segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

QUAL É A TRILHA SONORA DO LULA?


Antigamente, até as pessoas tinham trilha sonora. Um que lembro de cara, e isso vem dos anos 60: o mendigo que fazia ponto na Francisco Sá com Copacabana. Alvinegro até o último gole de Praianinha, Bigorrilho cantava uma conhecida marchinha de carnaval para arrecadar contribuições: “Lá em casa tem um bigorrilho/Bigorrilho comia mingau...”.
Outro biriteiro das antigas, Carlos Alexandre, o Chevrolet, fundador do ex-bloco Órfãos do Bar Natal, de Niterói, marcava suas impagáveis aparições com um sucesso de Luiz Melodia, perdigotejado na cara do primeiro conhecido que encontrava: “Se alguém quer matar-me de amor/ que me mate no Estácio...”.
No JB dos anos 70, o editor Luiz Mario Gazzaneo, comuna que ensinou muita gente boa a trabalhar em jornal, tinha seu prefixo: “Avanti poppolo! Alla riscossa! Bandiera rossa! Rossa bandiera!”.
No jornal O Globo, anos 80, quem ouvia ao longe a primeira estrofe de um grande sucesso da música portuguesa sabia que o diagramador Tião acabara de chegar. “Teus olhos castanhos...”, solfejava o bom crioulo. E mais não cantava.
A entrada do cantor Blecaute nos programas de auditório da pré-história da televisão também tinha trilha sonora: “Chegou o general da banda, êê! Chegou o general da banda, êá!”.
E isso não acontecia só no Brasil. Bob Hope, comediante americano dos anos 40 e 50, era recebido nos palcos ao som da balada Thanks for the memory. Marilyn Monroe ficou definitivamente ligada à interpretação pra lá de sensual de Happy birthday to you, sob medida para o amante JFK.
Em 1993, às vésperas do plebiscito sobre o sistema de governo, no encerramento de um comício dos monarquistas, perguntei de sacanagem ao ex-ministro Mário Henrique Simonsen, maníaco por óperas, qual seria a trilha sonora da Coroação. Ele respondeu todo feliz, com um berro que arrancou gargalhadas no Instituto dos Executivos Financeiros:

NABUCO!!!”.
Como não associar o líder trabalhista Leonel Brizola à Grande Fantasia Triunfal do Hino Nacional Brasileiro, composta no século XIX pelo alemão Gottschalk, cujos primeiros acordes anunciavam o horário eleitoral do PDT? Ou Juscelino Kubitschek à modinha Peixe Vivo? Ou Jânio Quadros a seu jingle em ritmo de dobrado Varre Vassourinha?
Acabo de ler que o presidente Lula fechou a pesquisa CNI/Ibope de dezembro com 73% de avaliações boas/ótimas, batendo novo recorde de popularidade. Qual é a trilha sonora do magnata?
Meu voto é para aquele samba genial de Miguel Gustavo gravado em 1955 pelo mestre do breque Jorge Veiga (Alô, alô, aviadores do Brasil! Aqui fala Jorge Veiga diretamente da Rádio Nacional! Queiram dar os seus prefixos para guia das nossas aeronaves!), com a participação de outro monstro da música popular brasileira, Ciro Monteiro.


5 comentários:

Eduardo Goldenberg disse...

Ele, de frente pro espelho:

"Dá-me um pouco de festa
- não esta! -
que é demais pros meus anseios!"

Luiz Antonio Simas disse...

Meu velho, maravilha! O incrível é que, no fim da vida, JK revelou que não aguentava ouvir o Peixe Vivo.

Abração

Olga de Mello disse...

A favor do Lula a gente deve lembrar que o poder deslumbra até que nasceu em berço esplêndido.
Menino, agora tô com os "Teus olhos castanhos" na cabeça...

Anônimo disse...

O Tião, Olga!!! Diagramador, se não me engano, da Economia. Mas pra baixo, gordinho, passo de malandro, aliás era na época diretor da Em Cima da Hora.

AOS QUARENTA A MIL disse...

Senhor Zé Sergio (por pura falta de intimidades), por falar em temas musicais, tem um fato curioso. O gingle de campanha do Leonel “lá,lá,lá,lá Brizola” foi usado por muito tempo pelas crianças da seguinte forma, eles batiam na bochecha , de um lado para outro quando brigavam entre si e cantarolavam : “lá,lá,lá,lá Brizola, tô preso na gaiola” que no final virou “lá,lá,lá,lá, Brizola, teu pai é um boiola” para os mais implicantes , isso acontecia quando morava em Botafogo , mas me surpreendi quando mudei para os lados de São Gonçalo e as crianças faziam o mesmo e todas e passou por algumas gerações infantis que acompanhei.