segunda-feira, 19 de abril de 2010

O MUNDO ESTÁ ACABANDO E O FOGÃO RIU POR ÚLTIMO


No dia 18 de abril de 2010, um domingo prenhe de significados, o jornalista Nilo Sérgio Gomes estava posto em sossego, meditando sobre a importância da Revolução Cultural deflagrada na China 34 anos antes. Vislumbrava até escrever um artigo a respeito, mas as ideias pareciam embaralhar-se e, em vez de China, ao dar início à sua tese, pensou em outro país, a Somália.
No segundo parágrafo, os atos falhos se sucederam. Em vez de “os guardas vermelhos”, escreveu “os leandros guerreiros”. Deng Xiao-ping virou Je Fer-song. Mao Tsé-tung foi lembrado por causa de uma prancheta que o teria acompanhado durante a Grande Marcha.
Soube, enfim, que o texto ia ficar muito ruim mesmo quando tascou a frase: “Tem coisas que só acontecem com o Chu En-lai”. Chu seria, no tresloucado ensaio, um guerrilheiro montonero ou tupamaro.
Então sacou. Outro acontecimento, ainda mais transcendental, estava completando o centenário: a gloriosa conquista de 1910, citada na letra original do Hino Nacional, digo, Hino do Botafogo. Foi aí que o telefone tocou e no outro lado do fio falou Carlos Martins da Rocha, usando como cavalo o professor Luiz Antônio Simas. Já com as cortinas de sua varanda bem amarradas, em uma edificação mourisca do Além, o velho Carlito intimou-o:
“Vá ao portão 8 do Maracanã que ainda tem arquibancadas no setor branco à venda. Essa história de que não vão vender ingressos no dia do jogo é balela. Um cachorro vai indicar o caminho. Siga-o!”.
O bom Nilo não teve dúvidas: desceu Santa Teresa a pé, correndo atrás do espírito do viralata Biriba, e chegou ao Catumbi em poucos minutos. Daí para a estátua do Belini foi outro pulo. E graças a esse esforço de reportagem, também consegui minha entrada para a decisão da Taça Rio, que se tornaria também a final do Campeonato Carioca de 2010.
No Maraca tudo deu certo. Loco Abreu ia cobrar um pênalti cartesiano, mas na hora agá Quarentinha soprou-lhe para chutar na trave, pois assim a bola entraria, sem qualquer chance para o marrento Bruno. Caio, que deu velocidade ao time, só perdeu um golaço por ter seguido à risca o conselho do ser de luz que imaginou ser Garrincha. Não era Mané. O recado foi dado por Zizinho, que também é um ser de luz, só que estava ali para ajudar o adversário. Mané vingou-se depois, cochichando algo no ouvido do Adriano, que suando frio antes de bater o pênalti achou que estava sob a proteção do alagoano Dida.
E foi assim que o Botafogo tornou-se talvez o último campeão e o único tetracampeão carioca neste planeta prestes a ser destruído por demônios enfurecidos que acordaram os vulcões islandeses. Vade retro!

4 comentários:

Luiz Antonio Simas disse...

Que beleza de fim dos tempos !

Felipe Quintans disse...

Que sopro o Quarentinha!

Alan disse...

Os atos falhos foram sensacionais!

Quando o Adriano perdeu aquela cobrança,quase fui às lágrimas, parcialmente mediunizado por Vinícius que insistia em repertir ao meu ouvido: "olha aqui, mister Buster, o senhor sabe o que é torcer para o Botafogo?"

Abraço!

José Sergio Rocha disse...

Simas, deu tudo certo no portão 8. Avisa seu Carlito e agradeça em meu nome.
Felipinho, na preliminar torci pelo seu América, que mandou ver contra o Macaé.
Alan, acho que vi o Vinicius no Maracanã. Estava dando um esporro no ambulante da cerveja sem álcool!