domingo, 26 de setembro de 2010

SE TEM COISA QUE NÃO PRESTA É O TAL DO ELEITOR


Que bom que a eleição está quase virando a esquina. Três de outubro é logo ali. Vai trazer, como sempre, boas e más notícias. A melhor será o encolhimento do único partido assumidamente de direita, o DEM ou, se preferirem, o Demo, que como todos sabem vem lá de trás, ainda carrega o DNA da golpista e rancorosa UDN, que virou a fascista e poderosa ARENA, depois o ridículo PDS, e em seguida o insuportável PFL, isso só falando dos ancestrais diretos.
Infelizmente, apesar de ter até um ou outro quadro razoável, o DEM reduzido à versão beta de alguma futura legenda igualmente detestável ainda terá em sua futura e minúscula bancada no Senado o praticamente reeleito José Agripino Maia. A boa notícia, esta para o eleitor fluminense, é que – tudo indica – o potiguar Agripino será o único Maia naquela casa parlamentar.
Essa história de direita e esquerda ainda conta. Quando a gente pensa que deixaram de existir, as duas irrompem de novo na ribalta política. No tempo da ditadura, era fácil identificá-las. Uma detinha o poder, a outra era esmagada. Hoje, é preciso cuidado para distingui-las.
Piorando muito a frase de Winston Churchill sobre a democracia, nenhuma das duas presta, mas ainda assim a esquerda é melhor porque zela ou pelo menos finge zelar pelos interesses do país e do povo. A esquerda é burrinha de antolhos, reativa, adepta da automutilação e só se une na cadeia, mas tem seus bons momentos.
Na verdade, não tem esse negócio de esquerda. Melhor dizer esquerdas, aí incluindo a centro-esquerda. As esquerdas nos deram Getúlio Vargas, Leonel Brizola e Lula. A direita – no singular, pois mesmo espalhada entre muitos partidos, ela é unida – só nos deu ditadores. Seu melhor quadro foi o general Ernesto Geisel, que se comportou como estadista.
A direita não presta porque as tentativas de desqualificar o Brasil e seu povo partem e partiram sempre dela. A direita sempre acha melhor o que vem de fora. Mas tem a virtude de não se canibalizar.
O que a direita teme – e a esquerda não percebe e não se aproveita disso – é que as esquerdas se unam. Aí, babau! Quando é que a esquerda vai perceber isso e ficar no singular, mesmo que dividida em partidos diversos? Nunca.
Nossa sorte é que Pindorama nasceu virada pra lua. O Brasil está condenado ao sucesso. O cronista e humorista Sérgio Porto repetia que o Brasil jamais cairia no abismo por uma razão bem ordinária: o precipício é menor. Tentam empurrar, mas não tem jeito. Não cabe.
Durante séculos, a direita – com exceção de seus setores nacionalistas, de Artur Bernardes a Ernesto Geisel – torce para que sejamos o quintal dos Estados Unidos. Chegamos a viver alguns bons anos de crescimento, sob governos ou ditaduras de direita, vide a era do milagre econômico, mas ainda assim o povo não foi aquinhoado com sua parte. Só as famílias poderosas de sempre – algumas no poder desde os tempos do Império – se beneficiaram.
É por isso que o governo do Lula vem fazendo tanta diferença. Lula chegou ao poder porque veio do povo e está prestes a se tornar a figura política mais importante de nossa história moderna. Superando até mesmo, você sabe quem, Getúlio Vargas. Ele mesmo.
Getúlio não veio do povo, mas ainda hoje é sua maior referência. Antes do barão dos pampas que inventou nossa infraestrutura, enfim, antes do rico estancieiro que inventou o Brasil moderno, éramos uma vasta extensão de terras, um curral dominado por grão-senhores que usavam fraques e monóculos. O povo era invisível.
Com Getúlio vieram as leis sociais e trabalhistas, a siderurgia, a mineração, a Petrobrás com acento agudo, a autoestima do povo brasileiro. Getúlio Vargas ainda é, como dizem os metidos, a maior grife política que este país já produziu. Com todos os defeitos e filintos, com todos os mares de lama e os lacerdas que tentaram desqualificá-lo (e se ferraram de verde e amarelo).
Hoje, a direita está se borrando com a perspectiva de Dilma Rousseff se eleger, quem sabe ainda no primeiro turno. Se isso acontecer, o ex-metalúrgico vai empatar o jogo com o Getúlio. E, se voltar ao poder em 2014, sei não... É por isso que a direita anda indócil.
Nem por isso, deixa de ser mais esperta do que a esquerda. Tempo de eleição é justamente a época em que a direita mais se une e a esquerda mais se engalfinha. A malandragem da direita hoje consiste em se dividir e se unir às esquerdas na hora da eleição.
Faz sentido pra você? Pra mim, faz. A maior parte da direita hoje está com Serra e o resto com Dilma. Serra e Dilma são de setores diferentes das esquerdas. Mas isso não importa. A direita vai governar com um ou com outra porque sabe jogar melhor. Tenha o nome que tiver - DEM, PMDB ou qualquer outro partideco desses que se alugam país afora -, a direita leu atentamente o tutorial e conhece melhor o jogo.
Só os melhores quadros do PT e do PSDB não percebem. Nasceram como dois partidos cheios de ótimos quadros e boas intenções, mas foram inflados, acolheram picaretas de todos os tipos e estão desfigurados. O PSDB não sabe a sorte que tem com o esfacelamento de sua asa negra, o DEM. No caso, o PT não tem a mesma sorte, pois o PMDB e demais partidecos aliados continuam crescendo. E muitos de seus melhores quadros tomaram outros caminhos, criando pequenos partidos como o PSOL.
Longe de apostarem na melhoria da qualidade da política que praticam, se esmeram no autocanibalismo, dando seguimento à velha prática – que tanto irrita o povo – de fazer com que a atividade partidária seja malvista, sempre presente no noticiário policial.
E o eleitor nisso tudo, o que faz? No tempo da eleição de papel, falava mal dos candidatos na cédula, escrevia palavrões, “elegia” os cacarecos. Como é impossível fazer a mesma coisa na urna eletrônica, o povo que cansou das barganhas e das picaretagens se diverte votando no Tiririca.
Felizmente, o abismo é menor.

Na caixinha de música, Dicró.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

POR QUE ESSA FOTO NÃO SAIU EM LUGAR NENHUM?

É como disse minha mulher, ontem à noite, depois de ler um monte de jornais e revistas semanais: "Eu ia votar em branco para presidente, mas não deixam. Também vou votar na Dilma".
Esta foto sairia na primeira página se o Serra estivesse nela.

domingo, 5 de setembro de 2010

O DIA EM QUE FEDERICO FELLINI BAIXOU NA CINELÂNDIA


Dia maluco o 31/8, terça passada! Luto e farra. Luto pelo último dia em que o Jornal do Brasil circulou. Farra porque até antigos leitores do JB participaram da despedida na Cinelândia que Jorge Antônio Barros comparou, em seu blog Repórter do Crime, com os funerais de Nova Orleans. E à noite, no Capela, Alfredo Herkenhoff lançou seu livro (ótimo, Memórias de um Secretário - Pautas e Fontes) sobre o grande jornal que fez história. A no alto foi tirada de outro blog, Álbum Jotabeniano, pilotado por Sérgio Fleury. Lembra outra (guardadas as devidas proporções, e bota proporções nisso!), tirada no Harlem, em 1958. Numa, nós, anônimos trabalhadores da imprensa carioca. Noutra, os monstros sagrados do jazz. A Cinelândia foi o nosso Harlem. E o filme que passou na cabeça da gente foi Amarcord puro. O JB não foi apenas o local de trabalho favorito. Era quase um lar. Deixou boas e más lembranças, estas quase sempre associadas a demissões e passaralhos.
Aprendi muito naquela casa, desde o primeiro dia, 1º de maio de 1973. Pois é, comecei a trabalhar ali num feriado, separando telegramas na editoria Internacional. Fui promovido a redator depois de passar no cursinho do Quintaes e de escrever as primeiras matérias, no tempo da guerra do Yom Kippur. Fiz o primeiro texto, pequenininho, a mando do Gazzaneo. A chance veio por um motivo: eram tantos telegramas, tantas versões conflitantes, que achei melhor criar um monte de pastas. O Gazza gostou da ideia.
No dia seguinte, o jornal foi editado assim: numa página, a versão israelense de determinado episódio; na página ao lado, o mesmo fato sob a ótica dos árabes.
E o teste da calandra? Era parte do ritual mandar o recém-chegado pegar a calandra na oficina. Os que não sabiam do que se tratava caíam no conto do vigário. No meu caso, o vigário foi o Leiser.
Primeira bola fora. Terminado o cursinho, éramos enviados para as editorias onde poderíamos ser absorvidos como estagiários. Fiz um teste no Esporte, muito ruim. Oldemário Touguinhó me mandou cobrir uma regata. E o sacana do José Roberto Tedesco, o Zé Cavalo, escalado para me tutelar naquele dia, me botou no barco do juiz. Resultado: passei a tarde inteira no mar. Não enjoei, mas cheguei com o resultado quando a página já tinha sido fechada pelo João Areosa. Claro que a matéria já tinha sido feita pelo Zé Cavalo.
Das gozações me lembro bem. O grande algoz, meu e de muita gente, era o redator Luiz Fernando Cardoso, que me deu carona até Copacabana, onde eu morava, no prédio do teatro Princesa Isabel. Em cartaz, uma peça do Jô Soares. Um monte de gente na porta. O sacana do LF me deixa na porta e berra para todo mundo ouvir: “Não esquece de comprar sua pomada de hemorróidas!”. Entrei em casa vermelho de raiva, com as gargalhadas ainda ecoando no elevador.
Lembro também do meu primeiro título, para uma nota de colunão (textinho de cinco ou seis linhas, numa coluna) sobre a conferência realizada no mesmo ano sobre o uso dos mares. A reunião não deu muito certo. Tasquei em duas linhas: “Conferência foi/ por água abaixo”. No dia seguinte, tinha elogio por escrito do Luiz Orlando Carneiro: “Gostei muito de seu título. Pensei até que foi feito pelo Renato (Machado)”.
Primeiro esporro: chamei um chefe mafioso que estava escondido no Rio e aqui foi preso pelo nome verdadeiro – Tommaso Buscetta. O editor “corrigiu” a tempo. O JB era meio filho-de-Maria para certas coisas. O bandidão foi rebatizado como Bruschetta.
Da minha entrada no JB também lembro bem. Até já contei aqui: http://quemevivo.blogspot.com/2009/05/seu-pistolao-subiu-no-telhado.html.
No peito, algumas saudades. Na vitrolinha, Nino Rota (acima) e Louis Armstrong (com a foto do Harlem).