sexta-feira, 18 de setembro de 2009

FOLHA DENUNCIA QUINTA-COLUNA EXPLÍCITA

A Folha de S. Paulo revela, em reportagem de autoria de Ranier Bragon, Fernanda Odilla e Valdo Cruz, publicada hoje, que três deputados federais, assim como quem não quer nada, apresentaram emendas que contrariam os interesses nacionais.
As propostas visam acabar com o monopólio da Petrobras na extração do petróleo da camada do pré-sal. A reportagem identificou que, curiosamente, as emendas de José Carlos Aleluia (DEM-BA), Eduardo Gomes (PSDB-TO) e Eduardo Sciarra (DEM-PR), na verdade, dizem a mesmíssima coisa, soprada pela mesma fonte - a concorrência da Petrobras.
Pegou muito mal. Eleitores da Bahia, Paraná e Tocantins não esqueçam de malhar esses três Judas no Sábado de Aleluia (coincidência) do ano que vem. E, principalmente, nunca mais votar nesse trio de quinta-colunas: Aleluia e os dois Eduardos.


OPOSIÇÃO "CLONA" EMENDA DE PETROLÍFERAS

Três deputados federais de oposição apresentaram separadamente emendas aos projetos do pré-sal que, além de coincidirem com os interesses das grandes empresas do setor petrolífero, têm redação idêntica.
José Carlos Aleluia (DEM-BA), Eduardo Gomes (PSDB-TO) e Eduardo Sciarra (DEM-PR) sugeriram em suas emendas diversas modificações às propostas do governo, entre elas uma das bandeiras das gigantes do petróleo: a de que a Petrobras não seja a operadora exclusiva dos campos.
"A previsão legal de um monopólio ou reserva de mercado para a Petrobras não se justifica em hipótese alguma", diz trecho nas emendas dos três.
O IBP (Instituto Brasileiro de Petróleo), que reúne as principais empresas do setor, confirmou que procurou em Brasília lideranças de oito partidos, entre quarta e ontem, mas negou a autoria das emendas "clonadas", embora o teor coincida com o que o setor defende.
"Trabalhamos durante todos esses dias. Começamos a nos movimentar no Congresso, e de maneira institucional, porque o IBP é apartidário. Queremos tornar públicas nossas emendas para todos os partidos. Tinham partidos dispostos a acatá-las integralmente, outros estavam analisando", disse o presidente do IBP, João Carlos França de Luca, da espanhola Repsol, uma das multinacionais do petróleo.
Termina hoje o prazo para apresentação de emendas. Até ontem, 738 emendas já haviam sido apresentadas.
Eduardo Gomes admitiu que a emenda foi entregue a ele pelo setor.
"Tenho contato com todas as associações, todas, o IBP, Sindicom [distribuidoras de combustível e lubrificantes], não tenho nenhum constrangimento em relação a esse tipo de auxílio", afirmou, acrescentando que os textos idênticos podem ter sido fruto de um "assessor preguiçoso".
"Não tenho doação de campanha dessas empresas. Sempre tive doação no setor elétrico, voltado à área de regulação, de fortalecimento das agências reguladoras, defendendo investimento em parceria com o mercado. As emendas estão coerentes com a minha atuação".
Sciarra também diz que acatou as sugestões dos consultores do setor petrolífero. "Eu e o Aleluia fizemos o debate e pedimos para a assessoria do DEM formular as propostas. No caso do Eduardo Gomes, não sei o que aconteceu.
"Aleluia afirmou que redigiu suas emendas com auxílio da assessoria do DEM e de consultores externos. "Não conversei com empresas, contei com a ajuda de consultores independentes", afirmou ele.
Segundo a Folha apurou, as emendas clonadas eram parte de versões preliminares preparadas por petrolíferas e repassadas aos deputados por consultores e representantes de empresas. As emendas entregues oficialmente aos parlamentares pelo IBP têm redação diferente, mas teor idêntico nas propostas de mudanças.
Além dos três deputados, outras emendas que coincidem com os interesses das grandes empresas foram apresentadas por outros parlamentares, como Ronaldo Caiado (GO), líder do DEM, e Arnaldo Jardim (PPS-SP), que presidirá uma das comissões dos projetos de um novo marco regulatório para o setor petrolífero enviados pelo governo ao Congresso.
Caiado disse que todas as suas emendas foram redigidas por sua assessoria, embora tenha dito que debateu o assunto com os setores afins. Jardim afirmou não ter tido tempo de analisar as emendas do IBP e que seguiu suas convicções.
"Acho legítimo que qualquer pessoa interessada nos procure para sugerir melhorias", disse Caiado.
Ele apresentou emenda para permitir que a Petrobras ceda a operação de alguns campos para outras empresas petrolíferas, ideia que agrada também à própria estatal.
Além do fim do monopólio da Petrobras na operação dos novos campos, o setor privado defende, entre outros pontos, a redução do poder da Petro-Sal (a estatal que gerenciaria o novo modelo) nos comitês de exploração e o fim da exigência de que a Petrobras tenha no mínimo 30% de participação em todos os novos campos.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

UMA PARADINHA PARA VER QUALÉ

O blog QUEM É VIVO SEMPRE APARECE anda meio parado porque o diretor, redator, apurador, diagramador, editor musical e faxineiro da redação está dando um tempinho para cuidar da saúde e fazer uma montoeira de exames, consultas etc. Qualquer dia vou escrever sobre isso porque a coisa está ficando engraçada. Enquanto o quadro clínico de PVC(*) vai se confirmando, o Manuel da Redação se encarrega de reproduzir alguns textos que merecem sua leitura inteligente, como o que vem logo abaixo dessa postagem.
(*) Para quem não é do Rio: PVC é a porra da velhice chegando.

UM OLHAR SOBRE NOSSA IMPRENSA

Esse artigo foi escrito pelo jornalista Emiliano José e repassado para este blog por meu chapa Cezar Motta. Saiu um dia desses na Carta Capital. Infelizmente, e creio que não falo só por mim, mas por centenas de colegas de profissão com muitos anos de praia, a crítica é perfeita.


"Eu estava na ante-sala de uma médica, em Salvador. Sábado, dia 29 de agosto. E apenas por essa contingência, dei-me de cara com uma chamada de primeira página - uma manchetinha - da revista Época, já antiga, de março deste ano de 2009: "A moda de pegar rico" - as prisões da dona da Daslu e dos diretores da Camargo Corrêa.
Alguém já imaginou uma manchete diferente, e verdadeira como por exemplo, A moda de prender pobres? Ou A moda de prender negros? Não, mas aí não. A revolta é porque se prende rico. Rico, mesmo que cometendo crimes, não deveria ser preso.
Lembro isso apenas para acentuar aquilo que poderíamos denominar de espírito de classe da maioria da imprensa brasileira. Ela não se acomoda - isso é preciso registrar. Não se acomoda na sua militância a favor de privilégios para os mais ricos. E não cansa de defender o seu projeto de Brasil sempre a favor dos privilegiados e a favor da volta das políticas neoliberais. Tenho dito com certa insistência que a imprensa brasileira tem partido, tem lado, tem programa para o País. E, como todos sabem, não é o partido do povo brasileiro. Ela não toma partido a favor de quaisquer projetos que beneficiem as maiorias, as multidões. Seus olhos estão permanentemente voltados para os privilegiados. Não trai o seu espírito de classe. Isso vem a propósito do esforço sobre-humano que a parcela dominante de nossa mídia vem fazendo recentemente para criar escândalos políticos. E essa pretensão, esse esforço não vem ao acaso. Não decorre de fatos jornalísticos que o justifiquem.
Descobriram Sarney agora. Deu trabalho, uma trabalheira danada. A mídia brasileira não o conhecia após umas cinco décadas de presença dele na vida política do país. Só passou a conhecê-lo agora, quando se fazia necessário conturbar a vida do presidente da República. O ódio da parcela dominante de nossa mídia por Lula é impressionante. Já que não era possível atacá-lo de frente, já que a popularidade e credibilidade dele são uma couraça, faça-se uma manobra de flanco de modo a atingi-lo. Assim, quem sabe, terminemos com a aliança do PMDB com o PT.
Não, não se queira inocência na mídia brasileira. Ninguém pode aceitar que a mídia brasileira descobriu Sarney agora. Já o conhecia de sobra, de cor e salteado. Não houve furo jornalístico, grandes descobertas, nada disso. Tratava-se de cumprir uma tarefa política. Não se diga, porque impossível de provar, ter havido alguma articulação entre a oposição e parte da mídia para essa empreitada. Talvez a mídia tenha simplesmente cumprido o seu tradicional papel golpista.
Houvesse a pretensão de melhorar o Senado, de coibir a confusão entre o público e o privado que ali ocorre, então as coisas não deviam se dirigir apenas ao político maranhense, mas à maior parte da instituição. Só de raspão chegou-se a outros senadores. Nisso, e me limito a apenas isso, o senador Sarney tem razão: foi atacado agora porque é aliado de Lula. Com isso, não se apagam os eventuais erros ou problemas de Sarney. Explica-se, no entanto, a natureza da empreitada da mídia.
A mídia podia se debruçar com mais cuidado sobre a biografia dos acusadores. Se fizesse isso, se houvesse interesse nisso, seguramente encontraria coisas do arco da velha. Mas, nada disso. Não há fatos para a mídia. Há escolhas, há propósitos claros, tomadas de posição. Que ninguém se iluda quanto a isso.
Do Sarney a Lina Vieira. Impressionante como a mídia não se respeita. E como pretende pautar uma oposição sem rumo. É inacreditável que possamos nós estarmos envolvidos num autêntico disse-me-disse quase novelesco, o país voltado para saber se houve ou não houve uma ida ao Palácio do Planalto. Não estamos diante de qualquer escândalo. Afinal, até a senhora Lina Vieira disse que, no seu hipotético encontro com Dilma, não houve qualquer pressão para arquivar qualquer processo da família Sarney - e esta seria a manchete correta do dia seguinte à ida dela ao Senado. Mas não foi, naturalmente.
Querem, e apenas isso, tachar a ministra Dilma de mentirosa. Este é objetivo. Sabem que não a pegam em qualquer deslize. Sabem da integridade da ministra. É preciso colocar algum defeito nela. Não importa que tenham falsificado currículos policiais dela, vergonhosamente. Tudo isso é aceitável pela mídia. Os fins, para ela, justificam os meios.
Será que a mídia vai atrás da notícia de que Alexandre Firmino de Melo Filho é marido de Lina? Será? Eu nem acredito. E será, ainda, que ele foi mesmo ministro interino de Integração Nacional de Fernando Henrique Cardoso, entre agosto de 1999 e julho de 2000? Era ele que cochichava aos ouvidos dela quando do depoimento no Senado? Se tudo isso for verdade, não fica tudo muito claro sobre o porquê de toda a movimentação política de dona Lina? Sei não, debaixo desse angu tem carne…
Mas, há, ainda, a CPI da Petrobras que, como se imaginava, está quase morrendo de inanição. Os tucanos não se conformam, E nem a mídia. Como é que a empresa tornou-se uma das gigantes do petróleo no mundo, especialmente agora sob o governo Lula e sob a direção de um baiano, o economista José Sérgio Gabrielli de Azevedo? Nós, os tucanos, pensam eles, fizemos das tripas coração para privatizá-la e torná-la mais eficiente, e os petistas mostram eficiência e ainda por cima descobrem o pré-sal. É demais para os tucanos e para a mídia, que contracenou alegremente com a farra das privatizações do tucanato.
Acompanho o ditado popular “jabuti não sobe em árvore”. A CPI da Petrobras não surge apenas como elemento voltado para conturbar o processo das eleições. Inegavelmente isso conta. Mas o principal são os interesses profundos em torno do pré-sal. Foi isso ser anunciado com mais clareza e especialmente anunciada a pretensão do governo de construir um novo marco regulatório para gerir essa gigantesca reserva de petróleo, e veio então a idéia da CPI, entusiasticamente abraçada pela nossa mídia. Não importa que não houvesse qualquer fato determinado. Importava era colocá-la em marcha. Curioso observar que a crise gestada pela mídia com a tríade Sarney-Lina-Petrobras, surge precisamente no mesmo período daquela que explodiu em 2005. Eleições e mídia, tudo a ver. Por tudo isso é que digo que a mídia constitui-se num partido. Nos últimos anos, ela tem se comportado como a pauteira da oposição, que decididamente anda perdida. A mídia sempre alerta a oposição, dá palavras-de-ordem, tenta corrigir rumos.
De raspão, passo por Marina Silva. Ela sempre foi duramente atacada pela mídia enquanto estava no governo Lula. Sempre considerada um entrave ao desenvolvimento, ao progresso quando defendia e conseguia levar adiante suas políticas de desenvolvimento sustentável. De repente, os colunistas mais conservadores, as revistas mais reacionárias, passam a endeusá-la pelo simples fato de que ela saiu do PT. É a mídia e sua intervenção política. Marina, no entanto, para deixar claro, não tem nada com isso. Creio em suas intenções de intervenção política séria, fora do PT. Neste, teve uma excelente escola, que ela não nega.
Por tudo isso, considero essencial a realização da I Conferência Nacional de Comunicação. Por tudo isso, tenho defendido com insistência a necessidade de uma nova Lei de Imprensa. Por tudo isso, em defesa da sociedade, tenho defendido que volte a obrigatoriedade do diploma para o exercício da profissão de jornalista. Por tudo isso, tenho dito que a democratização profunda da sociedade brasileira depende da democratização da mídia, de sua regulamentação, de seu controle social. Ela não pode continuar como um cavalo desembestado, sem qualquer compromisso com os fatos, sem qualquer compromisso com os interesses das maiorias no Brasil".
Emiliano José

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

CIDADÃOS DOS PAÍSES RICOS SÃO TODOS NACIONALISTAS

O autor desta frase (na foto, lembram dele?) não é aliado do governo Lula (longe disso).
A frase foi escrita nesta segunda-feira, na Folha de S. Paulo.
O texto defende o modelo proposto pelo governo para a exploração do petróleo abaixo da camada de sal que se estende por uma área de 150 mil quilômetros quadrados, do litoral capixaba ao catarinense.
É um artigo crítico, ao governo e, principalmente, à oposição.
Leia tudo e veja quem o assina.

O pré-sal e a nação

"Ao criticar o governo Fernando Henrique Cardoso no lançamento dos projetos do marco regulatório do pré-sal, o presidente Lula errou porque deu a um problema que deve unir a nação um viés político-partidário.
Errará também a oposição se adotar uma posição contrária ao cerne de um plano que é do maior interesse nacional.
Se a regulação do pré-sal continuar sob a legislação atual ou for malfeita, essa bênção da natureza pode se transformar em uma maldição, porque significará que não soubemos neutralizar a "doença holandesa" associada à abundância de petróleo.
O governo compreendeu esse fato, e, nesses dois anos, realizou os estudos necessários para evitar esse mal.
As três decisões que constituem o cerne de seu plano são a opção pelo sistema da partilha, a criação da Petro-Sal e a criação de um fundo soberano para receber os recursos da partilha.
Asseguradas essas três coisas, o Brasil terá a flexibilidade necessária para neutralizar a "doença holandesa" e promover o desenvolvimento nacional.
A opção pelo mecanismo da partilha, em vez do das concessões, está correta porque os riscos das empresas serão pequenos, e porque esse mecanismo facilita à nação se assenhorear das "rendas" do petróleo (os ganhos decorrentes da maior produtividade dos recursos naturais), ficando para as empresas exploradoras os lucros - os ganhos que dão retorno ao investimento e à inovação.
A legislação em vigor, de 1997, usou o mecanismo da concessão porque naquela época o risco era grande e o tema da "doença holandesa" não estava na agenda nacional.
Diante dos fatos novos, porém, não faz sentido apegar-se a ela.
O conservadorismo local, entretanto, está acusando os quatro projetos de "nacionalistas" e "estatizantes"?
Quanto ao primeiro epíteto, não é acusação, é elogio.
Os cidadãos dos países ricos são todos nacionalistas - tão nacionalistas que não precisam usar essa palavra para se distinguir uns dos outros.
Por isso, seus ideólogos podem usar essa palavra de forma pejorativa procurando, assim, neutralizar o necessário nacionalismo econômico dos países em desenvolvimento.
E o que dizer do epíteto de "estatizante" porque cria a Petro-Sal?
Isso também não faz sentido.
O Brasil já passou a fase em que o papel do Estado é o de realizar investimentos nas indústrias de base.
O setor privado já tem suficiente capital para isso e é reconhecidamente mais eficiente e mais inovador do que o setor estatal em produzir nos setores competitivos da economia.
A Petro-Sal será uma pequena empresa 100% estatal; não será operacional, mas proprietária das reservas.
Através dela poderemos ter o sistema de partilha com alíquotas flexíveis dependendo do preço internacional do petróleo.
Mas não será o plano "eleitoreiro"?
Será se o PSDB insistir em se opor a suas proposições básicas.
Não é a posição do governador José Serra, mas poderá ser a de muitos representantes do partido, que, se criticarem o cerne do plano, estarão se identificando com os interesses das empresas petrolíferas internacionais.
E, assim, fortalecerão eleitoralmente o candidato do governo.
Há certos problemas que não permitem tergiversação.
O Brasil já sofre os males da falta de neutralização da "doença holandesa" oriunda das exportações de ferro e de produtos agropecuários.
Se também não souber evitar a sobreapreciação muito maior que será proveniente de um pré-sal mal regulado, o processo de desindustrialização em marcha se acelerará, e seu desenvolvimento econômico estará definitivamente prejudicado".


Luiz Carlos Bresser Pereira
Economista, ex-ministro do governo Fernando Henrique Cardoso

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

ARQUIVO X PODE COMPRAR DIREITOS DO CASO LINA




Visito sempre o blog (quase uma revista diária) do jornalista Josias de Souza, na Folha Online. Ontem passei batido e não li o texto abaixo, cujas informações não encontrei hoje nos dois jornais que assino - Globo e Estadão. Noticiário de Receita só uma nota sobre a liberação de mais um lote de restituições. Ou seja, só num cantinho da internet (e certamente na Folha, que não assino) os leitores são informados de algo muito grave. OK, foi furo da Folha. No entanto, duas semanas atrás, a personagem do blog do Josias esteve a ponto de ser canonizada pela mídia em peso, por ter acusado Dilma Rousseff de recebê-la num encontro cuja hora, dia, semana e mês não sabia bem. O caso Lina Vieira poderia render um episódio do Arquivo X. Vai ver que a ex-secretária da Receita Federal acompanhou a primeira-dama do Japão, Miyuki Hatoyama, na voltinha que deram lá no planeta Vênus, abduzidas por aliens de bicos enormes, e pensaram que estavam no Palácio do Planalto (foi uma confusão natural, pois, como se vê na foto, o projeto do quartel-general dos ETs também é de Oscar Niemeyer). Na caixinha de surpresas musicais da sujeira política nacional, "Lucy in the sky with diamonds", daquele quarteto de aliens de Liverpool.


DO BLOG DE JOSIAS DE SOUZA



A superintendência da Receita em São Paulo submeteu as estatísticas do setor de fiscalização a uma maquiagem.
Uma infração bilionária lavrada em dezembro de 2008 foi lançada na base de dados do fisco em janeiro de 2009.
Graças à manobra, vendeu-se à platéia gato por leão. Informou-se que, sob a ex-secretária Lina Vieira, o fisco apertara o cerco aos grandes contribuintes. É lorota.
A digestão de estatísticas é coisa que a maioria dos estômagos prefere refugar. Ainda asssim, vai abaixo uma tentativa do repórter de mastigar a encrenca:
1. Mega-infração: No dia 29 de dezembro de 2008, a superintedência da Receita em São Paulo lavrou contra o banco Santander um auto de infração de R$ 4,168 bilhões.
2. Maquiagem: O valor deveria ter sido contabilizado no ano passado. Porém, foi empurrado para o exercício de 2009. Desceu à base de dados do fisco em janeiro.
3. Tônico: Ao deslocar a multa do Santander de um ano para outro, o escritório da Receita em São Paulo vitaminou as estatísticas dos primeiros oito meses de 2009.
Sem os R$ 4,168 bilhões da multa imposta ao banco, as infrações lavrados no maior Estado do país somariam, entre janeiro e agosto de 2009, R$ 9,88 bilhões.
Vitaminadas pela multa bilionária, as autuações de 2009 saltaram, em S~çao Paulo, para R$ 14,05 bilhões.
Considerando-se o país inteiro, o total de multas pulou de R$ 26,9 bilhões para R$ 31,1 bilhões.
4. Lina versus Rachid: Ao tingir 2009 com o ruge do Santander, o fisco fez esmaecer os resultados do primeiro semestre de 2008. Para quê?
Na primeira metade de 2009, a Receita era chefiada por Lina Vieira. Foi demitida em julho. No mesmo período de 2008, o chefe do fisco era Jorge Rachid.
Entre janeiro e agosto do ano passado, ainda sob Rachid, a Receita lavrara em São Paulo autos de R$ 9,8 bilhões. No Brasil, R$ 34,3 bilhões.
5. Gato por leão: Tomado pelo resultado maquiado, o fisco de Lina teria registrado em São Paulo um incremento nas fiscalizações de notáveis 43%.
Tomado pelo dado real, escoimado da multa do Santander, o aumento no volume de autos de infração cai para irrisórios 0,55%. Na prática, um empate com a era Rachid.
Considerando-se os números do país inteiro, o resultado é desfavorável a Lina tanto no cenário maquiado quanto no real.
Com a vitamina do Santander, registrou-se nos primeiros oito meses do ano uma queda de 9,32% no total nacional de infrações. Sem o tônico, queda de 21,46%.
6. Arrocho nos tubarões: Nas pegadas da demissão de Lina, vendeu-se a tese de que a secretária fora ao olho da rua porque incomodara os grandes contribuintes.
Dizia-se que o cerco ao tubaranato havia sido incrementado especialmente na superintendência de São Paulo, a maior do país. Falso.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

PRÉ-SAL: SERRA APOIA LULA. DILMA ELOGIA FHC


Como já disse antes neste blog, tenho dois candidatos a candidatos a presidente da República. Pela situação, Dilma Rousseff, minha candidata favorita a candidata pelo PT. Pela oposição, José Serra, o nome que prefiro disparado para ser o candidato do PSDB. Os dois da foto aí no alto. Claro que um quer o que o outro também quer. No entanto...
O primeiro motivo dessas duas escolhas é que ambos são legítimos pianos de cauda alemães. Ou seja, ambos são considerados pesados, gerentões, enérgicos – é disso o que precisamos a partir de agora.
Veja bem, não torço pela eleição de nenhum ditador, até porque ditador não chega ao poder pelo voto. O que gostaria de ver é um governo com muitos técnicos (fora dos cargos ministeriais, que são políticos, evidente) cobrando de seus subordinados que aquela obra “é para ontem”.
Os rótulos de direita ou de esquerda não dizem nada. O alinhamento automático a uma ou outra corrente de opinião já tumultuou bastante a vida neste país.
Há cinco governos (a partir do Itamar, que lançou o Real), o Brasil me surpreende por viver um período – espero que definitivo – de estabilidade política e econômica.
O ideal seria que PT e PSDB juntassem forças, mas como isso é impossível, como ainda dependem ambos do PMDB e dos pmdbzinhos para garantirem a tal da governabilidade, torço para que a campanha de 2010 seja propositiva, marcada por debates em que se pense o Brasil, e não por histerias em palanques. O eleitor cansou de trocas de acusações que muitas vezes revelam que os dois lados estão certos, pois “ambos não prestam”, “esse país não tem jeito”, “esses políticos são todos uns sacanas”, etc.
Hoje, tive mais um bom motivo para crer que meus dois pianos de cauda estão e podem continuar fazendo bonito na campanha de 2010.
Leia o Panorama Político de hoje, 3 de setembro, na página 2 de O Globo, para entender: ao contrário de muita gente em seu partido e na coligação, José Serra avisou que apoia os fundamentos do modelo proposto por Lula e Dilma para a exploração do petróleo do pré-sal. E Dilma, por sua vez, fez questão de dizer que o modelo de concessão adotado pelo governo Fernando Henrique foi uma decisão acertada para o ambiente da época.
Ou seja, o que está escrito aí embaixo no texto “Voltam-se as vistas para o nosso pré-sal” tem o apoio dos meus dois pianos de cauda alemães.

As duas notas de abertura que o Globo publicou na coluna que tem como titular o jornalista Ilimar Franco dizem o seguinte:

SERRA APOIA LULA


"O governador de São Paulo, José Serra, apoia a proposta do presidente Lula para o petróleo do pré-sal. Serra concorda com seu fundamento: o de aumentar a participação da União na renda do petróleo. Ele usa três argumentos: 1. o preço do petróleo explodiu nos últimos anos; 2. as reservas petrolíferas não estão crescendo; 3. as reservas do pré-sal têm um risco exploratório menor".


O TUCANO NÃO FARÁ CAMPANHA CONTRA

"José Serra, pré-candidato a presidente, está convencido que a mudança é necessária. Sua avaliação é que é irrelevante o debate concessão x partilha. Para Serra: 1. essa riqueza é da União; 2. Lula é o presidente eleito; 3. Lula tinha a prerrogativa de decidir; 4. cabe ao Congresso examinar a proposta. Um amigo de Serra conta que ele gostou da fala da ministra Dilma Rousseff sobre a adoção do modelo de concessão no governo FH. Dilma lembrou que, quando isso ocorreu, o modelo era compatível com um país vulnerável às crises externas, com uma Petrobras descapitalizada e com o elevado risco exploratório das reservas".

O Panorama Político de hoje foi o melhor contraste para a manchete do Globo de ontem. Na vitrolinha, “Falso amor sincero”, de e com Nelson Sargento.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

VOLTAM-SE AS VISTAS PARA O NOSSO PRÉ-SAL

Os grandes jornais prestaram hoje um excelente serviço a todos aqueles que acreditam ou passaram a acreditar que não vivemos num “país de merda”. Aquele país da piada que tem uma frase atribuída a Deus: “Não tem furacão nem terremoto, mas vocês vão ver o povinho que eu vou botar dentro dele”.
A manchete do Globo desta segunda-feira, 1º de setembro de 2009, é apocalíptica:

Regras estatizantes para pré-sal assustam o mercado!!!
Sem os pontos de exclamação, evidente, acrescentados aí em cima porque este era o objetivo do título: assustar os leitores.
O lançamento do pré-sal, principal assunto do dia, foi tratado pelo Globo como um lobisomem perambulando em madrugada de lua cheia na Rua do Ouvidor esquina com Rua do Mercado, um orangotango do Bornéu solto na calçada da Avenida Paulista nº 1.313, um vampiro pedófilo no parquinho da esquina, o estrangulador do Parque Xangai, a Fera da Penha, etc.
Assustar? Quem vai ser assustado? Um amigo meu, apaixonado pela filosofia alemã, citaria Schopenhauer: “As discussões são inúteis porque as pessoas só se convencem daquilo que elas querem se convencer”.
Nada melhor do que uma manchete bombástica e agressiva para nos fazer ler tudo o que foi espalhado e escondido nas páginas internas, no caso, nas páginas da editoria de Economia. Como escondido? Por dois motivos:
1. O pessoal da(s) Economia(s) me desculpe, mas nem todo leitor lê essa que é ou deveria ser, com certeza, a mais importante editoria de qualquer jornal. A não ser em casos como confisco de poupança, plano econômico heterodoxo, essas coisas que felizmente não existem mais, desde que deixamos de nos considerar ou nunca nos consideramos o povinho de um país de merda.
2. O Globo só enxergou o lançamento do pré-sal pelo (evidente, previsível, todos fariam isso se estivessem no poder hoje) aspecto político-eleitoral. Se o jornal fosse coerente com essa avaliação de política editorial, as matérias do pré-sal então teriam que começar na página 3, a mais nobre do primeiro caderno, onde começa o noticiário de Brasil.
Ah! Na capa não esqueceram de botar também na foto o Sarney e três manequins daquela grife ecológico-fundamentalista.
E aí? E o olho grande do Henry Ford em nossa borracha?
Espalhado ou escondido, tanto faz. O Globo bota suas matérias onde acha que deve botar. É um grande jornal, cheio de história, que começou hipernacionalista (“Voltam-se as vistas para a nossa borracha” foi sua primeira manchete de capa), cresceu como empresa sob a liderança de Roberto Marinho (sobretudo durante os governos militares) e, passado um longo período de linha dura em sua política de RH, hoje é um lugar certamente bem mais agradável de se trabalhar.
O Globo já teve outras linhas editoriais, mas nunca foi, não quis ser, nem sabe ser (tanto que abriu duas filiais justamente para isso) um jornal popular, do povão (ou do povinho).
Quanto tenta ser – foi o caso desta segunda-feira – não dá certo. Basta ler o lead da principal chamada da primeira página: “O lançamento das regras para exploração do pré-sal foi marcado por um tom nacionalista”. Se a intenção foi desqualificar o nacionalismo, lamento muito, mas os leitores, em sua maioria (o Ibope nunca fez pesquisa a respeito? Saudações alvinegras), são nacionalistas, sim.
E tem mais! Nacionalistas “atrasados”, daqueles que choram ouvindo os errrrrrrrres do Galvão Bueno, ao contrário deste blogueiro, que foi a favor da grande maioria das privatizações, e ainda assim se considera nacionalista, sim, e com muito orgulho.
Logo depois, ainda no lead, o jornal nos “informa” que o Brasil “entrou ontem numa nova fase de interferência do Estado na economia” (hahahahahaha, riria antigo adversário do jornal da Rua Irineu Marinho, assim mesmo, entre parênteses).
E por aí vai, passando pela criação da Petro-Sal (ótimo nome), a empresa que vai gerir o pré-sal, “fiscalizar e ditar o ritmo de produção e exploração das reservas”.
A direita e a esquerda infantil: uma aliança hilariante
O hilariante é que a Petro-Sal, tal como a Petrobras, vai nascer debaixo de muita oposição. Não é só o Globo que é contra. A Federação Única dos Petroleiros (FUP) e o Sindipetro, duas entidades que primam pelo esquerdismo infantil, também não gostaram da novidade. Para a turma do sindicato dos crachás verdes, quem não é Petrobras, é inimigo. Ô raça!
Outra frase sempre repetida por meu chapa chegado numa filosofia alemã: “As maiores inimigas da verdade são as ideologias”. A estupidez, a arrogância e a burrice são os ingredientes da nossa direita e da nossa esquerda.
O caso da recém-nascida Petrobrás do doutor Getúlio, ainda com acento agudo, é exemplar. A direita bateu o pé, felizmente em vão, contra os valores nacionalistas e esquerdistas que marcaram o nascimento da estatal. A direita, tal como a Folha de S. Paulo, costuma errar tanto ou até mais do que a esquerda.
Se não fosse contaminada por esses valores “nacionalistas e esquerdizantes”, a Petrobrás não seria o que é hoje. Ela cresceu e debaixo de muita torcida contra, muito fogo amigo, e o que mais irritou os chamados entreguistas dos anos 50 e 60 foi que os governos militares, sabiamente, concordavam com a esquerda pelo menos nisso.
E a esquerda? A esquerda até hoje (e o próprio Lula foi porta-voz disso, no discurso do lançamento do pré-sal em Brasília) não entendeu que o geólogo americano Walter Link, primeiro chefe de exploração da Petrobrás, só foi menos importante para a companhia do que o geólogo brasileiro que descobriu a Bacia de Campos. Até hoje, Mr. Link é citado como agente da CIA e outras besteiras por ter dito que o Brasil não tinha petróleo. Era isso o que constava do Relatório Link? Que nada. O ianque disse que não havia petróleo em terra em quantidades comerciais que justificassem a prospecção. E o que Mr. Link aconselhou? Que a Petrobrás procurasse petróleo no mar. A Petrobrás devia batizar uma de suas unidades com o nome de Walter Link.
A direita e a esquerda voltaram a errar e a acertar. A direita demitiu técnicos competentes da empresa por serem ou porque pareciam ser comunistas. A esquerda foi contra a quebra do monopólio estatal no novo ambiente globalizado. A esquerda não entendeu que foi justamente com a quebra do monopólio que a Petrobrás teve chance de provar que não tinha competidores à altura no mercado. E a direita não entende, hoje, que o modelo da partilha é o melhor para um país com reservas gigantescas que estão sendo descobertas.
Os maiores produtores mundiais de petróleo seguem esse modelo ou, no caso da Rússia, por exemplo (leiam os gráficos disponíveis no portal G1, basta procurar), adotam um sistema misto de partilha e concessão.
Foi para tentar esculhambar com esse modelo e com o que enxergou de excesso de nacionalismo que O Globo lançou o noticiário do pré-sal nas páginas 19 (abertura do caderno de economia) e seguintes, com um título engraçadinho:
De volta ao passado... ai,ai, ai...
As reticências e os ai-ais também foram colocados para exprimir melhor o que o autor do título quis transmitir ao leitor médio: desalento, nostalgia, anacronismo... ai, ai, ai! Esses caras atrasados não tomam jeito!
Só leitor dos contos da Carochinha vai deixar de enxergar na Petrobrás uma empresa de mercado e achar que o Brasil está de volta aos anos 1950.
“O petróleo e o gás pertencem ao povo e ao Estado, ou seja, a todo o povo brasileiro. E o modelo de exploração a ser adotado, num quadro de baixo risco exploratório e de grandes quantidades de petróleo, tem de assegurar que a maior parte da renda gerada permaneça nas mãos do povo brasileiro”.
Abstraindo o tom palanqueiro, essa frase do Lula, mantida no texto que procurou apresentar o modelo da partilha como sinônimo de atraso, diz outra coisa. O que o governo está propondo é outra coisa: é que o petróleo da camada pré-sal não será internacionalizado e que a maior parte dessa riqueza que essas reservas vão proporcionar em breve terá que ser revertida em favor da população, em forma de empregos e em investimentos em educação, ciência e tecnologia, habitação, etc.
Ah! Esse governo? – perguntará alguém que vota na oposição.
Não necessariamente. Os governos que efetivamente terão em caixa os primeiros resultados financeiros, quando o pré-sal deixar de ser pré. Governos que pensarem igual a este ou que sejam adversários do Lula e da herança getulista. Duvido muito que, uma vez no poder, queiram jogar fora os frutos que brotarão desse modelo.
Se não caírem novamente na besteira de subestimar a Petrobrás e sua ligação direta com o inconsciente nacional, se não inventarem moda, tipo mudar a razão social da empresa, americanizá-la, europeizá-la, vão se beneficiar daqui a 20 ou 30 anos das decisões que estão sendo tomadas agora. Nem todas acertadas, com certeza, mas isso fica por conta do Congresso, que vai votar algum dia as propostas que foram feitas no último dia de agosto de 2009.
Quem ainda não se deu conta, em breve vai cair a ficha de que a roda está girando e que o Brasil será o quarto maior produtor de petróleo do planeta, atrás apenas da Arábia Saudita, Iraque e Irã. E com muitas vantagens: aqui é e continuará sendo um país democrático, aqui temos carnaval, samba, chorinho, feijoada, bobó e Maracanã no domingo.
Tradução dos 9 mil caracteres que estão aí em cima:
– País de merda é o cacete!