessoal chamava de pincel atômico, o Rio de Janeiro e o Brasil tomaram conhecimento de duas palavras de ordem contra a ditadura – “Pelas liberdades democráticas” e “Anistia ampla, geral e irrestrita”.
Nesta época, eu estudava na Universidade Federal Fluminense e era quase militante de uma organização clandestina chamada Movimento pela Emancipação do Proletariado. Quase porque eu era indisciplinado (quem me conhece não vai se horrorizar, porque continuo o mesmo) e, embora nunca tenha faltado aos pontos, comecei a discordar do grupo.
Por quê? É que, na contramão do movimento estudantil, o MEP repudiava as duas palavras de ordem. Como é que alguém pode ser contra anistia? E contra as liberdades democráticas? O MEP era e a explicação que seus dirigentes nos davam era a de que anistia significava perdão, e ninguém queria pedir perdão à ditadura. No caso da outra palavra de ordem, “Pelas liberdades democráticas”, o motivo que o pessoal do MEP dava para não fazer coro com o restante da esquerda era o de que tais liberdades eram burguesas.
Isso eu achei bobagem na época e continuo achando. Porém, no caso da anistia ampla, geral e irrestrita, o MEP estava coberto de razão. A vitória dessa palavra de ordem nos idos de 1979 deu nesse julgamento em que o STF, por sete votos a dois, manteve o texto original da lei que favoreceu os torturadores.
Daí vai que quem ficou na contramão da história, neste caso, foi o Brasil. Enquanto argentinos e chilenos julgaram Pinochet, Videla e outros genocidas, enquanto sobreviventes dos campos de concentração jamais desistiram de levar aos tribunais os criminosos nazistas, aqui no Brasil quem pediu o cumprimento da Justiça nesses casos foi rotulado de revanchista.
O MEP merece mesmo uma festa por seus 40 anos. Tô nessa!

Na foto, a manifestação pela absolvição dos 17 militantes do grupo, no dia em que estavam sendo julgados por uma Auditoria da Aeronáutica, em 1977 (ou 78?). No velho gramofone, um sucesso da época em homenagem ao Luiz Arnaldo, à Fernanda, ao Fred, à Margareth, entre outros que foram em cana, e também ao Nilo, à Analéa, ao Nilton Santos, ao Déo, ao Luciano Batatinha e demais ex-integrantes daquela turma aguerrida.

4 comentários:

Veronica Diaz disse...

Tá aí, gostei, bacana. Direto, claro, sem rodeios. Assino embaixo. Saravá!

Blog da Mara Cecília disse...

Também gostei. Parabéns. O MEP está de parabéns, mesmo que hoje, principalmnte por se re-conhecer.Um abraço.
Mara Cecília

José Sergio Rocha disse...

Valeu Verônica, valeu Mara! No final, o que parecia porralouquice era o certo. Ampla, tudo bem. Geral, peraí... Irrestrita, o que é isso? Mas, enfim, tudo acabou como dantes no quartel de Abrantes e se o STF se apegou ao texto original da lei foi porque a maioria da esquerda concordou com aquilo. Agora "GUENTA"!

AOS QUARENTA A MIL disse...

Bacana mesmo a história. Parabéns ao MEP!!!!!!