
Ouvi muitas histórias de cangaceiro e a mais pavorosa teria ocorrido em uma pequena localidade sergipana. Um dos cabras teria se vingado de um coiteiro (pessoa que dava abrigo e comida quando o cangaceiro estava em perigo), suspeito de delação. Cortou a cabeça do homem, da mulher dele e de todos os adultos da casa. Jogou tudo num saco e entregou a uma criança da família, poupada na chacina. Assim me contaram.
Outra história, esta engraçada, teria ocorrido em setembro de 1930. No mesmo dia, teriam acampado em lugares distantes da cidade dois exércitos fortemente armados. O bando de Lampião, que fora visitar a filha no grupo escolar, e a tropa comandada por Juarez Távora, o “Vice-Rei do Norte”, que descia o litoral a caminho do Rio de Janeiro para juntar-se aos gaúchos de Getúlio Vargas na Revolução de 30. Diz-se que os chefes das duas tropas estavam informados, mas fingiram não saber de nada.
A história desses facínoras é contada em detalhes no Memorial da Resistência ao Cangaço (na imagem lá em cima, os cangaceiros estão abaixo dos resistentes), em Mossoró (RN). O conteúdo pinga sangue. Mossoró era cidade importante e foi lá que Lampião sofreu a maior derrota, em 1927. Até então, o cangaceiro se contentava em pilhar vilas sertanejas, cortando línguas e cabeças, liberando o estupro, coisas assim. Inimigos bem armados eram evitados, como os revoltosos da Coluna Prestes.
Um dia, contudo, o olho que restava ao cangaceiro cresceu. Só que Mossoró estava preparada para reagir e a onça bebeu água. Depois de bater em retirada, o caolho confessou a um refém que seu erro fora o de invadir um lugar com mais de duas torres de igreja. Ou seja, atacar uma cidade maior. Quis o destino que o meliante morresse numa cilada em Angico, um lugar bem próximo de Propriá.
E foi então que a crueldade mudou de lado. As cabeças do bando, decepadas, passaram a ser exibidas nas feiras da região, começando pela de Propriá, onde alguém muito ruim teria levado a menina Expedita para ver de perto o trágico fim de seu pai e de sua mãe.
No diacho da radiola que tá lá em riba, um forró arretado de Luiz Gonzaga, o Lua, o Rei do Baião, com o título onomatopaico de Tei Tei no Arraiá. É tiroteio de cangaceiro pra mode vivente nenhum butá defeito.
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