domingo, 7 de novembro de 2010

A DIREITA BRASILEIRA, ALÉM DE BURRA, É PESADA




Um amigo me chamou a atenção para este vídeo. Para quem desistiu de ouvir explicações rasteiras sobre o resultado da eleição presidencial, é um prato cheio. Há cerca de um ano, cheguei a cogitar a possibilidade de votar no Serra. Era, para mim, o melhor quadro do PSDB, um dos raros nomes de esquerda do tucanato. Esta foi minha impressão na época. Com o passar dos meses de campanha, Serra tornou-se, sucessivamente, “o menos pior” entre os tucanos, “um dos menos piores”, “um tucano exatamente como os demais”. Não era nada disso. Serra é a cara da velha direita brasileira. Apenas um sujeito raivoso, rancoroso, ressentido e péssimo perdedor. Essa garota do interior de São Paulo que falou um monte de bobagens pelo twitter é uma pobre coitada que teve a cabeça feita pelo Serra e sua gente. Um povo pesado. Gente assim tem mais é que cuidar da cabeça e pagar a conta que deve na Justiça. Quem nunca se sentiu mal perto de pessoas que nunca viu antes. Aconteceu comigo um dia desses, num restaurante de Niterói. Entraram dois sujeitos bem vestidos que, antes de sentarem à mesa, percorreram com seus olhares estranhos os demais clientes. O papo continuou na minha mesa. Ninguém se referiu aos caras. Quando foram embora, o alívio foi geral, não só nas mesas, mas também entre os garçons. Foi, então, que alguém comentou mais alto: “Viram a caminhonete deles?”. Outro respondeu que viu e que achou que era o famoso “carro da linguiça”. Carro da linguiça é o veículo dos matadores, justiceiros, milicianos. Para quem viveu os anos 70, é o equivalente da Veraneio que capturava os opositores do regime militar. O bom da direita ter sempre essa índole ruim é que só chega ao poder via golpe de estado. O povo vai bem, obrigado. Uma noite dessas, assistindo ao Manhattan Connection, tive que ir ao banheiro vomitar. É um programa que às vezes assisto por ter propriedades eméticas. Só que, desta vez, não fui induzido à náusea pelo Diogo Mainardi, e sim por esse tal de Marcelo Tas. Convocado a fazer sua “análise bem-humorada” do resultado eleitoral, o ridículo humorista, que deve se achar lindo, saiu-se com esta: “Vocês viram o palanque da Dilma? Só tinha gente feia!”. A direita é ruim e burra, ainda bem, ainda bem...


domingo, 31 de outubro de 2010

DILMA ROUSSEFF, PRESIDENTE DO BRASIL



Esta brava mulher foi eleita hoje presidente do Brasil. Ou presidenta, tanto faz. Que o seu governo consolide o Estado Democrático de Direito e continue construindo a nação maiúscula sonhada pelos patriotas de verdade. Que o seu governo contribua para as boas práticas da política. Que o seu governo avance nas conquistas sociais. Este vídeo é revelador do caráter de Dilma Rousseff e da essência rasteira da oposição que temos hoje. Dilma, Lula e o povo brasileiro saíram maiores desta eleição histórica. E fim de papo.

sábado, 30 de outubro de 2010

DIRETO DA HISTÓRIA DO BRASIL PARA AS URNAS


Não sei se também acontece com vocês, mas sempre que vem eleição pela proa tenho uns sonhos malucos, a história inteira passando por minha cabeça. De manhã, achei um manifesto escrito, acho que por mim mesmo, nos seguintes termos:
Adolfo Lutz, Adoniran Barbosa, Alcebíades Barcelos (Bide), Almirante Barroso, Ana Néri, André Rebouças, André Vidal de Negreiros, Anísio Teixeira, Anita Garibaldi, Antenor Gargalhada, Antônio Francisco Lisboa (Aleijadinho), Armando Marçal, Artur Friedenreich, Ary Barroso, Augusto Boal, Barbosa Lima Sobrinho, Bento Gonçalves, Cacilda Becker, Caio Prado Júnior, Cândido Portinari, Capitão Sérgio Macaco, Caramuru, Carlito Rocha, Carlos Chagas, Carlos Drummond de Andrade, Carlos Gomes, Carlos Lamarca, Carlos Marighella, Carmen Miranda, Cartola, Celso Furtado, César Lattes, Chica da Silva, Chico Mendes, Chico Rei, Chico Xavier, Chiquinha Gonzaga, Clementina de Jesus, Cruz e Souza, Cunhambebe, Delmiro Gouveia, Di Cavalcanti, Dom Hélder Câmara, Domingos da Guia, Dorival Caymmi, Elis Regina, Elizeth Cardoso, Ernesto Nazaré, Estácio de Sá, Felipe Camarão, Floriano Peixoto, Frei Caneca, Frei Tito, Garrincha, General Osório, Gilberto Freyre, Glauber Rocha, Graciliano Ramos, Grande Otelo, Gregório de Matos, Henfil, Herbert de Souza (Betinho), Hipólito da Costa, Irineu Evangelista de Souza (Mauá), Jackson do Pandeiro, Joana Angélica, João Caetano, João Cândido, João Goulart, Joaquim Nabuco, José Bonifácio, José de Anchieta, José do Patrocínio, Lamartine Babo, Lampião, Leila Diniz, Lima Barreto, Luiz Carlos Prestes, Luiz Gonzaga (Gonzagão), Luiz Gonzaga Filho (Gonzaguinha), Lupiscínio Rodrigues, Machado de Assis, Manuel Bandeira, Manuel Fiel Filho, Marechal Lott, Marechal Rondon, Maria Quitéria, Mário de Andrade, Mário Pedrosa, Mauro Duarte, Menininha do Gantois, Miguel Arraes, Nelson Cavaquinho, Noel Rosa, Olga Benário, Oswald de Andrade, Oswaldo Cruz, Paulo Benjamin de Oliveira, Paulo Freire, Pedro I, Pedro II, Pixinguinha, Plínio Marcos, Procópio Ferreira, Roquete Pinto, Rui Barbosa, Santos Dumont, Sergio Buarque de Holanda, Sobral Pinto, Tim Maia, Tiradentes, Vladimir Herzog, Villa-Lobos, os irmãos Villas Boas, Zizinho, Zumbi dos Palmares, LEONEL BRIZOLA e GETÚLIO DORNELLES VARGAS, enfim, todos nós, acima psicografados neste manifesto, brasileiros honrados, sensíveis e guerreiros nas lutas que travamos e nos trabalhos que deixamos para a posteridade, pedimos a todos os conterrâneos encarnados que neste domingo, 31 de outubro de 2010, votem em Dilma Rousseff, a candidata do LULA, para que na História do Brasil surjam mais nomes do povo, pois da elite já temos bastante.

Nosso Lar, 30/10/2010
P.S. - Parece que o pessoal do Umbral também fez um manifesto apoiando o outro candidato.

sábado, 23 de outubro de 2010

MUITO CUIDADO NO CALÇADÃO DE CAMPO GRANDE

Pelo amor de Deus, evitem o calçadão de Campo Grande nos próximos dias! Cuidado que lá tem gente que já levou bolinha de papel perdida! É um perigo essa Zona Oeste do Rio de Janeiro!!! Nem a estátua do Adelino Moreira está a salvo.

BOLINHA DE PAPEL JÁ VIROU UM CLÁSSICO


Atenção, ufólogos! Da próxima vez que fotografarem luzes estranhas que pareçam vir de disco-voador ou vultos cinzentos que lembrem algum ET, convoquem imediatamente o perito Ricardo Molina e enviem o laudo deste incansável cientista à NASA, à ONU e à imprensa escrita e televisada. Pode ser que o pessoal acredite em inteligências fora do planeta. Esse caso da bolinha de papel e do rolo de fita crepe (ou teria sido durex?) tem tudo para virar um clássico do folclore político. Jânio Quadros, Ademar de Barros e Chagas Freitas devem estar morrendo de inveja.
Será que foi a bolinha de papel, a fita crepe ou o telefonema? O que levou Serra a fazer tomografia? Perfeita a comparação que o Lula fez entre o Serra e o Rojas. A imagem feita pela câmera digital do celular do repórter da Folha é simplesmente... reveladora! Reveladora de que o Serra apela para tudo quando quer ganhar.
E a arapongagem para derrubar o Aécio Neves, hein? A Carta Capital contou tudo. O Dia repicou bem. Agora já entendi por que Aécio quer fundar um novo partido depois da eleição. Criado na malandragem da política mineira, até para ele deve ter sido uma surpresa essa trama intertucana. Mais uma prova, aliás, de que deve haver uma reforma política. Hoje, o maior inimigo de qualquer candidato – de vereador a presidente – não é o candidato do outro partido. O inimigo está sempre em casa. Aécio que o diga.
Tenho amigos assumidamente conservadores, reacionários mesmo, e gosto deles apesar dessas coisas horrorosas que pensam. Evidente que não gosto por serem direitosos, mas pelas qualidades que têm – bom caráter, bom humor, sensibilidade para quase tudo, menos para o social. Tenho me divertido muito com seus e-mails. Apavorados com a possibilidade de Lula fazer sua sucessora, os caras estão apelando. Um deles me enviou um manifesto do PSTU pregando o voto nulo. Outro, assim do nada, encantou-se com o Hélio Bicudo, que no passado recente considerava um perigoso comunista, e com Henry Sobel, sobre quem, também há poucos anos, cansou de mandar piadinhas antissemitas tendo como gancho o hilariante episódio das gravatas do rabino. Tenham todos os meus direitosos de estimação um ótimo fim de semana. Até para compensar o próximo, que pode não ser tão divertido.
Bons argumentos para a classe média e os formadores de opinião votarem em Dilma Rousseff podem ser encontrados na página 2 do Segundo Caderno do Globo deste sábado, 23/10. José Miguel Wisnik foi brilhante. Ou, ainda, na edição de outubro da Piauí, que traz um texto de André Singer mostrando as semelhanças entre os programas sociais do Brasil de hoje e dos Estados Unidos no tempo do New Deal de Franklin Delano Roosevelt. Já os pobres não carecem mais de argumentos. Mas eleição é só domingo que vem e nunca se sabe. Até agora, os tiros das balas de prata saíram pela culatra.
No carro de som da campanha tucana, a melhor bolinha de papel ainda é do Geraldo Pereira, nas vozes dos Anjos do Inferno.

domingo, 17 de outubro de 2010

E AGORA, COMO É MESMO ESSA HISTÓRIA DE ABORTO?


O que a Confederação Nacional dos Bispos do Brasil pensa do aborto de Mônica Serra, nos tempos da ditadura? Eu acho que ela fez o que achou melhor e ponto. Isso não tem nada a ver com campanha eleitoral.
No entanto, a pergunta tem tudo para mergulhar em profunda reflexão o episcopado brasileiro, notadamente o da Regional Sul 1 da CNBB, sobretudo depois da divulgação da Declaração de Aparecida em Defesa da Vida e, particularmente, depois da disseminação em paróquias de todo o país de panfletos e sermões nas missas de domingo condenando o voto dos católicos em Dilma Rousseff, que nem nos interrogatórios que sofreu durante a ditadura foi acusada de fazer aborto.
A Folha de S. Paulo publicou, com exclusividade, e o jornal carioca O Dia repicou o desabafo de uma ex-aluna de Mônica Serra, escandalizada com as declarações da mulher do candidato tucano à Presidência da República, condenando a descriminalização do aborto e acusando Dilma Rousseff de – que nível! – ser favorável a “matar criancinhas”. Mônica Serra, segundo contou a ex-aluna, disse ter feito aborto aos quatro meses de gravidez. Disse para ela e para outras pessoas, que já confirmaram a história.
A pergunta também vale para as lideranças evangélicas que, da mesma forma, pisotearam o conceito do Estado laico definido pela Constituição.
Mas existem outras questões pré-eleitorais mais graves. A revista IstoÉ, em sua matéria de capa desta semana, que toma as páginas 38 a 44, levanta em detalhes o escândalo envolvendo o ex-diretor da estatal Dersa, engenheiro Paulo Vieira de Souza, conhecido como Paulo Preto, acusado pelo próprio PSDB de gatunar R$ 4 milhões da campanha tucana.
Serra de nada sabia. Foi o que disse, quando o indagaram a respeito pela primeira vez:
“Não sei quem é Paulo Preto. Nunca ouvi falar dele”, disse o candidato na segunda-feira, 11 de outubro.
Na terça, 12, o próprio Paulo Preto reagiu, em entrevista à Folha: “Ele (Serra) me conhece muito bem. Não se larga um líder ferido na estrada, a troco de nada. Não cometam esse erro”.
Reação, diga-se, com cheiro de ameaça.
No mesmo dia 12, à tarde, José Serra se corrigiu: “Evidente que eu sabia do trabalho de Paulo Souza, que é considerado uma pessoa muito competente”.
Competente ou “incontrolável”? Incontrolável foi o adjetivo usado pelo então vice-governador de São Paulo, Alberto Goldman, quando soube das acusações ao principal tocador de obras do governo Serra. E todos sabiam dessas acusações, entre eles – está na mesma revista – o tesoureiro-adjunto e ex-secretário-geral do PSDB paulista Evandro Losacco.
“Todo mundo já sabia disso há muito tempo. Mas só faz isso (referindo-se às maracutaias atribuídas a Paulo Preto) quem tem poder de interferir em alguma coisa. Poder, infelizmente, ele tinha”, contou Losacco.
Goldman, logo que assumiu o governo interinamente, com a saída de Serra para disputar a Presidência, imediatamente exonerou Paulo Preto, que, aliás, de acordo com a IstoÉ, teve seu patrimônio pessoal vertiginosamente turbinado em apenas dois anos à frente da estatal.
No showmício virtual, Moreira da Silva interpreta "Pistom de gafieira".

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

IVAN LESSA ERROU: NÃO É PRECISO ESPERAR 15 ANOS


"A cada 15 anos, o Brasil esquece o que aconteceu 15 anos atrás". A frase de Ivan Lessa estava errada. Um ano e meio já está de bom tamanho. Imagine o que teria acontecido se a marolinha prevista por Lula fosse tratada como o tsunami esperado por Serra. Aconteceu um dia desses e, como dizem nas novelas da tarde, vale a pena ver de novo.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

O QUE UM GOVERNO SERRA FARIA COM O PRÉ-SAL?

Do portal Carta Maior: O que um governo Serra faria com o pré-sal? O professor Adilson de Oliveira, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), prefere responder o que o Brasil perderia se o Estado brasileiro abdicasse de controlar o ritmo e a estratégia de exploração dessa riqueza. O risco existe e foi sinalizado recentemente pelo coordenador do programa de energia de José Serra: (David) Zylberstajn quer afastar a participação estatal no comércio do petróleo brasileiro. “Não se trata apenas de uma posição ideológica; há interesses em jogo que gostariam de diminuir o peso da Petrobras; se possível, até quebrar a empresa”, analisa.

Saul Leblon

Se o Brasil hoje é visto como o filé mignon do mundo em termos de crescimento econômico, o filé mignon do Brasil é o pré-sal. Por seu valor específico como principal reserva de petróleo descoberta no planeta no crepúsculo da oferta mundial, mas, sobretudo, pelos efeitos multiplicadores no conjunto da indústria nacional, trata-se “da maior oportunidade que o país já teve em toda a sua história de promover um salto qualitativo nas condições de vida do seu povo”.
A avaliação é do economista Adilson de Oliveira, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Especialista em economia do desenvolvimento, com doutorado em Grenoble e pós-doutorado em Sussex, Oliveira tem posições serenas que vivem em harmonia com o tom pausado de sua fala. Sem nunca alterar a voz, ele é taxativo, porém, num aspecto. O encadeamento virtuoso possibilitado pela riqueza do pré-sal requer um lacre de segurança que garanta a permanência desses recursos no metabolismo da economia brasileira.
O nome dessa blindagem, diz o professor da UFRJ, é Petrobras.
A firmeza calma de suas palavras não esconde um confronto agudo com a histórica oposição de certos interesses ao papel da empresa no país. Esse antagonismo foi reiterado mais uma vez nestas eleições pelo assessor do programa de energia de José Serra, David Zylberstajn, ex-dirigente da Agencia Nacional de Petróleo no governo FHC.

Em recente entrevista ao Valor [06-10], Zylberstajn admitiu que aconselharia Serra, caso eleito, a reverter o modelo do pré-sal aprovado pelo Congresso, que dá o comando do processo de exploração das reservas à Petrobras e a prerrogativa de comercialização do óleo à nova estatal criada para esse fim, a Pré-Sal Petróleo SA.
Coerente com o que fez em 1999 como diretor-geral da ANP, quando se propôs a encolher a Petrobras, que de fato perdeu o monopólio na exploração e teve seu braço petroquímico amputado, Zylberstajn sintetiza assim a filosofia da estratégia sedimentada junto ao presidenciável José Serra: livrar o mercado brasileiro de qualquer interferência estatal na compra e venda de petróleo.
“Não se trata apenas de uma posição ideológica; há interesses em jogo que gostariam de diminuir o peso da Petrobras; se possível, até quebrar a empresa”, analisa o professor da UFRJ, cuja calma adiciona peso e gravidade à sua avaliação.
O gigantismo dos conflitos que cercam o pré-sal emprestam dose adicional de credibilidade a esse risco. “São reservas que concentram cerca de 70 bilhões de barris, no mínimo; podem chegar a 100 bilhões”, diz o economista sobre a fabulosa poupança guardada no mar a cerca de seis mil metros de profundidade, 300 quilômetros distante da costa brasileira.
O pré-sal mudou o tamanho do Brasil na geopolítica mundial. Os grandes interesses que disputam a oferta de energia sabem que o país será um dos cinco ou seis maiores fornecedores do planeta no século XXI, quando a escassez de óleo elevará os preços do barril continuamente. Isso muda tudo. Muda inclusive o apetite da luta pelo poder na economia, ainda que o assunto pré-sal tenha ocupado até agora um conveniente segundo plano no discurso oposicionista, exceto por confidências como a de Zylberstajn .
“O fato é, que, de importadores de óleo até recentemente – a autossuficiência veio em abril de 2006 - passaremos a grande exportador de derivados de maior valor agregado”, diz o economista da UFRJ que tem domínio absoluto sobre os encadeamentos de uma equação em que mercado-energia e decisão política são indissociáveis. “Esse é o pulo do gato da capitalização”, observa, chamando a atenção para a mais recente peça movida no jogo de xadrez da construção da soberania brasileira sobre essa trilionária poupança.
O maior processo de capitalização da economia mundial adicionou cerca de US$ 120 bilhões ao caixa da Petrobras, que terá assim recursos para industrializar o óleo do pré-sal, o que inclui, entre outros requisitos, forte expansão da rede brasileira de refinarias, estagnada desde 1980. Cinco plantas estão sendo construídas simultaneamente neste momento, a maior delas em sociedade com a PDVSA venezuelana, em Pernambuco.
Investimentos maciços estão sendo feitos também na modernização de outras quatro unidades antigas.
É essa estrutura industrial que viabilizará a exportação de valor agregado (gasolina diesel etc) em vez de óleo cru, mais barato. É ela também que funcionará como antídoto à famosa ‘maldição do petróleo’, um processo corrosivo de desindustrialização e dependência que atinge sociedades reduzidas a mero entreposto de exportação de recursos primários finitos.
O professor, cautelosamente, manifesta dúvidas quanto à necessidade da Pré-Sal, a nova estatal criada para coordenar a etapa final da comercialização do óleo e derivados. No seu entender, a Petrobras poderia cumprir essa missão. A empresa, argumenta, é quem melhor conhece o mercado ardiloso das disputas geopolíticas e as armadilhas das cotações.
A necessidade de um ‘dosador’ estatal para calibrar o volume das vendas, de qualquer forma, parece incontestável. E ele explica o porquê. “O que faz do pré-sal um tesouro para o desenvolvimento brasileiro não é apenas o volume de petróleo que ele encerra. O mais importante é o viés industrializante que essa exploração permite. Toda uma cadeia de equipamentos, máquinas, logística, tecnologia e serviços diretamente ligados e também externos ao ciclo do petróleo poderá ser alavancada nos próximos anos, transformando o Brasil, também, num grande exportador industrial".
O economista sempre contido entusiasma-se: “Isso tem força para deslocar o patamar do nosso desenvolvimento”. Para que essa oportunidade não se perca, é vital a definição de um “dosador” soberano que coordene duas variáveis básicas: o ritmo da extração e do refino e a sua sintonia com a capacidade brasileira de atender à demanda por plataformas, máquinas, barcos, sondas e centenas de outros equipamentos requeridos no processo. “Se a exploração do petróleo correr à frente do fôlego da indústria local, todo esse impulso será transferido para o exterior na forma de importações de bens e equipamentos”, adverte agora com certo grau de ansiedade na fala.
Essa pontuação confirma que não estamos falando de estatísticas frias, desprovidas de desdobramentos sociais. Cerca de 300 mil jovens serão treinados nos próximos anos pelo Promimp, o Programa de Mobilização da Indústria Nacional de Petróleo e Gás Natural (Prominp), idealizado para qualificar mão-de-obra para a indústria nacional de petróleo e gás. Se o comando sobre a extração e a comercialização, de que fala o professor, escapar do controle nacional, esses empregos e milhares de outros vazarão para o exterior. “Parte dos interesses do mundo petrolífero sabe e já aceitou que a Petrobras é quem tem condições técnicas e institucionais de coordenar esse novo ciclo brasileiro”, explica o acadêmico que todavia adverte: "A decisão política de capitalizar a Petrobras emitiu um sinal claro; uma parcela dos capitais interessados em participar do entendeu que o caminho era investir em ações da empresa. Esse foi um divisor importantíssimo. Porém, observa pedindo atenção com uma pausa: “há gigantes que ainda gostariam de ocupar o papel coordenador assumido pelo Estado brasileiro.
Em tese, o mercado até poderia substituir essa função”, comenta laconicamente Adilson de Oliveira, para emendar em seguida: “Com um custo para a sociedade brasileira, ela perderia, como já disse, o mais importante impulso de desenvolvimento já registrado em toda a sua história”. Orientadas apenas pelo lucro imediato, petroleiras multinacionais sangrariam das reservas o máximo de óleo no mais curto espaço de tempo. Não haveria encadeamentos industrializantes; tampouco recursos para um Fundo Social destinado a investir em educação, tecnologia e erradicação da pobreza, como quer o governo atual.
É nessa brecha de tensão entre a voz do professor, a regulação soberana já aprovada pelo Congresso Nacional e as incertezas embutidas no caso de uma hipotética vitória do candidato oposicionista, em dia 31 de outubro, que prosperam sinais e ameaças, como as balizas sugeridas pelo coordenador do programa de energia de José Serra, David Zylberstajn.
O professor da UFRJ não pronunciou o nome de Zylberstajn uma única vez em toda a conversa. Nem seria preciso: as iniciais DZ, da consultoria de Zylberstajn, estão visceralmente entranhadas naquilo que o economista de voz mansa classifica como interesses que gostariam de enfraquecer, “se possível, até quebrar a Petrobras”, para assumir o controle das maiores reservas de petróleo descobertas no planeta nas últimas três décadas.


ABORTO: EU NÃO SABIA, DA MISSA, A METADE


Meu chapa Getúlio Vilanova, ex-colega do JB e do Globo, além de católico devoto, enviou-me os dois textos abaixo. Fiquei pasmo. Literalmente, eu não sabia, da missa, a metade. Dom Demétrio Valentini e o padre Comblin (quem viveu a ditadura, lembra dele) contam tudo nos textos "Desmonte de uma falácia" e na "Carta aberta a Dom Demétrio".

DESMONTE DE UMA FALÁCIA
A questão do aborto está sendo instrumentalizada para fins eleitorais. Esta situação precisa ser esclarecida e denunciada.
Está sendo usada uma questão que merece toda a atenção e isenção de ânimo para ser bem situada e assumida com responsabilidade, e que não pode ficar exposta a manobras eleitorais,amparadas em sofismas enganadores.
Nesta campanha eleitoral está havendo uma dupla falácia, que precisa ser desmontada.
Em primeiro lugar, se invoca a autoridade da CNBB para posições que não são da entidade, nem contam com o apoio dela, mas se apresentam como se fossem manifestações oficiais da CNBB.
Em segundo lugar, se invoca uma causa de valor indiscutível e fundamental, como é a questão da vida, e se faz desta causa um instrumento para acusar de abortistas os adversários políticos, que assim passam a ser condenados como se estivessem contra a vida e a favor do aborto.
Concretamente, para deixar mais clara a falácia, e para urgir o seu desmonte:
A Presidência do Regional Sul 1 da CNBB incorreu, no mínimo, em sério equívoco quando apoiou a manifestação de comissões diocesanas, que sinalizavam claramente que não era para votar nos candidatos do PT, em especial na candidata Dilma.
Ora, os Bispos do Regional já tinham manifestado oficialmente sua posição diante do processo eleitoral. Por que a Presidência do Regional precisava dar apoio a um documento cujo teor evidentemente não correspondia à tradição de imparcialidade da CNBB? Esta atitude da Presidência do Regional Sul 1 compromete a credibilidade da CNBB, se não contar com urgente esclarecimento, que não foi feito ainda, alertando sobre o uso eleitoral que está sendo feito deste documento assinado pelos três bispos da presidência do Regional.
Esta falácia ainda está produzindo conseqüências. Pois no próprio dia das eleições foram distribuídos nas igrejas, ao arrepio da Lei Eleitoral, milhares de folhetos com a nota do Regional Sul 1, como se fosse um texto patrocinado pela CNBB Nacional. E enquanto este equívoco não for desfeito, infelizmente a declaração da Presidência do Regional Sul 1 da CNBB continua à disposição da volúpia desonesta de quem a está explorando eleitoralmente. Prova deste fato lamentável é a fartura como está sendo impressa e distribuída.
Diante da gravidade deste fato, é bem vindo um esclarecedor pronunciamento da Presidência Nacional da CNBB, que honrará a tradição de prudência e de imparcialidade da instituição.
A outra falácia é mais sutil, e mais perversa. Consiste em arvorar-se em defensores da vida, para acusar de abortistas os adversários políticos, para assim impugná-los como candidatos, alegando que não podem receber o voto dos católicos.
Usam de artifício, para fazerem de uma causa justa o pretexto de propaganda política contra seus adversários,e o que é pior, invocando para isto a fé cristã e a Igreja Católica.
Mas esta falácia não pára aí. Existe nela uma clara posição ideológica, traduzida em opção política reacionária. Nunca relacionam o aborto com as políticas sociais que precisam ser empreendidas em favor da vida.
Votam, sem constrangimento, no sistema que produz a morte, e se declaram em favor da vida.
Em nome da fé, julgam-se no direito de condenar todos os que discordam de suas opções políticas. Pretendem revestir de honestidade, uma manobra que não consegue esconder seu intento eleitoral.
Diante desta situação, são importantes, e necessários, os esclarecimentos. Mais importante ainda é a vigilância do eleitor, que tem todo o direito de saber das coisas, também aquelas tramadas com astúcia e malícia.
Dom Demétrio Valentini

CARTA ABERTA A DOM DEMÉTRIO

Querido dom Demétrio
Quero publicamente agradecer-lhe as suas palavras esclarecedoras sobre a manipulação da religião católica no final da campanha eleitoral pela difusão de uma mensagem dos três bispos da comissão representativa do regional Sul I da CNBB condenando a candidata do atual governo e proibindo que os católicos votem nela. Graças ao senhor, sabemos que essa divulgação do documento da diretoria de Sul 1 não foi expressão da vontade da CNBB, mas contraria a decisão tomada pela CNBB na sua ultima assembléia geral, já que esta tinha decidido que os bispos não iam intervir nas eleições. Sabemos agora que o documento dos bispos da diretoria do regional Sul 2 foi divulgado no final de agosto, e durante quase um mês permaneceu ignorado pela imensa maioria do povo brasileiro. Agora, dois dias antes das eleições, um grupo a serviço da campanha eleitoral de um candidato, numa manobra de evidente e suja manipulação, divulgou com abundantes recursos e muito barulho esse documento, criando uma tremenda confusão em muitos eleitores. Pela maneira como esse documento foi apresentado, comentado e divulgado, dava-se a entender que o episcopado brasileiro proibia que os católicos votasse nos candidatos do PT e, sobretudo na sua candidata para a presidência. Dois dias antes das eleições os acusados já não podiam mais reagir, apresentar uma defesa ou uma explicação. Aos olhos do público a Igreja estava dando o golpe que sempre se teme na véspera das eleições, quando se divulga um suposto escândalo de um candidato. Era um golpe sujo por parte dos manipuladores, já que dava a impressão de que o golpe vinha dessa feita da própria Igreja.
Se os bispos que assinaram o documento de agosto, não protestam contra a manipulação que se fez do seu documento, serão cúmplices da manipulação e aos olhos do público serão vistos como cabos eleitorais.
Se a CNBB não se pronuncia publicamente com muita clareza sobre essa manipulação do documento por grupos políticos sem escrúpulos, será cúmplice de que dezenas de milhões de católicos irão agora, no segundo turno votar pensando que estão desobedecendo aos bispos. Seria uma primeira experiência de desobediência coletiva imensa, um precedente muito perigoso. Além disso, certamente afetará a credibilidade da Igreja Católica na sociedade civil, o que não gostaríamos de ver nesta época em que ela já está perdendo tantos fiéis.
Se o episcopado católico deixa a impressão de que a divulgação desse documento nessa circunstância representa a voz da Igreja com relação às eleições deste ano, muitos vão entender que isso significa uma intervenção dos bispos católicos para defender o candidato das elites paulistanas contra a candidata dos pobres. Os pobres têm muita sensibilidade e sentem muito bem o que há na consciência dessas elites. Sabem muito bem quem está com eles e quem está contra eles. Vão achar que a questão do aborto é apenas um pretexto que esconde uma questão social, o desprezo das elites, sobretudo de São Paulo pela massa dos pobres deste país. Milhões de pobres votaram e vão votar na candidata do governo porque a sua vida mudou. Por primeira vez na história do país viram que um governo se interessava realmente por eles e não somente por palavras. Não foi somente uma melhoria material, mas antes de tudo o acesso a um sentimento de dignidade. “Por primeira vez um governo percebeu que nós existimos”. Isso é o que podemos ouvir da boca dos pobres todos os dias. Um povo que tinha vergonha de ser pobre descobriu a dignidade. Por isso o voto dos pobres, este ano, é um ato de dignidade. As elites não podem entender isso. Mas quem está no meio do povo, entende.
Os bispos podem lembrar-se de que a Igreja é na Europa o que é, porque durante mais de 100 anos os bispos tomaram sempre posição contra os candidatos dos pobres, dos operários. Sempre estavam ao lado dos ricos sob os mais diversos pretextos. E no fim aconteceu o que podemos ver. Abandonaram a Igreja. Cuidado! Que não aconteça a mesma coisa por aqui! Os pobres sabem, são conscientes e sentem muito bem quando são humilhados. Não esperavam uma humilhação por parte da Igreja. Por isso, é urgente falar para eles.
Uma declaração clara da CNBB deve tranqüilizar a consciência dos pobres deste país. Sei muito bem que essa divulgação do documento na forma como foi feita, não representa a vontade dos bispos do regional Sul 1 e muito menos a vontade de todos os bispos do Brasil. Mas a maioria dos cidadãos não o sabe e fica perturbados ou indignados por essa propaganda que houve.
Não quero julgar o famoso documento. Com certeza os redatores agiram de acordo com a sua consciência. Mas não posso deixar de pensar que essa manipulação política que foi a divulgação do seu documento na véspera das eleições, dava a impressão de que estavam reduzindo o seu ministério à função de cabo eleitoral. O bispo não foi ordenado para ser cabo eleitoral. Se não houver um esclarecimento público, ficará a imagem de uma igreja conivente com as manobras espúrias
Dom Demétrio, o senhor fez jus à sua fama de homem leal, aberto, corajoso e comprometido com os pobres e os leigos deste país. Por isso, o senhor merece toda a gratidão dos católicos que querem uma Igreja clara, limpa, aberta, dialogante. Demonizar a candidata do governo como se fez, baseando-se em declarações que não foram claras, é uma atitude preconceituosa totalmente anti evangélica. Queremos continuar confiando nos nossos bispos e por isso aguardamos palavras claras. Obrigado, dom Demétrio.
José Comblin, padre e pecador.
5 de outubro de 2010

Essa turma de batina ligada ao tucanato realmente é um nojo.
Prefiro, na caixinha musical, as orações de dom Almir Guineto e do monsenhor Zeca Pagodinho.

domingo, 26 de setembro de 2010

SE TEM COISA QUE NÃO PRESTA É O TAL DO ELEITOR


Que bom que a eleição está quase virando a esquina. Três de outubro é logo ali. Vai trazer, como sempre, boas e más notícias. A melhor será o encolhimento do único partido assumidamente de direita, o DEM ou, se preferirem, o Demo, que como todos sabem vem lá de trás, ainda carrega o DNA da golpista e rancorosa UDN, que virou a fascista e poderosa ARENA, depois o ridículo PDS, e em seguida o insuportável PFL, isso só falando dos ancestrais diretos.
Infelizmente, apesar de ter até um ou outro quadro razoável, o DEM reduzido à versão beta de alguma futura legenda igualmente detestável ainda terá em sua futura e minúscula bancada no Senado o praticamente reeleito José Agripino Maia. A boa notícia, esta para o eleitor fluminense, é que – tudo indica – o potiguar Agripino será o único Maia naquela casa parlamentar.
Essa história de direita e esquerda ainda conta. Quando a gente pensa que deixaram de existir, as duas irrompem de novo na ribalta política. No tempo da ditadura, era fácil identificá-las. Uma detinha o poder, a outra era esmagada. Hoje, é preciso cuidado para distingui-las.
Piorando muito a frase de Winston Churchill sobre a democracia, nenhuma das duas presta, mas ainda assim a esquerda é melhor porque zela ou pelo menos finge zelar pelos interesses do país e do povo. A esquerda é burrinha de antolhos, reativa, adepta da automutilação e só se une na cadeia, mas tem seus bons momentos.
Na verdade, não tem esse negócio de esquerda. Melhor dizer esquerdas, aí incluindo a centro-esquerda. As esquerdas nos deram Getúlio Vargas, Leonel Brizola e Lula. A direita – no singular, pois mesmo espalhada entre muitos partidos, ela é unida – só nos deu ditadores. Seu melhor quadro foi o general Ernesto Geisel, que se comportou como estadista.
A direita não presta porque as tentativas de desqualificar o Brasil e seu povo partem e partiram sempre dela. A direita sempre acha melhor o que vem de fora. Mas tem a virtude de não se canibalizar.
O que a direita teme – e a esquerda não percebe e não se aproveita disso – é que as esquerdas se unam. Aí, babau! Quando é que a esquerda vai perceber isso e ficar no singular, mesmo que dividida em partidos diversos? Nunca.
Nossa sorte é que Pindorama nasceu virada pra lua. O Brasil está condenado ao sucesso. O cronista e humorista Sérgio Porto repetia que o Brasil jamais cairia no abismo por uma razão bem ordinária: o precipício é menor. Tentam empurrar, mas não tem jeito. Não cabe.
Durante séculos, a direita – com exceção de seus setores nacionalistas, de Artur Bernardes a Ernesto Geisel – torce para que sejamos o quintal dos Estados Unidos. Chegamos a viver alguns bons anos de crescimento, sob governos ou ditaduras de direita, vide a era do milagre econômico, mas ainda assim o povo não foi aquinhoado com sua parte. Só as famílias poderosas de sempre – algumas no poder desde os tempos do Império – se beneficiaram.
É por isso que o governo do Lula vem fazendo tanta diferença. Lula chegou ao poder porque veio do povo e está prestes a se tornar a figura política mais importante de nossa história moderna. Superando até mesmo, você sabe quem, Getúlio Vargas. Ele mesmo.
Getúlio não veio do povo, mas ainda hoje é sua maior referência. Antes do barão dos pampas que inventou nossa infraestrutura, enfim, antes do rico estancieiro que inventou o Brasil moderno, éramos uma vasta extensão de terras, um curral dominado por grão-senhores que usavam fraques e monóculos. O povo era invisível.
Com Getúlio vieram as leis sociais e trabalhistas, a siderurgia, a mineração, a Petrobrás com acento agudo, a autoestima do povo brasileiro. Getúlio Vargas ainda é, como dizem os metidos, a maior grife política que este país já produziu. Com todos os defeitos e filintos, com todos os mares de lama e os lacerdas que tentaram desqualificá-lo (e se ferraram de verde e amarelo).
Hoje, a direita está se borrando com a perspectiva de Dilma Rousseff se eleger, quem sabe ainda no primeiro turno. Se isso acontecer, o ex-metalúrgico vai empatar o jogo com o Getúlio. E, se voltar ao poder em 2014, sei não... É por isso que a direita anda indócil.
Nem por isso, deixa de ser mais esperta do que a esquerda. Tempo de eleição é justamente a época em que a direita mais se une e a esquerda mais se engalfinha. A malandragem da direita hoje consiste em se dividir e se unir às esquerdas na hora da eleição.
Faz sentido pra você? Pra mim, faz. A maior parte da direita hoje está com Serra e o resto com Dilma. Serra e Dilma são de setores diferentes das esquerdas. Mas isso não importa. A direita vai governar com um ou com outra porque sabe jogar melhor. Tenha o nome que tiver - DEM, PMDB ou qualquer outro partideco desses que se alugam país afora -, a direita leu atentamente o tutorial e conhece melhor o jogo.
Só os melhores quadros do PT e do PSDB não percebem. Nasceram como dois partidos cheios de ótimos quadros e boas intenções, mas foram inflados, acolheram picaretas de todos os tipos e estão desfigurados. O PSDB não sabe a sorte que tem com o esfacelamento de sua asa negra, o DEM. No caso, o PT não tem a mesma sorte, pois o PMDB e demais partidecos aliados continuam crescendo. E muitos de seus melhores quadros tomaram outros caminhos, criando pequenos partidos como o PSOL.
Longe de apostarem na melhoria da qualidade da política que praticam, se esmeram no autocanibalismo, dando seguimento à velha prática – que tanto irrita o povo – de fazer com que a atividade partidária seja malvista, sempre presente no noticiário policial.
E o eleitor nisso tudo, o que faz? No tempo da eleição de papel, falava mal dos candidatos na cédula, escrevia palavrões, “elegia” os cacarecos. Como é impossível fazer a mesma coisa na urna eletrônica, o povo que cansou das barganhas e das picaretagens se diverte votando no Tiririca.
Felizmente, o abismo é menor.

Na caixinha de música, Dicró.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

POR QUE ESSA FOTO NÃO SAIU EM LUGAR NENHUM?

É como disse minha mulher, ontem à noite, depois de ler um monte de jornais e revistas semanais: "Eu ia votar em branco para presidente, mas não deixam. Também vou votar na Dilma".
Esta foto sairia na primeira página se o Serra estivesse nela.

domingo, 5 de setembro de 2010

O DIA EM QUE FEDERICO FELLINI BAIXOU NA CINELÂNDIA


Dia maluco o 31/8, terça passada! Luto e farra. Luto pelo último dia em que o Jornal do Brasil circulou. Farra porque até antigos leitores do JB participaram da despedida na Cinelândia que Jorge Antônio Barros comparou, em seu blog Repórter do Crime, com os funerais de Nova Orleans. E à noite, no Capela, Alfredo Herkenhoff lançou seu livro (ótimo, Memórias de um Secretário - Pautas e Fontes) sobre o grande jornal que fez história. A no alto foi tirada de outro blog, Álbum Jotabeniano, pilotado por Sérgio Fleury. Lembra outra (guardadas as devidas proporções, e bota proporções nisso!), tirada no Harlem, em 1958. Numa, nós, anônimos trabalhadores da imprensa carioca. Noutra, os monstros sagrados do jazz. A Cinelândia foi o nosso Harlem. E o filme que passou na cabeça da gente foi Amarcord puro. O JB não foi apenas o local de trabalho favorito. Era quase um lar. Deixou boas e más lembranças, estas quase sempre associadas a demissões e passaralhos.
Aprendi muito naquela casa, desde o primeiro dia, 1º de maio de 1973. Pois é, comecei a trabalhar ali num feriado, separando telegramas na editoria Internacional. Fui promovido a redator depois de passar no cursinho do Quintaes e de escrever as primeiras matérias, no tempo da guerra do Yom Kippur. Fiz o primeiro texto, pequenininho, a mando do Gazzaneo. A chance veio por um motivo: eram tantos telegramas, tantas versões conflitantes, que achei melhor criar um monte de pastas. O Gazza gostou da ideia.
No dia seguinte, o jornal foi editado assim: numa página, a versão israelense de determinado episódio; na página ao lado, o mesmo fato sob a ótica dos árabes.
E o teste da calandra? Era parte do ritual mandar o recém-chegado pegar a calandra na oficina. Os que não sabiam do que se tratava caíam no conto do vigário. No meu caso, o vigário foi o Leiser.
Primeira bola fora. Terminado o cursinho, éramos enviados para as editorias onde poderíamos ser absorvidos como estagiários. Fiz um teste no Esporte, muito ruim. Oldemário Touguinhó me mandou cobrir uma regata. E o sacana do José Roberto Tedesco, o Zé Cavalo, escalado para me tutelar naquele dia, me botou no barco do juiz. Resultado: passei a tarde inteira no mar. Não enjoei, mas cheguei com o resultado quando a página já tinha sido fechada pelo João Areosa. Claro que a matéria já tinha sido feita pelo Zé Cavalo.
Das gozações me lembro bem. O grande algoz, meu e de muita gente, era o redator Luiz Fernando Cardoso, que me deu carona até Copacabana, onde eu morava, no prédio do teatro Princesa Isabel. Em cartaz, uma peça do Jô Soares. Um monte de gente na porta. O sacana do LF me deixa na porta e berra para todo mundo ouvir: “Não esquece de comprar sua pomada de hemorróidas!”. Entrei em casa vermelho de raiva, com as gargalhadas ainda ecoando no elevador.
Lembro também do meu primeiro título, para uma nota de colunão (textinho de cinco ou seis linhas, numa coluna) sobre a conferência realizada no mesmo ano sobre o uso dos mares. A reunião não deu muito certo. Tasquei em duas linhas: “Conferência foi/ por água abaixo”. No dia seguinte, tinha elogio por escrito do Luiz Orlando Carneiro: “Gostei muito de seu título. Pensei até que foi feito pelo Renato (Machado)”.
Primeiro esporro: chamei um chefe mafioso que estava escondido no Rio e aqui foi preso pelo nome verdadeiro – Tommaso Buscetta. O editor “corrigiu” a tempo. O JB era meio filho-de-Maria para certas coisas. O bandidão foi rebatizado como Bruschetta.
Da minha entrada no JB também lembro bem. Até já contei aqui: http://quemevivo.blogspot.com/2009/05/seu-pistolao-subiu-no-telhado.html.
No peito, algumas saudades. Na vitrolinha, Nino Rota (acima) e Louis Armstrong (com a foto do Harlem).

sábado, 28 de agosto de 2010

SEU ALUGUEL EM TROCA DE UMA VAGA NO CÉU


O vídeo acima é antigo. Tem meses, talvez mais de um ano. Se isso o que foi dito por esse "pastor" Silas Malafaia não é considerado um ato criminoso pela Justiça, pelo Ministério Público e pela Polícia, estamos realmente muito mal. Melhor entregar logo o ouro ao bandido. Pensando bem, até o Maluf perto desse homem é um santo. O único fato positivo nesta gravação é que o "pastor", com a voz alterada, imagina ouvir de um seguidor a frase: "A coisa anda ruim pro meu lado". A coisa deve andar muito ruim mesmo, mas para o lado dele, Malafaia. Ato falho na certa. Daí o pedido desesperado de dinheiro.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

FELIS DOMESTICUS POR SYLVILAGUS BRASILIENSIS


A “Época” está vendendo felis domesticus por sylvilagus brasiliensis. Quem pegou o tempo do latim no Colégio Pedro II vai lembrar o que é isso. Refiro-me à matéria de capa sobre Dilma Rousseff. Quem vê a capa e não lê o miolo, estranha com razão. A capa promete revelações sensacionais sobre o papel da candidata de Lula à Presidência da República na luta armada.
Porém, basta ler o conteúdo das páginas 34 a 48, espaço das duas matérias com as quais a revista mimoseia a ex-ministra, para entender que não é nada disso. A “Época” só contou coisas boas da candidata que, aliás, começa a disparar nas pesquisas.
A primeira matéria é um refogado que apenas confirma o que Dilma tem dito sempre, ou seja, que nunca participou diretamente de ações armadas. Pior, desmente a sugestão do subtítulo da capa: “Documentos inéditos revelam uma história que ela não gosta de lembrar: seu papel na luta armada contra o regime militar”.
O que esse subtítulo quer significar? Que ela pegou uma metranca e saiu por aí. Mas não era isso.
A página mais hilariante desta primeira matéria é a 42, que traz um quadro negro sob o título “As dúvidas sobre o passado”, com uma série de perguntas que poderiam, sem mudar uma vírgula, ser as mesmas feitas pelos torturadores. Com exceção da última (“Dilma se arrepende de alguma atitude tomada naquele período?”), que deve ter sido feita pelo capelão militar de plantão na cadeia.
A segunda matéria tem mais jeito de reportagem do que de editorial. Graças à fantástica apuração ali contida fiquei sabendo, por exemplo, que Dilma “não tinha nenhum talento na cozinha” e que usava o pátio da cadeia para “visitas higiênicas”.
O que são “visitas higiênicas”? Além de terrorista que não deixa rastros das milhões de rajadas que disparou, a Dilma não é boa no fogão e tem mania de limpeza. Esse mundo está perdido! Mais uma pesquisa do Ibope e uns e outros vão atear fogo às vestes.

Nas vozes dos Anjos do Inferno, "Como se faz uma cuíca".

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

REDES SOCIAIS SOCIALIZAM CONTRA A VONTADE

Já falei aqui que tenho bronca dessas redes sociais. Não é à-toa. Uma ex-colega do ex-JB recebeu email de uma delas, a LinkedIn, e apenas clicou na janelinha pra ver qual era. Resultado: todos os endereços da agenda dela de emails receberam convite para entrar na tal LinkedIn. Deve ter acontecido a mesma coisa comigo, que também cliquei nesse troço. Por isso, desculpem, mas se alguém convidar você, em meu nome, para entrar nessa, não fui eu. Que saco, hein? Mas não é preciso se descabelar por isso. Basta deletar. Já os avisos de postagens neste blog, estes foram enviados por mim, sim. Também são deletáveis.

MAIS QUATRO HISTÓRIAS DO MELHOR JORNAL DO MUNDO



Na noite de terça-feira, 31 de agosto, no anexo do Capela, Alfredo Herkenhoff lança seu livro "Memórias de um secretário do Jornal do Brasil". É dia de cercar o cabrito com arroz e brócolis e enviá-lo direto para o estômago, afogado em litros de chope. Antes disso, mais quatro historinhas que me contaram do melhor jornal que o Brasil teve nos últimos 510 anos. No gramofone do Elefantinho do JB, "Ameno Resedá" com a Orquestra do Rancho Flor do Sereno.


O menor título do mundo
Titular matéria pode ser complicado, sobretudo quando o paginador (ou diagramador) dizia ao redator:
“Olhaí. É matéria de colunão. Faz um três de onze”.
Ou seja, o título tinha que ter três linhas e, no máximo, onze batidas em cada uma delas.
O infeliz tinha que se virar.
No velho JB, o secretário do jornal e chefe do Copidesque, José Silveira era o rei do título enxuto. Literalmente, tirava de letra o desafio de acomodar em espaços mínimos o assunto principal da reportagem.
Foi assim, por exemplo, no ano de 1961, quando Juscelino Kubitschek, recém-saído da Presidência da República, foi convidado pelo sucessor Jânio Quadros para assumir a Embaixada do Brasil junto às Nações Unidas.
Provocado por um diagramador a fazer valer sua fama de titulador, usando um formato mínimo, Silveira perguntou se serviria um título de três de três. Sentou diante das pretinhas e batucou na hora:
JK:
ONU
NÃO
Se o Guiness não registrou, devia.

O dia em que ACM chorou
Correu a notícia de que o governador da Bahia ia colocar três pontes de safena.
No JB, Gilberto Menezes Côrtes, responsável pela coluna Informe JB, não pensou duas vezes:
“Antônio Carlos Magalhães vai fazer três pontes: uma com a OAS, outra com a Camargo Corrêa e a terceira com a ADM”.
ACM leu, não gostou e revidou via fax:
“Você esqueceu de dizer que vou fazer uma também com a senhora sua mãe”.
Gilberto replicou:
“Governador, lamento o tom de sua resposta a uma simples brincadeira. Mas devo adiantar que, infelizmente, perdi minha mãe recentemente num trágico acidente automobilístico que levou também meu pai e meu único irmão".
Dizem que o cacique foi às lágrimas, antes de se desculpar pela grosseria e de convidar Gilberto para almoçar no Palácio de Ondina.

O trem do JB
O repórter João Batista de Abreu tinha um compromisso: chegar às sete em ponto na estação da Leopoldina para seguir no trem húngaro em sua primeira viagem a São Paulo.
Chegou às 7h02min, e minutos depois viu quando o ministro Mário Andreazza, seus auxiliares e os puxa-sacos de sempre voltavam da cerimônia de lançamento.
Com medo de ser demitido, pensando na falta que o leite faria à prole botafoguense que em breve botaria no mundo, faria qualquer coisa, menos voltar ao jornal.
O trem era rápido, mas o avião muito mais. Pegou o táxi para o Santos Dumont. Perguntou se tinha vôo para São Paulo e quanto custava. Daria um jeito de pagar, e receber depois do controlador de diárias. Era muita grana, mesmo assim, e note-se que não havia ainda cartão de crédito na mão de qualquer Mané.
Teve um lampejo: e para São José dos Campos? Sabia que o trem passaria na cidade.
Em vez de responder, dando horário do embarque e preço da viagem, o funcionário perguntou o peso do repórter. “72 quilos”, respondeu.
“Então, embarque no portão 1 que é de graça”.
Opa, a sorte mudou de conta. Chegando a São José dos Campos com bastante antecedência, encontrou um primo, professor do Instituto Tecnológico da Aeronáutica, e pediu que ele dissesse qual era a bandeirinha que usaria para obrigar o trem a parar.
“Esqueça. Pega a chave do Fusca e vai para São Paulo”.
O retardatário saiu voado pela Dutra e chegou à Luz antes do bendito expresso magiar. A tempo de entrevistar autoridades e transeuntes na plataforma, de receber o trem e conversar com os passageiros. Do resto cuidaria o fotógrafo Otávio Magalhães, que chegou na hora e embarcou.
Juntou os depoimentos com o ambiente de cada lugar percorrido – ele conhecera o trajeto na viagem experimental, semanas antes – e enviou a matéria pelo telex da sucursal paulistana do JB.
No dia seguinte, chegando ao jornal, soube que o editor nacional Juarez Bahia queria falar com ele.
“Pronto. Nem assim adiantou. Fui demitido”.
Juarez o recebeu na saleta ao lado do Telex, parecia meio chateado. Não era, porém, o que havia pensado.
“Queria te pedir desculpas. Sua matéria foi publicada sem sua assinatura. Por engano, saiu com o crédito da sucursal”.

Oldemário e o coronel
Na ditadura, em qualquer empresa pública ou privada, a área de segurança tinha um poder tremendo. No Jornal do Brasil dos anos 70, nem tanto. O chefe, um certo coronel Melo, chegava até a ser cordial, mas impunha um clima pesado, nada condizente com o de uma redação de jornal. O respeito deu adeuzinho quando seus subordinados foram se meter com Oldemário Touguinhó. Não era permitido entrar no JB usando bermuda, mas Oldemário precisou dar um pulinho na editoria de esportes, numa manhã, para pegar alguma coisa que havia esquecido na gaveta.
Foi assim que me contaram essa história:
O segurança foi barrá-lo na portaria. O editor se identificou e pediu novamente para ter acesso ao elevador. Iria apenas à sala pegar uns papéis. A paciência de Oldemário foi embora quando ouviu a frase:
“O senhor não pode subir de bermuda. São ordens do coronel Melo!”.
“Ah, é? Então vai tomar no cu. E diga ao coronel Melo que eu mandei ele também tomar no cu!”.
O segurança não sabia o que fazer. Oldemário, muito puto, resolveu não insistir mais.
Na segunda-feira, o telefone toca na editoria. Era pro Oldemário.
“Oldemário, boa tarde. Aqui é o coronel Melo. Tudo bem contigo?”.
“Pode falar, coronel”.
“Oldemário, aconteceu uma coisa desagradável. Um subordinado meu me contou... etc. etc.”.
“Pois não, coronel, o que o senhor quer mesmo saber?”.
“Ah, Oldemário, eu só queria saber se isso aconteceu mesmo, afinal de contas...”.
“Coronel, parabéns! Seu subordinado não mentiu. Agora, o senhor faz o seguinte: o senhor vai tomar no cu que eu tenho mais o que fazer”.

O SAMBA DE BREQUE QUE FALA NO CADERNO B


Nestes minutos em que começo a contar mais algumas histórias do Jornal do Brasil, que assisti ou me contaram, um avião particular acaba de cair na Baía da Guanabara. Quem me deu a notícia foi o Romildo Guerrante, com quem eu falava pelo telefone no momento da queda. Romildo fechava um jornal na Avenida Beira Mar, ali pertinho do Santos Dumont, e pela janela acompanhou o pouso forçado nas águas do Flamengo. Em instantes, entro no G1 e o flash do desastre já está no portal de notícias, com foto do mais-pesado-que-o-ar nadando no mar, porém inteiraço. Felizmente, ninguém morreu. Os jornalistas que trabalham na grande rede terão muito que falar sobre estes tempos da internet a lenha.
Veja, ilustre passageiro, a foto que ilustra esta página virtual. São teclas de uma antiga máquina de escrever. Por serem em geral teclas pretas, o pessoal da antiga as chamava de pretinhas. Faziam muito barulho quando eram batucadas e integravam a trilha sonora das redações de jornais junto com outros sons característicos: esporros das chefias, pigarros e tosses dos fumantes que constituíam a maioria dos internos naquelas casas de loucos, gargalhadas de diferentes calibres e, no início da modernidade, guinchos de impressoras, entre outras algaravias.
Agora que você entrou no clima, mais umas historinhas, ao som deste samba-de-breque maneiro que fala do JB, do Caderno B e da Condessa Pereira Carneiro, cantado por João Nogueira e enviado para este blog por Roberto Dufrayer. Saca a letra:
“Eu de chinelo charlote/ meu chapéu copa norte/ meu blusão de voil/ (não tinha ainda de tergal)/ cordão bem fininho/ na medalha um bom santinho/ trabalhado em metal/ (era São Jorge, o maioral)/ cristão e umbandista/ eu tinha o meu ponto de vista/ meu padrinho era Ogum/ (não tinha santo mais nenhum)/ só dava eu com a Judite/ aos domingos no Elite/ e às sextas no Mil e Um/ (era traçado em vez de rum)/ E enquanto a nêga não vinha/ era uma boa cervejinha/ com a rapaziada/ (salta uma loura bem suada)/ depois do basquete/ era bater na bola sete/ e caprichar na tacada/ (olha a menina encaçapada)/ Mas eu de sambista/ tive que ser jornalista/ pra me valorizar/ (passei no tal vestibular)/ e agora veja só você/ trabalho no Caderno B/ critico samba popular/ (seu Tinhorão vem devagar)/ Um dia então fui chamado/ convidado pra jurado/ de julgar samba-enredo/ (confesso até que tive medo)/ no meio da quadra/ apareceu um camarada/ com jeitão de Ipanema/ (era um artista de cinema)/ chegou-se pra mim/ foi dizendo logo assim/ "sou diretor de carnaval"/ (até aí nada de mal...)/ esse é o samba dos cartolas/ vai dar grana pra escola/ de direito autoral/ (toca na Rádio Mundial)/ Se é coisa que eu não adoto/ é nêgo cabalando voto/ na maior cara de pau/ e o samba de sobra/ era um tremendo boi com abóbora/ rimava açúcar com sal/ antes de eu virar a mesa/ pra acabar com a safadeza/ foi armado um trelelê/ (era judô e karatê)/ e o tal do branco cabeludo/ me deu tanto do cascudo/ que eu nem sei mais escrever/ (tá pensando que eu sou telha?)/ Dona Condessa aborrecida/ me expulsou do JB/ (veja você...)”

terça-feira, 27 de julho de 2010

DIVAS ENSANGUENTADAS NO BANHEIRO DA RÁDIO


Em 1973, com ditadura e milagre econômico, os jornais eram proibidos de quase tudo. Foi o ano em que comecei na profissão, trabalhando em dois jornais. Das 9 ou 10 da manhã até 4 da tarde, no Diário de Notícias, e das 5 até 10/11 da noite, no Jornal do Brasil.
Foi um breve período, pouco mais ou menos de um ano no nº 114 da Rua do Riachuelo, mas tão estimulante quanto meu começo no JB. Talvez ainda mais porque no DN fui estagiário, depois repórter da Geral, ganhando... o quê mesmo? Ah, sim! Ganhando experiência.
Salário não havia. O jeito era recorrer a vales, que eu peguei poucos, pois tinha medo de ouvir um não. O jornal, apesar de dirigido por gente íntegra, a começar pelo chefe da redação Múcio Borges, a amabilidade em pessoa, não tinha dinheiro para pagar todo mundo, ainda mais gente nova e inexperiente, que devia estar agradecida por ganhar cancha.
Passei um período fazendo polícia, ora era escalado para cobrir assuntos religiosos (nas férias da Marinilda Marchi, o nome da bela na época), ora fazendo matérias para outras editorias.
Eu tentava caprichar tanto nos lides que a coisa não fluía. Tinha que ouvir calado gozações maravilhosas como a de certo editor chamado João Rath: “Elegancinha, você é um gê-ni-o! Há muito tempo não vejo esse erro!”. Mas essa história já contei em algum lugar aí pra trás, neste mesmo blog. Ou de ter a primeira matéria assinada (sobre o pintor João Câmara) totalmente reescrita por outro colega, o tcheco Luís Carlos Cabral.
Enfim, eu devia melhorar. Como melhorar? Arranjando rapidamente um furo de reportagem. Acho que eu sonhava com o editor-chefe gritando “Parem as rotativas! Parem as rotativas!”. Se não sonhei com isso, deveria.
Eis que, do nada, surgiu minha oportunidade. Estava de plantão no jornal, acho que num sábado, quando bateu o telefone. A linha estava péssima mas deu para ouvir um pesquisador ensandecido dizendo que Emilinha Borba e Marlene estavam jogadas no chão de um banheiro da Rádio Nacional.
A ligação caiu e o sujeito não tornou a ligar. Mas a afobação de iniciante não estava nem aí para confirmação de algo que eu já via estampado na primeira página. E a imaginação fértil do mesmo iniciante fez o resto. Eu sabia desde criancinha da disputa encarniçada entre as duas cantoras e seus respectivos fãs-clubes e pensei logo no pior.
O pior era o melhor para mim: um furo.
Pedi fotógrafo e motorista e seguimos para a Praça Mauá nº 7. O porteiro, que devia ser também um novato, auxiliar de portaria escalado para trabalhar no fim de semana, ficou assustado quando perguntei se as rainhas do rádio haviam saído no tapa e estavam se esganando no chão do banheiro da emissora.
Como viu que eu estava acompanhado por um sujeito fortão, o fotógrafo Lúcio Marreiro (que não acreditou na história, mas assim mesmo foi na onda para curtir com a cara do foca), e que havia um carro de reportagem na porta, nos deixou entrar.
Não sei como, ninguém nos parou, ainda não havia essa frescura de crachá sendo pedido a todo instante. Fomos até o andar da emissora. Passamos pelo auditório, uns e outros que estavam em um estúdio pareceram estranhar, mas também não ficaram no caminho.
“O que vocês devem estar procurando está logo ali”, disse um camarada de cabelo ruivo, com certeza pintado, quase sussurrando. Era a minha fonte, com certeza.
Chegando ao local do crime, o tal banheiro, nenhum vestígio de divas ensangüentadas. Mas realmente estávamos diante de um crime: rolos de gravação e documentos apodrecidos empilhados entre a latrina e a pia. O fotógrafo explodia de tanto rir. A matéria só foi sair na terça ou quarta-feira seguinte, como nota de colunão, para irritação do meu chefe de reportagem, o gente boa Alfredo Schleumer, que fez questão, no dia seguinte, de me entregar duas cartas de leitores indignados com aquilo. Um deles sugeria que aquelas caixas e rolos fossem imediatamente levados para o Museu da Imagem e do Som, que incorporou no ato o acervo fedendo a xixi.
Não durei muito no emprego. Logo arranjei outro, numa agência de notícias, onde eu recebia, sim, todo final de mês, além de continuar na Editoria Internacional do JB.
Foi uma boa saída, apesar da opinião contrária do meu chapa João Batista de Abreu, que foi para o Diário de Notícias dias depois de minha saída.
"Por que você não volta pra lá? Entrou um grupo novo, com dinheiro. Quem manda agora é o Olímpio Campos".
Até deu vontade.
Semanas depois perguntei ao João Batista como estava no emprego do DN.
"Tá ótimo, tô aprendendo muito, fui até aumentado em 30%!".
Êpa! O que foi que eu perdi...
"Só tem uma coisa, Zé", fez questão de dizer o João. "Fui aumentado em 30% e devo ter outro aumento qualquer dia desses, mas o Olímpio não paga!".
Escapei, assim, de entrar na famosa fila do banco dos credores do Olímpio, onde só recebia o primeiro da fila. Quem chegasse primeiro ao guichê, levava.
O novo chefão do velho jornal dos militares e das professoras inventou o famoso "cheque olímpico". Só recebia o papel quem corria e chegava na frente.
Na vitrolinha Philco, "Fanzoca do rádio", de Miguel Gustavo, na voz do palhaço Carequinha.
Extra! Extra! O blogueiro se enganou. Os horários não conferem. De manhã eu tinha aula na UFF. Entrava no DN pouco depois do meio-dia (saía um pouco mais cedo da última aula, quando tinha aula, e partia voado de Niterói para a Riachuelo). Quando surgiu a oportunidade de me profissionalizar no Diário de Notícias, fiquei só mais um mês, porque estava de férias escolares. Saí logo depois. O horário da agência era quase o mesmo do estágio, com uma hora a mais (cinco horas) e por isso deu pra ter esse segundo emprego no tempo do IACS. A idade é uma eme.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

WILSON GREY E JOHN WAYNE NA TERRA DO SOL



A expressão de Wilson Grey era a mesma, e a idade talvez seja também. Em 1975 ou 1976, sei lá, o grande buchicho na minúscula Travessa Ator Jayme Costa era a competição sobre quem seria o ator recordista de filmes do planeta. Nós, do curso de Cinema da UFF, por motivos patrióticos, sentimentais, corporativistas, ideológicos e etílicos, torcíamos descaradamente pelo eterno vilão do cinema nacional. Ainda mais porque seu competidor direto era John Wayne, o cowboy americano, o sobrinho favorito do Tio Sam e do Tio Patinhas.
Enfim, Wilson Grey era a esquerda latino-americana, e John Wayne, o capitalismo imperialista. A competição ganhou as páginas do Caderno B e de outros suplementos culturais. A coisa ficou animada.
Tudo bem que outro brasileiro, o grande José Lewgoy, também era um vilão, só que refinado, chefe de gangue, mentor de crimes horrendos, por vezes até usando monóculo.
Wilson Grey era o vilão pobre, suburbano, de má formação dentária, semialfabetizado que tentava “falar difícil”. Lewgoy era um grande ator e cansou de atuar em papéis principais. Grey foi o melhor dos nossos coadjuvantes e só uma vez na vida (“O mágico e o delegado”) teve o papel principal.
Virou uma espécie de programa de alguns alunos de Cinema dar uma passadinha na travessinha da Cinelândia, onde atores e técnicos se reuniam para saber das novidades – quem estava filmando, onde poderia pintar trabalho etc.
Nosso barato era entrar na conversa daqueles malandros velhos, tentar uma vaguinha qualquer nos filmes. A coisa sempre terminava ali bem perto, no bar Tangará, para fechar o fim de tarde com as primeiras doses da noite.
Foi nessa época que meus chapas Albertino da Paz Ferreira e Chico Moreira tiveram a ideia de fazer um filme no Jockey Club, na Gávea. Me chamaram para cuidar do som, pilotando um sensacional e moderníssimo gravador Nagra. Moderníssimo foi modo de dizer.
O título da pantalla seria “Ponta e Placê”. Tomada a decisão, pegamos o Nagra 4 e a Arriflex BL 16 mm que a Embrafilme sempre emprestava aos alunos da UFF e partimos rumo ao prado. Foram vários dias de filmagem. Falamos com treinadores, jóqueis, bilheteiros que sempre queriam nos passar uma barbada (davam falsas barbadas para todos, na esperança de ganhar um qualquer, caso o chute desse certo) e até com o Bolonha, figura imponente e folclórica do lugar, neto ou bisneto do Duque de Caxias e eterno adversário da família Paula Machado.
Minha geração foi marcada por muitos projetos irrealizados e o “Ponta e Placê” foi um deles. Ficou só no copião, esquecido em algum canto do IACS (Instituto de Artes e Comunicação Social) da UFF.
O diretor Albertino sumiu da área por uns tempos, depois resolveu ficar somente com seu emprego no Banco do Brasil. O fotógrafo e montador Chico Moreira conheceu Sílvio Tendler, com quem trabalhou nos documentários sobre Juscelino e Jango. E eu resolvi que seria só jornalista, que esqueceria aquele negócio de virar roteirista.
Mas esse projeto, mesmo não tendo ido adiante, teve um “the end” à altura. Numa das filmagens na parte externa do hipódromo, perto da bilheteria, havia um telão para que os apostadores que não queriam ver a corrida lá dentro, nas cadeiras, pudessem acompanhar os resultados de cada páreo ali fora.
Adivinhem quem estava lá. Ele mesmo, Wilson Grey.
Malandro de raciocínio rápido, bastou ver aqueles três garotos empunhando Arriflex, Nagra, pau de luz e claquete para ficar no enquadramento perfeito. Coisa de profiça. Olhando o telão, atento, mordendo a haste dos óculos, simulou que havia acertado o cavalo ganhador e deu até um pulo para comemorar.
“Corta!”, disse o Albertino, emocionado com a cena.
No que o velho ator vibrou:
“Eu, eu, eu! John Wayne se fodeu! Ganhei, porra! Com este, são 251 filmes!”.
Na verdade, não lembro o número de filmes que ele citou. O fato é que John Wayne teria feito 250 filmes, quase 99% deles como ator principal. Dane-se! Wilson Grey correu por fora, passou o alazão ianque e venceu por uma cabeça, sem necessidade de esperar o photochart para conferir.
Quer dizer, foi o que pensamos na ocasião.
Infelizmente, Wilson Grey morreu puto da vida com essa história de recorde. Parece que do John Wayne ele ganhou mesmo, em quantidade de filmes. Mas na última volta, surgiu do nada, em outra raia, um fdp de um ator indiano, pioneiro daquilo que ficaria mais tarde conhecido como Bollywood.
Superou, por um ou dois filmes, o verdadeiro homem que matou o facínora e o inimigo de Oscarito e Grande Otelo.
E ainda deve ter comemorado à moda Grey:
“Eu, eu, eu, o Ocidente se fodeu!”.
Na trilha sonora, "Os Bohemios", de Anacleto de Medeiros, com o Art Metal Quinteto.

BAR NATAL, UM FILME FEITO SOB EFEITO DE ÁLCOOL


O filme "Bar Natal", dirigido por Wilson Paraná, na época aluno do curso de Cinema da UFF, pode ser encontrado no Youtube. Os frequentadores habituais, 30 anos mais novos, falam bobagens (o som é péssimo, ainda bem) e bebem cerveja e destilados em quantidades absurdas. O âncora da esbórnia é o Lauro Faria. O bar fechou dias depois dessa filmagem para ser demolido e dar lugar a um shopping. Foi divertido enquanto durou.

GP POR GP, PREFIRO OS CAVALINHOS

Automobilismo não é esporte. É um negócio que movimenta muito dinheiro. Felipe Massa e Fernando Alonso ontem reviveram o papelão de Rubens Barrichello e Michael Schumacher em 2002. Falam tão mal do turfe mas não vejo diferença. Foi escandalosa a atitude da Ferrari enquadrando o piloto brasileiro. No turfe, até troca de cavalos já houve, mas acho um negócio – sim, um negócio – mais divertido. Já fui chegado ao turfe no tempo em que fazia o curso de Cinema da UFF e um colega teve a ideia de fazer um curta em 16 mm no hipódromo da Gávea. Durante alguns anos, andei por lá. Ganhei algumas vezes, sempre apostando em pangarés com nome de filme. Era solteiro e, certa vez, voltei para casa com o dinheiro do aluguel tirado das patas de um azarão chamado High Noon. Parei antes de me viciar, mas bem que eu gostava de ver os cavalinhos na pista. Havia muita fofoca. Por exemplo, no dia do aniversário de determinado treinador, o G., o cavalo montado pelo jóquei P. sempre vencia no terceiro ou quarto páreo. Fraude, sim, porém café pequeno diante desse episódio acintoso da Ferrar e dos valores envolvidos.

domingo, 25 de julho de 2010

SETE PERGUNTAS PARA O PAI DO GOOGLE


Muito antes da internet, programas de rádio ensinavam o significado de palavras e tiravam dúvidas sobre temas diversos. Um major da PM, por exemplo, se apresentava no Programa César de Alencar, da Rádio Nacional, com o próprio nome. O quadro se chamava “Romário, o Homem-Dicionário”. Na Rádio JB havia o programa “Pergunte ao João”, sobre o qual acabo de ler na Wikipedia:
“Programa criado pela Rádio Jornal do Brasil do Rio de Janeiro em 1960, também exibido pela TV Rio canal 13 à partir de 1963, com apresentação de Irene Ravache. O programa constituia em perguntas dificeis, feitas pelos ouvintes ou telespectadores, sobre temas diversos, que sempre eram respondidas por seu criador, o pesquisador e professor, João Evangelista. O programa teve tanto sucesso que foi lançado um livro em 1962 pela editora Conquista. De acordo com definição de muitos saudosistas de hoje, o "Pergunte ao João" era uma espécie de Google da época, tirando as dúvidas dos mais variados assuntos”.
Humor tira férias?
Interessante a preocupação com os programas de humor que, a partir do início da campanha presidencial, estão impedidos de levar ao ar quadros que ridicularizem os candidatos. Assustador que os jornais chamem de “repórteres” os cômicos do abominável CQC e do indigente Pânico na TV. Hilariante que os “cassetas” digam que não existe a intenção de “prejudicar um ou outro candidato”. Mas o humor "editorial" não tira férias. Será que as trupes citadas vão dar um jeito de esculhambar (preferencialmente) a Dilma, (com suavidade) a Marina e (falando de feiúra e outras bobagens que não dizem nada ao eleitorado) o Serra?
A IstoÉ foi na mosca?
Diz a revista IstoÉ que o inacreditável candidato a vice Índio da Costa, o da merenda escolar, que tentou vincular o partido do governo ao narcotráfico colombiano e foi “repreendido” pela campanha de José Serra, não falou sozinho. Índio apenas teria deflagrado a estratégia de espalhar pânico pré-eleitoral. Na mesma edição da IstoÉ, uma boa lembrança: Arthur Virgílio, líder do PSDB no Senado, paparicou as FARC em 1999, quando era secretário-geral do partido e líder do governo Fernando Henrique Cardoso no Congresso. O PSDB tem algum trato com o narcotráfico?
Endereço certo?
Wanderley Luxemburgo acaba de se oferecer para ajudar o novo técnico da seleção brasileira, Mano Menezes, “no que for possível”. É aí que mora o perigo? Devemos fazer como o índio amigo do Kid Morengueira e gritar: "Cuidado, Manôôô"?
Tem vulves vulves no chicken house?
Leio no blog de Paulo Moreira Leite que Sérgio Machado, atual presidente da Transpetro, é o nome do PMDB para suceder Sérgio Gabrielli na Petrobras. Me respondam uma coisa: se eu fosse acionista da empresa, ou ainda fosse petista, começava a chiar desde agora ou esperava 2011?
Quem abiscoitaria o Prêmio David Nasser?
Alguma entidade deveria lançar o Prêmio David Nasser para oferecer ao jornalista que mais se esmerar em ataques levianos ao governo Lula. David Nasser, excelente letrista da música popular brasileira, é hoje mais lembrado pela torpeza dos ataques aos políticos que contrariavam os interesses de seu patrão Assis Chateaubriand e da direita brasileira em geral. Quem é seu candidato, leitor?
Serial ou bacalhau killer?
Mas que estrago que o sujeito andou fazendo, hein? Teria mandado matar o pai adotivo, o matador do pai adotivo, o gerente do restaurante, um garçom, o advogado, um policial que foi investigar e até o pai-de-santo que sabia da encrenca toda. Sete vítimas na cadeia alimentar. Fui uma vez ao Rei do Bacalhau da Ilha e gostei do bolinho. Nem passou por minha cabeça que o dono poderia fazer o papel do vilão de Criminal Minds. Tecnicamente, disseram alguns entendidos, o cara não pode ser considerado um serial killer. É ou não é?
Que filme é este?
Falando no Bacalhau Killer, que tal esse enredo: pai de família exemplar, carinhoso com a mulher e os filhos, recusa-se terminantemente a vender drogas. Por causa disso, outros pais de família zelosos decidem matá-lo. Mas nosso herói morre de causas naturais. Os mandantes do crime, no entanto, são mortos um a um. Esse filme cansa de passar nos canais por assinatura. Só perde para Notting Hill. Que filme é este?
No fundo musical, Ed Lincoln e sua orquestra. Não tenho em casa e nem encontrei na internet a gravação mais conhecida, da Clementina de Jesus.