quinta-feira, 12 de agosto de 2010

O SAMBA DE BREQUE QUE FALA NO CADERNO B


Nestes minutos em que começo a contar mais algumas histórias do Jornal do Brasil, que assisti ou me contaram, um avião particular acaba de cair na Baía da Guanabara. Quem me deu a notícia foi o Romildo Guerrante, com quem eu falava pelo telefone no momento da queda. Romildo fechava um jornal na Avenida Beira Mar, ali pertinho do Santos Dumont, e pela janela acompanhou o pouso forçado nas águas do Flamengo. Em instantes, entro no G1 e o flash do desastre já está no portal de notícias, com foto do mais-pesado-que-o-ar nadando no mar, porém inteiraço. Felizmente, ninguém morreu. Os jornalistas que trabalham na grande rede terão muito que falar sobre estes tempos da internet a lenha.
Veja, ilustre passageiro, a foto que ilustra esta página virtual. São teclas de uma antiga máquina de escrever. Por serem em geral teclas pretas, o pessoal da antiga as chamava de pretinhas. Faziam muito barulho quando eram batucadas e integravam a trilha sonora das redações de jornais junto com outros sons característicos: esporros das chefias, pigarros e tosses dos fumantes que constituíam a maioria dos internos naquelas casas de loucos, gargalhadas de diferentes calibres e, no início da modernidade, guinchos de impressoras, entre outras algaravias.
Agora que você entrou no clima, mais umas historinhas, ao som deste samba-de-breque maneiro que fala do JB, do Caderno B e da Condessa Pereira Carneiro, cantado por João Nogueira e enviado para este blog por Roberto Dufrayer. Saca a letra:
“Eu de chinelo charlote/ meu chapéu copa norte/ meu blusão de voil/ (não tinha ainda de tergal)/ cordão bem fininho/ na medalha um bom santinho/ trabalhado em metal/ (era São Jorge, o maioral)/ cristão e umbandista/ eu tinha o meu ponto de vista/ meu padrinho era Ogum/ (não tinha santo mais nenhum)/ só dava eu com a Judite/ aos domingos no Elite/ e às sextas no Mil e Um/ (era traçado em vez de rum)/ E enquanto a nêga não vinha/ era uma boa cervejinha/ com a rapaziada/ (salta uma loura bem suada)/ depois do basquete/ era bater na bola sete/ e caprichar na tacada/ (olha a menina encaçapada)/ Mas eu de sambista/ tive que ser jornalista/ pra me valorizar/ (passei no tal vestibular)/ e agora veja só você/ trabalho no Caderno B/ critico samba popular/ (seu Tinhorão vem devagar)/ Um dia então fui chamado/ convidado pra jurado/ de julgar samba-enredo/ (confesso até que tive medo)/ no meio da quadra/ apareceu um camarada/ com jeitão de Ipanema/ (era um artista de cinema)/ chegou-se pra mim/ foi dizendo logo assim/ "sou diretor de carnaval"/ (até aí nada de mal...)/ esse é o samba dos cartolas/ vai dar grana pra escola/ de direito autoral/ (toca na Rádio Mundial)/ Se é coisa que eu não adoto/ é nêgo cabalando voto/ na maior cara de pau/ e o samba de sobra/ era um tremendo boi com abóbora/ rimava açúcar com sal/ antes de eu virar a mesa/ pra acabar com a safadeza/ foi armado um trelelê/ (era judô e karatê)/ e o tal do branco cabeludo/ me deu tanto do cascudo/ que eu nem sei mais escrever/ (tá pensando que eu sou telha?)/ Dona Condessa aborrecida/ me expulsou do JB/ (veja você...)”

3 comentários:

mari disse...

Gênio o João!

Sobre as pretinhas: em 87, quando voltei ao JB, ou melhor, cheguei ao JB da Av. Brasil pela primeira vez, tomei um baita susto. Achei que tinha saltado no andar errado, tamanho o silêncio na redação. Eram os computadores chegando. Os telefones tinham campainha baixa, o teto rebaixado absorvia os sons. Foi difícil me acostumar.

Roberto Dufrayer disse...

Quem ouve a gravação repara que a letra que está no blog está errada em alguns pontos. Na letra cantada por João, constam os versos "às sextas no Mil e Um", "olha a menina encaçapada", "foi armado um trelelê" e "chegou pra mim".

José Sergio Rocha disse...

Atento Dufrayer, os reparos já foram feitos, valeu!