terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

EU E O ZÉ, O ZÉ E EU - O RETORNO

Como tem Zé na Paraíba. Só no meu corpo habitam dois, o Zé que fui e o Zé que sou. Não sei se haverá um terceiro ou um quarto Zé no futuro. Por enquanto, somos dois apenas. Ou seriam três, contando com o Zé da infância?
Não, este não, este tem um pouco dos dois. O Zé da Abolição era apenas um guri vindo de São Paulo. Tinha sotaque nordestino por influência familiar (viveu pouquíssimo tempo em Sergipe, o estado natal) e, em razão disso, ganhou o indefectível apelido de Pau de Arara. Todo nordestino era Pau de Arara, viesse na carroceria do caminhão de gente ou numa poltrona da Real Aerovias – meu caso.
CARNAVAL: o menino aprendeu a gostar de carnaval na ladeirinha onde morava, a Cantilda Maciel, e os dois Zés seguiram no passo. O Zé porralouca gostava de ir à Presidente Vargas, à Rio Branco, para ver os blocos e preferia disparado os Boêmios do Irajá. Na abalizada opinião do Zé que fui um dia, o Cacique de Ramos e o Bafo da Onça não passavam de endereços do lumpen proletariado.

ELEIÇÕES: mudei muito e era sobre isso que falava ontem. Sobre as diferenças e convergências entre o Zé que fui (e que certamente votaria na Heloísa Helena nas próximas eleições presidenciais) e o Zé que sou (que deve votar em Serra mas vê Dilma como um mal menor diante de Aécio Neves), são tantas como as estrelas do céu.
FUTEBOL: ambos torcemos pelo Botafogo. Fomos, por breve período, corintianos, juventinos e vascaínos. O Corinthians e o time de camisa vinho da Rua Javari dividiram as preferências na rápida temporada paulistana. Chegando ao Rio, fomos vascaínos por influência do avô, mas isso não durou seis meses. Garrincha, Didi, Quarentinha, Amarildo e Zagalo, e também o Nilton Santos defendendo com classe e subindo pela esquerda, foram os responsáveis pela mudança. Não consideramos virada de casaca. Aos 8 anos de idade, podemos tudo.

RELIGIÃO: ambos somos contra. Religião, para os dois Zés, é meio coisa de psicopata. Tá bom, tá bom, a gente gosta dos espíritas (resgates culturais), dos budistas (não incomodam) e dos adventistas do sétimo dia (porque fabricam o suco de uva SuperBom e o molho a bolonhesa vegetariano Soy Good). Se bem que a política era algo quase religioso para o homem do passado...
PATRIOTISMO: ambos nos consideramos patriotas, mas não velhacos. A diferença é que o Zé de ontem era nacionalista até dizer chega. Quem disse “chega!” foi o Zé atual.


INTERNACIONAL: o Zé de ontem gostava do Fidel e, com certeza, gostaria também do Hugo Chávez, que o Zé de hoje acha uma figura deletéria, irresponsável, tirânica e protofascista. O Zé que fui não morria de amores pela União Soviética, mas quase teve um troço quando caiu o Muro. O Zé que sou sequer guardaria uma pedra de lembrança.

JAZZ: eu gostava e continuo gostando de Louis Armstrong, Charlie Parker, Dave Brubeck, John Coltrane, Sarah Vaughan, Billy Eckstine e Duke Ellington. O Zé de ontem jamais perdoou Miles Davis pela fusão. O de hoje acha que foi só uma perda de tempo.
BOSSA NOVA E JOVEM GUARDA: O Zé das cavernas odiava a turma do lamê e sempre preferiu a Bossa Nova. O ciberZé continua adorando a Bossa Nova, mas acha engraçado, numa festa familiar, de porre, fingir que é brega e que gosta do Roberto Carlos.
SAMBA E CHORO: Os dois sempre gostamos das duas coisas. Se bem que choro demais enche o saco. O Zé de hoje não é muito chegado a sambistas que rimam com alcaçuz, ou seja, ele não gosta nem do Arlindo Cruz nem do Moacyr Luz. Um empagodou geral e o outro aparece em tudo quanto é matéria que o Globo faz sobre botequim. Vem cá, não tem mais ninguém para entrevistar não, rapaziada? Aliás, falando em aparecer demais, o Zé de hoje não aguenta mais ouvir falar em Zeca Pagodinho.

TELEVISÃO: o Zé que fui também desliga, sobretudo quando aparecem Ana Maria Braga, Faustão, Hebe, Pânico, Xuxa, Galvão Bueno, Renato Aragão etc.

7 comentários:

pratinha disse...

Porra, o Zé de hoje é CHATO PRA CARALHO

José Sergio Rocha disse...

Tu não sabe do pior, Pratinha... aguarde o Prata Velho. Será muito pior, meu chapa.

Luiz Antonio Simas disse...

Porra, o Zé de antigamente era chato pra caralho

Anônimo disse...

Simas, vamos definir o Pratinha já ou esperar mais alguns anos, com o tal distanciamento crítico?

Luiz Antonio Simas disse...

Acho que já cabe uma definição...

Anônimo disse...

Zé: Vou comentar o post por etapas. Ok? Estive na Venezuela em 2006, conheci as diversas organizações populares que apóiam Hugo Chavez. Naquela época já dizia a eles que sem um partido forte por trás a direita avançaria e destruiria as conquistas da revolução bolivariana - eles eliminaram o analfabetismo no país, sabia?. A Venezuela, por mais que queiram provar o contrário, vive uma verdadeira democracia e ainda convive com as constantes sabotagens da direita fascista. A burguesia venezuelana é das mais podres da América Latina, uma das mais vendidas. A PDVSA - estatal de petróleo - tinha antes de Chávez, mais de 18 mil funcionários fantasmas, todos filhos da pequena burguesia venezuelana. Caracas é cercada por favelas por todos os lados, pior que o Rio de Janeiro. Discordo da possibilidade de alguém se eleger indefinidamente, mas o povo venezuelano foi consultado sobre isso e decidiu soberanamente, só nos resta respeitar. Besos. Sonia Palhares (BsB-DF)

José Sergio Rocha disse...

Não concordo, Sônia, com esse sistema eleitoral casuístico, plebiscitário. Tá bom, o povo votou. Povo adora um cabresto, vai na boa com quem for (chavista, fascista, esquerdista, nadaísta) se estiver comprado, com dinheiro ou com uma idéia. A Venezuela, um dos poucos países da A. do Sul onde nunca pisei, tem a força do petróleo, não tem tanta população (se comparada com o Brasil) e, sendo assim, se esse Mussolini bolivariano não tivesse acabado com o analfabetismo, seria um escândalo. Quem veio antes dele não assumia que tinha compromisso popular. Ele diz que tem e, portanto, não fez mais do que sua obrigação. OK que aquela burguesia fdp tentou golpeá-lo antes. Agora ele governa através de golpes e, o que me irrita profundamente, esbanjando demagogia e autopromoção. Tenho nojo desse tipo de atitude. Salvador Allende era o avesso disso, só pra citar um exemplo continental. Desculpe, mas isso de que a Venezuela vive uma verdadeira democracia para mim é uma piada - mesmo sem nunca ter ido lá.