segunda-feira, 7 de junho de 2010

LEBENSRAUM, A BUSCA DO ESPAÇO VITAL, O RETORNO!!!

Coisas inacreditáveis que só na internet mesmo! Há algumas semanas entrei numa lista para festejar os 40 anos de determinado grupo político que atuou clandestinamente durante o regime militar. O pessoal estava organizando uma festa e meu chapa Nilo lembrou a um dos organizadores para me acrescentar, uma vez que também fiz parte daquela rapaziada.
Foi nessa lista que tive acesso a um email, publicado apenas em parte na edição de hoje do Globo, de
uma médica brasileira, hoje militar israelense, contando sua versão do episódio condenado com veemência em todo o mundo: o caso da flotilha que tentou levar ajuda humanitária aos palestinos que estão passando dificuldades na Faixa de Gaza lembra muito certos tiroteios nos morros do Rio. Só morreu gente de um lado, mas a versão oficial diz que as vítimas é que tinham culpa, não deviam estar onde estavam.
Num dado momento, ela se queixa de que os manifestantes e tripulantes feridos “resistiram ao tratamento de médicos israelenses: Um deles cuspiu no nosso cirurgião. Outro deu um soco na enfermeira que tentava medicá-lo”.
Mais adiante, ela conta que o navio estava “lotado de armas brancas e material para confecção de bombas caseiras”.
E, logo a seguir, que os soldados de Israel “foram gratuitamente atacados, tiveram suas armas roubadas, foram espancados e esfaqueados”.
E a explicação para a carnificina: “Morreram aqueles que tentaram matar os soldados, aqueles que não eram civis pacifistas, mas sim militantes terroristas que comandavam o grupo”.
Além desse depoimento, recebemos também na lista mais material destinado a corroborar a versão de que os pobres soldados israelenses, coitados, foram obrigados a passar o cerol naqueles sádicos que queriam levar comida, roupas e apoio à população de Gaza. Ah! E também a newsletter das Forças Armadas de Israel (!!!) e uns vídeos do Youtube mostrando o momento do “embarque” (na verdade, invasão) dos militares israelenses no navio turco Mavi Marmara, que fazia parte da flotilha.
O primeiro soldado que desceu, evidentemente, já que se tratava de uma invasão, foi cercado pelos encarregados da segurança do navio, que meteram a porrada no invasor (Queriam o quê? Que no navio estivessem somente os ativistas magrinhos, míopes e dentuços? Um comboio mesmo de paz precisa de uma zaga com lúcios, máicons e juans, até para o caso de surgirem piratas tentando abordá-lo).
Como é que alguém ferido pode reagir a algum tipo de assistência médica? Pode sim, se os médicos e paramédicos chegaram juntos e acumpliciados com os caras que invadiram seu navio e mataram nove amigos seus.
O que é ser gratuitamente atacado? Imagine um soldado israelense fortão, armado e bom lutador de krav magá abordando o navio de uma flotilha pacífica, cheio de más intenções. O que o pessoal a bordo devia fazer? Ajoelhar-se diante do bruto ou, se tiver condições disso, reagir a um ato de estupidez?
“Morreram aqueles que tentaram matar os soldados”. Hahahaha! Esse argumento seria impagável se o assunto não fosse tão sério.
O que é um navio “lotado de armas brancas”? O que significa exatamente a expressão “material para confecção de bombas caseiras”?
Garfos, chaves de fenda, faca para limpar peixe, tudo isso pode ser considerado arma branca. Material para confecção de bombas caseiras pode ser qualquer coisa. Num jardim de infância ou numa loja de brinquedos deve ter algo que ajude a fazer uma bomba caseira.
A íntegra do email que chegou ao Globo e a outros jornais, enviado pela médica paulista A.L.T., diz o seguinte:
“Oi a todos!!
Primeiro quero agradecer a todos os e-mails preocupados. Eu estou bem, ótima. Eu peço desculpas por não escrever mais frequentemente, mas no exército é assim. Não temos tempo para nada.
Sei que todos já estão cansados de ouvir falar do que aconteceu em Gaza nesta semana, mas como ouvi muitas asneiras por aí, resolvi contar a vocês a minha versão da história. Eu não quero que pensem que virei alguma ativista ou algo do gênero. Eu continuo a mesma A. de sempre. Mas por ter feito parte desse episódio, não posso me abster de falar a verdade dos fatos.
EU ESTAVA LÁ! NINGUÉM ME CONTOU. NÃO LI NO JORNAL. NÃO VI FOTOS NA INTERNET OU VÍDEOS NO YOUTUBE. VI TUDO COMO FOI MESMO, AO VIVO E COM MUITAS CORES.
Como vocês sabem, eu estou servindo com médica na medicina de emergência do exército de Israel, departamento de trauma. Isso significa: medicina em campo.
4:30h da manhã de segunda-feira: meu telefone do exército começa a tocar. Possíveis conflitos em Gaza? Pedido de ajuda da força médica, garantir que não faltarão médicos. Minha ordem: aprontar-me rapidamente e pegar suprimentos, o helicóptero virá me buscar na base.
No caminho, me explicam a situação. Há um navio da ONU tentando furar a barreira em Gaza. Li todos os registros fornecidos pela Inteligência do exército (até para entender o tamanho da situação). O navio se aproximou da costa a caminho de Gaza. O acordo entre Israel e a ONU diz que TODOS os barcos devem ser inspecionados no porto de Ashdod em Israel e todos os suprimentos devem ser transportados pelo NOSSO exército a Gaza. Isso porque AINDA HOJE, cerca de 14 mísseis t~em sido lançados de Gaza contra Israel diariamente. E não podemos permitir que mais armamento e material para construção de bombas seja enviado ao Hamas, grupo terrorista que controla Gaza. Dessa forma, evitamos uma nova guerra. Ao menos por agora.
O navio se recusou a parar. Disseram que eles mesmo entregariam a carga a Gaza.
Assim, diante de um navio com 95% de civis inocentes (os outros 5% são ativistas de grupos terroristas aliados ao Hamas, que tramaram toda essa confusão), Israel decidiu oferecer aos comandantes do navio que parassem para inspeção em alto mar. Mandaríamos soldados para inspecionar o navio e, se não houvesse armamento, ele poderia seguir rumo a Gaza. ESSA FOI UMA ATITUDE EXTREMAMENTE PACIFISTA DO NOSSO EXÉRCITO, EM RESPEITO AOS CIVIS QUE ESTAVAM NO NAVIO. E, SE NÃO HÁ ARMAMENTO NO NAVIO, QUAL O PROBLEMA DE QUE ELE SEJA INSPECIONADO?
Os comandantes do navio concordaram com a inspeção.
5:00h - Minha chegada em Gaza. Exatamente no momento em que os soldados estavam entrando nos barcos. E FORAM GRATUITAMENTE ATACADOS: tiveram suas armas roubadas, foram espancados e esfaqueados. Mais soldados foram enviados, desta vez para controlar o conflito. Cerca de 50 pessoas se envolveram no conflito, 9 morreram. Morreram aqueles que tentaram matar nossos soldados, aqueles que não eram civis pacifistas da ONU, mas sim militantes terroristas que comandavam o grupo. Todos os demais 22 feridos entre os tripulantes do navio, foram ATENDIDOS E RESGATADOS POR NÓS, EU E MINHA EQUIPE E ENVIADOS PARA OS MELHORES HOSPITAIS EM ISRAEL.
Entre nós, 9 feridos. Tiros, facadas e espancamento. Um deles ainda está em estado gravíssimo após concussão e 6 tiros no tronco. Meninos entre 18 e 22 anos, que tinham ordem para inspecionar um navio da ONU e não ferir ninguém. E não o fizeram. Israel não disparou nem o primeiro, nem o segundo tiro. Fomos punidos por confiar no suposto pacifismo da ONU. Se soubéssemos a intenção do grupo, jamais teríamos enviados nossos jovens praticamente desarmados para dentro do navio. Ele teria sim sido atacado pelo mar. E agora todos os que ainda levantam a voz contra Israel estariam no fundo mar.
- Depois de atender os nossos soldados, me juntei a outra parte da nossa equipe que já cuidava dos tripulantes. Mesmo com braceletes dizendo MÉDICO em quatro línguas (inglês, turco, árabe e hebraico) e estetoscópios no pescoço, também a nós eles tentaram agredir. Um deles cuspiu no nosso cirurgião. Um outro deu um soco na enfermeira que tentava medicá-lo. ALÉM DE AGRESSORES, SÃO TAMBÉM INGRATOS.
Eu trabalhei por 6 horas seguidas atendendo somente tripulantes do navio. Todo o suprimento médico e ajuda foram oferecidos por Israel.
Depois do final da confusão, o navio foi finalmente inspecionado. LOTADO DE ARMAS BRANCAS E MATERIAL PARA CONFECÇÃO DE BOMBAS CASEIRAS. ONDE É QUE ESTÁ O PACIFISMO DA ONU???
Na terça-feira, fui visitar não só os nossos soldados, mas também os feridos do navio. Essa é a polםtica que Israel tenta manter: nós não matamos civis como os terroristas árabes. Nós não nos recusamos a enviar ajuda a Gaza. Nós não queremos mais guerra. MAS JAMAIS VAMOS PERMITIR QUE MATEM OS NOSSOS SOLDADOS.
Só milionário idiota que acha lindo ser missionário da ONU não entende que guerra não é lugar para civis se meterem. Havia um bebê no barco (que saiu ileso, obviamente): alguém pode explicar por que uma mãe coloca um bebê em um navio a caminho de uma zona de guerra? Onde eles querem chegar com isso? ELES NÃO ENTENDEM QUE FORAM USADOS COMO FERRAMENTA CONTRA ISRAEL, E QUE A INTENÇÃO NUNCA FOI ENVIAR AJUDA A GAZA E SIM GERAR (..., o email está truncado nesse ponto).
E o presidente Lula precisa também entender que desta guerra ele não entende. E QUE O BRASIL JÁ TEM PROBLEMAS DEMAIS SEM RESOLVER. TEM MAIS GENTE PASSANDO FOME QUE GAZA. TEM MUITO MAIS GENTE MORRENDO VÍTIMA DA VIOLÊNCIA.
Eu sempre me orgulho de ser também brasileira. Mas nesta semana chorei. De raiva, de raiva de ver que especialmente no Brasil, muito mais do que em qualquer outro lugar, as notícias são absolutamente destorcidas. E isso é lamentבvel.
Não me entendam mal. Eu não acho que todos os árabes são terroristas. MAS SEI QUE QUEM OS CONTROLA HOJE. E que esta guerra não é só contra Israel. O Islamismo prega o EXTERMÍNIO de TODO o mundo não árabe. Nós só somos os primeiros da lista negra.
Por favor encaminhem este e-mail aos que ainda não entendem que guerra é guerra e que os terroristas não são coitadinhos.
Eu prometo escrever da próxima vez com melhores notícias e melhor humor. Tenho algumas boas aventuras pra contar.
Um beijo a todos
Shabat Shalom
A”.
É de doer, hein? Some-se à arrogância da remetente (os destaques em letra maiúscula estão no original do email), pérolas tais como “os feridos são uns ingratos” e "guerra é guerra", comparar a ONU com uma facção terrorista, mandar o Brasil enfiar a viola no saco, dizer com outras palavras que o Lula é burro (mais um, meu Deus!, quando é que a direita vai me permitir parar de votar no Lula e em seus candidatos?), e deixar claro que ninguém mais tem a ver com o que se passa no Oriente Médio. Sei não, mas o que os direitistas israelenses pregam hoje não é muito diferente do que o nazismo chamava de “Lebensraum” - a conquista do Espaço Vital para a raça ariana. Shabat Shalom ou Sieg Heil?

3 comentários:

elizabeth disse...

Vi no final de semana a transcrição desse tal email circulando na rede, em blog de cunho jornalístico, sem qualquer olhar crítico: quase como assinatura embaixo . É estarrecedor e sem nenhuma graça mesmo.

Romildo Guerrante disse...

A cineasta Julia Bacha, a favor dos ativistas turcos, disse que houve excesso por parte deles. Tá na revista de domingo do grobo. Diz ela: "Muitos dos que estavam nos barcos fazem parte desse movimento de resistência pacífica. Mas existem pessoas que usaram de violência, o que não era o propósito dos organizadores".
Cito a moça só pra iluminar o debate.

CESAR PINHO disse...

Caro Zé, interessante sua abordagem sobre o tema, tratado com bastante ênfase pela mídia mercantilista a favor de Israel. Só faltou a médic dizer que os "terroristas" eram da organizaçao de Osama (e não Obama) Bin Laden e que foram mortos por balas perdidas disparadas a partir de Gaza.
Bastante cômico não fosse tão deprimente essa atuação dos Judeus contra um povo que está às portas da morte por falta de comida.
Sua abordagem é prefeita, amigo. Acho que os Judeus já se esqueceram do holocausto que viveram ou tentam se vingar do mundo com carnificinas. Esse blá,blá,blá de ONU é para boi dormir porque quem manda na ONU é os EUA.
Abraços.
Cesar Pinho