sexta-feira, 4 de setembro de 2009

ARQUIVO X PODE COMPRAR DIREITOS DO CASO LINA




Visito sempre o blog (quase uma revista diária) do jornalista Josias de Souza, na Folha Online. Ontem passei batido e não li o texto abaixo, cujas informações não encontrei hoje nos dois jornais que assino - Globo e Estadão. Noticiário de Receita só uma nota sobre a liberação de mais um lote de restituições. Ou seja, só num cantinho da internet (e certamente na Folha, que não assino) os leitores são informados de algo muito grave. OK, foi furo da Folha. No entanto, duas semanas atrás, a personagem do blog do Josias esteve a ponto de ser canonizada pela mídia em peso, por ter acusado Dilma Rousseff de recebê-la num encontro cuja hora, dia, semana e mês não sabia bem. O caso Lina Vieira poderia render um episódio do Arquivo X. Vai ver que a ex-secretária da Receita Federal acompanhou a primeira-dama do Japão, Miyuki Hatoyama, na voltinha que deram lá no planeta Vênus, abduzidas por aliens de bicos enormes, e pensaram que estavam no Palácio do Planalto (foi uma confusão natural, pois, como se vê na foto, o projeto do quartel-general dos ETs também é de Oscar Niemeyer). Na caixinha de surpresas musicais da sujeira política nacional, "Lucy in the sky with diamonds", daquele quarteto de aliens de Liverpool.


DO BLOG DE JOSIAS DE SOUZA



A superintendência da Receita em São Paulo submeteu as estatísticas do setor de fiscalização a uma maquiagem.
Uma infração bilionária lavrada em dezembro de 2008 foi lançada na base de dados do fisco em janeiro de 2009.
Graças à manobra, vendeu-se à platéia gato por leão. Informou-se que, sob a ex-secretária Lina Vieira, o fisco apertara o cerco aos grandes contribuintes. É lorota.
A digestão de estatísticas é coisa que a maioria dos estômagos prefere refugar. Ainda asssim, vai abaixo uma tentativa do repórter de mastigar a encrenca:
1. Mega-infração: No dia 29 de dezembro de 2008, a superintedência da Receita em São Paulo lavrou contra o banco Santander um auto de infração de R$ 4,168 bilhões.
2. Maquiagem: O valor deveria ter sido contabilizado no ano passado. Porém, foi empurrado para o exercício de 2009. Desceu à base de dados do fisco em janeiro.
3. Tônico: Ao deslocar a multa do Santander de um ano para outro, o escritório da Receita em São Paulo vitaminou as estatísticas dos primeiros oito meses de 2009.
Sem os R$ 4,168 bilhões da multa imposta ao banco, as infrações lavrados no maior Estado do país somariam, entre janeiro e agosto de 2009, R$ 9,88 bilhões.
Vitaminadas pela multa bilionária, as autuações de 2009 saltaram, em S~çao Paulo, para R$ 14,05 bilhões.
Considerando-se o país inteiro, o total de multas pulou de R$ 26,9 bilhões para R$ 31,1 bilhões.
4. Lina versus Rachid: Ao tingir 2009 com o ruge do Santander, o fisco fez esmaecer os resultados do primeiro semestre de 2008. Para quê?
Na primeira metade de 2009, a Receita era chefiada por Lina Vieira. Foi demitida em julho. No mesmo período de 2008, o chefe do fisco era Jorge Rachid.
Entre janeiro e agosto do ano passado, ainda sob Rachid, a Receita lavrara em São Paulo autos de R$ 9,8 bilhões. No Brasil, R$ 34,3 bilhões.
5. Gato por leão: Tomado pelo resultado maquiado, o fisco de Lina teria registrado em São Paulo um incremento nas fiscalizações de notáveis 43%.
Tomado pelo dado real, escoimado da multa do Santander, o aumento no volume de autos de infração cai para irrisórios 0,55%. Na prática, um empate com a era Rachid.
Considerando-se os números do país inteiro, o resultado é desfavorável a Lina tanto no cenário maquiado quanto no real.
Com a vitamina do Santander, registrou-se nos primeiros oito meses do ano uma queda de 9,32% no total nacional de infrações. Sem o tônico, queda de 21,46%.
6. Arrocho nos tubarões: Nas pegadas da demissão de Lina, vendeu-se a tese de que a secretária fora ao olho da rua porque incomodara os grandes contribuintes.
Dizia-se que o cerco ao tubaranato havia sido incrementado especialmente na superintendência de São Paulo, a maior do país. Falso.

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