segunda-feira, 23 de novembro de 2009

MENINOS DE RUA É O CACETE!

O texto indignado abaixo é do meu chapa Victor Abramo. Reproduzo aqui porque vale a pena ser lido pelo menos por mais meia dúzia de pensantes, de acordo com a última pesquisa que o Ibope fez aqui perto de casa.

Outro dia O Globo trouxe estampada em sua capa uma foto mostrando um grupo de garotos dormindo em um monumento no bairro do Flamengo. Corriqueiro, meninos e meninas perambulando pelas ruas do Rio é o que mais se vê, o fato em si não me causou nenhuma surpresa. O que me chamou a atenção mesmo foi a legenda, que começava assim: “Meninos de rua ...” Ora, meninos de rua é um eufemismo que usamos para aliviar um pouco nossa culpa por essa verdadeira vergonha nacional que é o abandono de milhares de crianças. O rótulo “Meninos de rua” dá a impressão de que eles brotam dos bueiros de cada esquina, e que não temos absolutamente nada a ver com essa incômoda realidade.
Não sei o que motivou minha reação tão forte nesse dia, mas ao ver a foto e ler a legenda pensei imediatamente: Não, não são meninos de rua! São crianças abandonadas! Crianças que não têm um lar, uma família estruturada, que não freqüentam uma escola, que vestem trapos e se alimentam de solvente ou, pior, de pedras de crack. Crianças que não têm direito de sonhar, pois só conheceram o pesadelo do abandono, crianças que certamente já ouviram falar em carinho, em afeto, mas nunca viram ou sentiram nada parecido e nem sabem como são essas coisas. São crianças que levam porrada desde o dia em que chegam ao mundo, e que nós fingimos não ver em nossa ida e volta ao trabalho.
É mesmo muito fácil pensar que isso é um problema que cabe ao Governo resolver, e continuar desviando o olhar dessa cena deprimente, dessa enorme covardia cometida contra crianças indefesas. Se o Governo não cumpre sua obrigação, cabe a nós exigir que o faça. Cada vez que viramos o rosto para não enxergar essa criminosa realidade compactuamos com os administradores incompetentes ou mal intencionados que nem sequer esboçam qualquer ação no sentido de dar a esses pequenos brasileiros um mínimo de cidadania, algo que a Constituição Brasileira em tese garante a todos os brasileiros, mas na prática só acontece para os ricos e os remediados.
Os mesmos administradores que comemoram a realização dos Jogos Olímpicos a um custo astronômico de R$ 26 bilhões, não têm a decência de explicar, entre uma e outra viagem ao exterior com o dinheiro público, por que nunca existe “verba” para tirar essas crianças desse verdadeiro martírio. O máximo que se envolvem na questão é quando participam de seminários para discutir “as causas da violência”. Ora, é de chorar esse cinismo oficial, esse faz de conta governamental. Perdemos quatro ou cinco ou mais gerações nas ruas. Entregamos milhares de crianças ao Deus dará, não nos incomodamos quando, com fome, sede e atordoados pelas drogas eles vêem os ricos passar com suas poderosas picapes que custam algo em torno de R$ 300 mil e na maioria das vezes transportam apenas o ego de seu dono.
Mas nossas engravatadas autoridades insistem em não entender o que causa a violência. Na certa esperam que estas crianças a quem tudo é negado, a começar pelo direito de existir, nos assaltem com educação, com delicadeza. “Oh, por favor, o senhor pode me passar sua carteira, se não for incômodo?”. “A senhora me perdoe, mas vou levar sua bolsa, seu celular e esse cordão de ouro, tá bem?”. “Oi, irmãozinho, me entregue essa bicicleta? Seu pai amanhã lhe dará outra novinha!”
Não, não é assim. É demais esperar isso de quem sempre foi tratado à tapa em casa (casa?) ou nas ruas. Mas fiquem atentos. Não vai demorar e, como num passe de mágica, esta criançada que brota dos bueiros cheirando a esgoto vai desaparecer pelo menos por uns tempos da cena carioca. Ora, os responsáveis pela realização da Copa de 2014 e das Olimpíadas de 2016 vão tratar de varrer esse lixo humano para um depósito público de crianças sem porvir. E ao pensar nisso torço para que ninguém tenha a péssima idéia de recorrer à solução final ao estilo nazista no pavoroso Rio da Guarda, página mais vergonhosa da história do Rio de Janeiro.
Antes disso, vamos combinar uma coisa. Sempre que aparecer em algum jornal ou site a expressão “meninos de rua” vamos mandar uma enxurrada de e-mails e cartas exigindo que pelo menos tenham a decência de tratá-los pela realidade a que estão condenados: são crianças abandonadas. E vamos nos mobilizar para que na campanha eleitoral que se aproxima esse tema seja obrigatório. Vamos premiar com nosso voto somente quem se comprometer verdadeiramente com essa bandeira e, o mais importante de tudo, vamos nos organizar para, depois da eleição, cobrar o cumprimento de todas as promessas.
Victor Dawes Abramo

8 comentários:

Olga disse...

Grandes verdades e triste realidade!

JJ disse...

O termo "garotos de rua" é mesmo um real cinismo. Mas andei pensando em milhoes de teorias que possa explicar porque nada é feito com relação a isso. Digo que essas crianças( moradores de rua em geral) não são uma pedra no pé do governo, e sim nos nossos. O governo(corrupto) lucra com essa imagem vendida e só divulgam reunioes para soluções, só. Porém nada é feito pois isso serve de propaganda para suas respectivas campanhas eleitorais. É triste, mas essa imagem gera votos, pois eles criam propostas e mais propostas, porém quando dentro nada fazem e assim continua. a questão é até quando. Acredito que veremos isso a partir de 2010, onde tudo começará. o que eles irão fazer com essas crianças ? algo tem de ser feito, mas algo que seja para seu bem. o que eles nao veem é que se todas essas crianças forem bem educadas (com professores dignos, que nao sejam uns almas vazias e manipulados) será excelente para nós e eles. infelizmente hoje em dia, acredito, temos que pensar assim.

Anônimo disse...

Zé Sérgio: Sua visitante eventual, essa que lhe escreve, é militante política, advogada e cientista política formada pela UnB (Universidade de Brasília), nunca foi EDUCADORA, mas jamais teve dúvida de que a solução desses problemas está na EDUCAÇÃO INTEGRAL, como preconizou Darcy Ribeiro que, por sua vez, se inspirou em Anísio Teixeira e que, por seu lado, "copiou" Júlio de Castilhos (pré-Revolução de 30).

Deixando de falar na "3ª" pessoa, tenho trabalhado na Câmara dos Deputados aqui em Brasília no sentido de convencer os deputados da base do governo (para os quais eu trabalho), que convençam a "candidata oficial" a incluir em seu programa de governo a "efetivação" da política prevista na LDB (Lei de Diretrizes e Bases) da EDUCAÇÃO INTEGRAL, que vai tirar os meninos das ruas, tranqüilizar as mães ao sair para trabalhar, garantir saúde, assistência odontológica, alimentação, educação esportiva, reforço escolar, auxílio psicológico, segurança e disciplinas alternativas como música, artes, língua estrangeira e informática. SÓ ASSIM nós vamos sair do atraso, da exploração, da violência e do "analfabetimo funcional". Precisamos nos integrar a essa campanha e convencer as nossas entidades sindicais da área de educação a encampalá-la também. Abraços. Sonia Palhares.

Anônimo disse...

Só para concluir!!! O RESTO É PALIATIVO E PAPO FURADO!! Abraços. Sonia Palhares.

José Sergio Rocha disse...

É isso, JJ, Olga e Sonia. O Vitinho foi na ferida. E a solução possível só é esta que a Sonia apontou. Infelizmente, a politicagem aqui no Rio acabou com a bela ideia do Darcy, onde os Cieps poderiam ter virado o jogo. Em vez de arquitetura da nova educação, viraram ruínas, refugios de marginais, improvisos para sem tetos etc. Meninos de rua, como diz o Abramo, é o cacete!

AOS QUARENTA A MIL disse...

Como mãe lamento horrores quando vejo a criançada jogada e pior , sofro mais ainda quando os vejo drogados. Como não sou especilista nem profissional da área , só penso na possibilidade de adota-los e dar muito carinho , comida fresca, livros, passeios, escolas , esportes e brinquedos .

Como queria meu Deus , como queria!!!!

Anônimo disse...

Educação integral não é a solução do Brasil e de lugar nenhum do mundo.
Não são os professores que devem ensinar crianças abandonadas a comer, a sentar em uma mesa , a usar os talheres adequadamente e muito menos a usar o banheiro.
A escola não é lar!!!!!!
Escola é um local onde se constrói conhecimento, habilidades e competências muito diferentes.
Nós educadores com certeza não gostamos da situação destas crianças só que família não se encontra na escola e professor não é pai, mãe ou babá de ninguém!!!

LauLimor disse...

O trabalho seria de base: Um séria e comprometida injeção de educação, planejamento familiar, etc. aliado a ações de urgência, de acolhimento e assistência a essas crianças vivendo sob o céu de todos nós. Uma vergonha no mundo todo; pano de fundo para campanhas políticas hipócritas e criminosas.