sábado, 28 de novembro de 2009

FILHO DO BRASIL, FILHO DA PUTA, MOLEQUE INDIGESTO!


Dois personagens de nossa história política, uma história suja que foi contada na “Folha de S. Paulo” e outra versão, que saiu no portal Terra.
O primeiro personagem é o atual presidente da República, que tem feito bom governo e, possivelmente, elegerá seu sucessor ou sucessora. Digo “possivelmente”, que é diferente de “provavelmente” e está ainda mais longe de “certamente”.
Lula, possivelmente, elegerá Dilma ou outro candidato à sua sucessão porque a eleição de 2010 será decidida pelo bolso do eleitor, pelo desempenho da economia, pelo protagonismo do Brasil 500 anos e quebrados depois das caravelas. Não será uma eleição decidida por questões morais ou, melhor, moralistas.
Ainda não vi o filme de Fábio Barreto, mas Lula é, sim, um filho do Brasil e é, também, um moleque. Um moleque indigesto, como na marchinha de Lamartine Babo (liga o som e ouve a Carmen Miranda), enfim, é um bom filho da puta. Motivos não faltam: o que mais pega hoje é seu sucesso. Tanto sucesso que virou filme.
É só um filme, vá lá!, um filme de propaganda, que pode ou não ter papel importante na campanha de 2010. Se tiver, ótimo, contrabalança um pouco o tiroteio pesado de quase toda a mídia mirando o projeto de Lula de fazer a própria sucessão.
O segundo personagem, César Benjamin, também é um filho do Brasil. Não é um moleque, não é um filho da puta, até porque felizmente nunca chegou ao poder. Concorreu uma vez a vice-presidente sabendo que perderia. É só um intelectual moralista que levou 15 anos para fazer sua catarse em público. Tinha uma missão na época – eleger Lula presidente – e ficou feliz da vida porque um marqueteiro americano chato que enchia o saco dele saiu de cena para que ele pudesse continuar trabalhando na campanha daquele mesmo cara que revoltou seu estômago ao contar uma passagem escabrosa na cadeia.
Poderia ter largado aquela campanha de merda na mesma hora em que ouviu a história suja, mas pelo que entendi continuou na campanha, saindo do partido um ano depois.
A história realmente é suja. E foi ouvida também por um publicitário que Cesar Benjamin não lembra quem era. O publicitário é o hoje cineasta Sílvio Tendler, que confirmou ter ouvido o relato de Lula sobre a suposta tentativa de currar “um menino do MEP” quando ambas estavam na cadeia. Em entrevista ao repórter Bob Fernandes, do portal Terra, Tendler dá outra versão:
“... pensa só uma coisa: você acha que o Lula, logo o Lula, tão “pouco esperto” como ele é, em meio a uma campanha presidencial, vai chegar na frente de um gringo que ele mal conhecia, um gringo que vai voltar pro país dele e contar tudo o que viu, você acha que o Lula vai chegar pra um gringo que nunca viu, na frente de testemunhas, e vai contar que tentou estuprar alguém? É, foi óbvio, evidente, que aquilo era gozação, piada, brincadeira, sem nada desse drama todo do Benjamin de agora... rimos e ninguém deu a menor importância aquilo...”.
Para o cineasta, ex-publicitário, o autor do texto publicado pela Folha merece um troféu: “O César Benjamin guardou ressentimentos por 15 anos para agora despejar todo esse rancor. Ele pirou com o sucesso do Lula. Ele transformou uma piada num drama, vai ganhar o troféu Loura do Ano”.
Realmente uma história suja, uma piada do Bocage, de papagaio, de português burro ou de loura. Tem outra história: é a dessa campanha de 2010 que mal começou e que promete ser a mais suja desde a de 1989, com o caso Miriam, ou a de 1946, que o brigadeiro Eduardo Gomes perdeu porque lhe atribuíram algo que nunca disse – chamar os eleitores de seu adversário de “marmiteiros”.
O chumbo grosso só começou.


Abaixo, os textos de César Benjamin na Folha e de Bob Fernandes no Terra

Os filhos do Brasil
César Benjamin

"A prisão na Polícia do Exército da Vila Militar, em setembro de 1971, era especialmente ruim: eu ficava nu em uma cela tão pequena que só conseguia me recostar no chão de ladrilhos usando a diagonal. A cela era nua também, sem nada, a menos de um buraco no chão que os militares chamavam de "boi"; a única água disponível era a da descarga do "boi". Permanecia em pé durante as noites, em inúteis tentativas de espantar o frio. Comia com as mãos. Tinha 17 anos de idade. Um dia a equipe de plantão abriu a porta de bom humor. Conduziram-me por dois corredores e colocaram-me em uma cela maior onde estavam três criminosos comuns, Caveirinha, Português e Nelson, incentivados ali mesmo a me usar como bem entendessem. Os três, porém, foram gentis e solidários comigo. Ofereceram-me logo um lençol, com o qual me cobri, passando a usá-lo nos dias seguintes como uma toga troncha de senador romano. Oriundos de São Paulo, Caveirinha e Português disseram-me que "estavam pedidos" pelo delegado Sérgio Fleury, que provavelmente iria matá-los. Nelson, um mulato escuro, passava o tempo cantando Beatles, fingindo que sabia inglês e pedindo nossa opinião sobre suas caprichadas interpretações. Repetia uma ideia, pensando alto: "O Brasil não dá mais. Aqui só tem gente esperta. Quando sair dessa, vou para o Senegal. Vou ser rei do Senegal". Voltei para a solitária alguns dias depois. Ainda não sabia que começava então um longo período que me levou ao limite. Vegetei em silêncio, sem contato humano, vendo só quatro paredes -"sobrevivendo a mim mesmo como um fósforo frio", para lembrar Fernando Pessoa- durante três anos e meio, em diferentes quartéis, sem saber o que acontecia fora das celas. Até que, num fim de tarde, abriram a porta e colocaram-me em um camburão. Eu estava sendo transferido para fora da Vila Militar. A caçamba do carro era dividida ao meio por uma chapa de ferro, de modo que duas pessoas podiam ser conduzidas sem que conseguissem se ver. A vedação, porém, não era completa. Por uma fresta de alguns centímetros, no canto inferior à minha direita, apareceram dedos que, pelo tato, percebi serem femininos. Fiquei muito perturbado (preso vive de coisas pequenas). Há anos eu não via, muito menos tocava, uma mulher. Fui desembarcado em um dos presídios do complexo penitenciário de Bangu, para presos comuns, e colocado na galeria F, "de alta periculosia", como se dizia por lá. Havia 30 a 40 homens, sem superlotação, e três eram travestis, a Monique, a Neguinha e a Eva. Revivi o pesadelo de sofrer uma curra, mas, mais uma vez, nada ocorreu. Era Carnaval, e a direção do presídio, excepcionalmente, permitira a entrada de uma televisão para que os detentos pudessem assistir ao desfile. Estavam todos ocupados, torcendo por suas escolas. Pude então, nessa noite, ter uma longa conversa com as lideranças do novo lugar: Sapo Lee, Sabichão, Neguinho Dois, Formigão, Ari dos Macacos (ou Ari Navalhada, por causa de uma imensa cicatriz que trazia no rosto) e Chinês. Quando o dia amanheceu éramos quase amigos, o que não impediu que, durante algum tempo, eu fosse submetido à tradicional série de "provas de fogo", situações armadas para testar a firmeza de cada novato.Quando fui rebatizado, estava aceito. Passei a ser o Devagar. Aos poucos, aprendi a "língua de congo", o dialeto que os presos usam entre si para não serem entendidos pelos estranhos ao grupo. Com a entrada de um novo diretor, mais liberal, consegui reativar as salas de aula do presídio para turmas de primeiro e de segundo grau. Além de dezenas de presos, de todas as galerias, guardas penitenciários e até o chefe de segurança se inscreveram para tentar um diploma do supletivo. Era o que eu faria, também: clandestino desde os 14 anos, preso desde os 17, já estava com 22 e não tinha o segundo grau. Tornei-me o professor de todas as matérias, mas faria as provas junto com eles. Passei assim a maior parte dos quase dois anos que fiquei em Bangu. Nos intervalos das aulas, traduzia livros para mim mesmo, para aprender línguas, e escrevia petições para advogados dos presos ou cartas de amor que eles enviavam para namoradas reais, supostas ou apenas desejadas, algumas das quais presas no Talavera Bruce, ali ao lado. Quanto mais melosas, melhor.Como não havia sido levado a julgamento, por causa da menoridade na época da prisão, não cumpria nenhuma pena específica. Por isso era mantido nesse confinamento semiclandestino, segregado dos demais presos políticos. Ignorava quanto tempo ainda permaneceria nessa situação. Lembro-me com emoção -toda essa trajetória me emociona, a ponto de eu nunca tê-la compartilhado- do dia em que circulou a notícia de que eu seria transferido. Recebi dezenas de catataus, de todas as galerias, trazidos pelos próprios guardas. Catatau, em língua de congo, é uma espécie de bilhete de apresentação em que o signatário afiança a seus conhecidos que o portador é "sujeito-homem" e deve ser ajudado nos outros presídios por onde passar.Alguns presos propuseram-se a organizar uma rebelião, temendo que a transferência fosse parte de um plano contra a minha vida. A essa altura, já haviam compreendido há muito quem eu era e o que era uma ditadura. Eu os tranquilizei: na Frei Caneca, para onde iria, estavam os meus antigos companheiros de militância, que reencontraria tantos anos depois. Descumprindo o regulamento, os guardas permitiram que eu entrasse em todas as galerias para me despedir afetuosamente de alunos e amigos. O Devagar ia embora.

São Paulo, 1994. Eu estava na casa que servia para a produção dos programas de televisão da campanha de Lula. Com o Plano Real, Fernando Henrique passara à frente, dificultando e confundindo a nossa campanha.Nesse contexto, deixei trabalho e família no Rio e me instalei na produtora de TV, dormindo em um sofá, para tentar ajudar. Lá pelas tantas, recebi um presente de grego: um grupo de apoiadores trouxe dos Estados Unidos um renomado marqueteiro, cujo nome esqueci. Lula gravava os programas, mais ou menos, duas vezes por semana, de modo que convivi com o americano durante alguns dias sem que ele houvesse ainda visto o candidato.Dizia-me da importância do primeiro encontro, em que tentaria formatar a psicologia de Lula, saber o que lhe passava na alma, quem era ele, conhecer suas opiniões sobre o Brasil e o momento da campanha, para então propor uma estratégia. Para mim, nada disso fazia sentido, mas eu não queria tratá-lo mal. O primeiro encontro foi no refeitório, durante um almoço. Na mesa, estávamos eu, o americano ao meu lado, Lula e o publicitário Paulo de Tarso em frente e, nas cabeceiras, Espinoza (segurança de Lula) e outro publicitário brasileiro que trabalhava conosco, cujo nome também esqueci. Lula puxou conversa: "Você esteve preso, não é Cesinha?" "Estive." "Quanto tempo?" "Alguns anos...", desconversei (raramente falo nesse assunto). Lula continuou: "Eu não aguentaria. Não vivo sem boceta". Para comprovar essa afirmação, passou a narrar com fluência como havia tentado subjugar outro preso nos 30 dias em que ficara detido. Chamava-o de "menino do MEP", em referência a uma organização de esquerda que já deixou de existir. Ficara surpreso com a resistência do "menino", que frustrara a investida com cotoveladas e socos. Foi um dos momentos mais kafkianos que vivi. Enquanto ouvia a narrativa do nosso candidato, eu relembrava as vezes em que poderia ter sido, digamos assim, o "menino do MEP" nas mãos de criminosos comuns considerados perigosos, condenados a penas longas, que, não obstante essas condições, sempre me respeitaram. O marqueteiro americano me cutucava, impaciente, para que eu traduzisse o que Lula falava, dada a importância do primeiro encontro. Eu não sabia o que fazer. Não podia lhe dizer o que estava ouvindo. Depois do almoço, desconversei: Lula só havia dito generalidades sem importância. O americano achou que eu estava boicotando o seu trabalho. Ficou bravo e, felizmente, desapareceu.

Dias depois de ter retornado para a solitária, ainda na PE da Vila Militar, alguém empurrou por baixo da porta um exemplar do jornal "O Dia". A matéria da primeira página, com direito a manchete principal, anunciava que Caveirinha e Português haviam sido localizados no bairro do Rio Comprido por uma equipe do delegado Fleury e mortos depois de intensa perseguição e tiroteio. Consumara-se o assassinato que eles haviam antevisto. Nelson, que amava os Beatles, não conseguiu ser o rei do Senegal: transferido para o presídio de Água Santa, liderou uma greve de fome contra os espancamentos de presos e perseverou nela até morrer de inanição, cerca de 60 dias depois. Seu pai, guarda penitenciário, servia naquela unidade. Neguinho Dois também morreu na prisão. Sapo Lee foi transferido para a Ilha Grande; perdi sua pista quando o presídio de lá foi desativado. Chinês foi solto e conseguiu ser contratado por uma empreiteira que o enviaria para trabalhar em uma obra na Arábia, mas a empresa mudou os planos e o mandou para o Alasca. Na última vez que falei com ele, há mais de 20 anos, estava animado com a perspectiva do embarque: "Arábia ou Alasca, Devagar, é tudo as mesmas Alemanhas!" Ele quis ir embora para escapar do destino de seu melhor amigo, o Sabichão, que também havia sido solto, novamente preso e dessa vez assassinado. Não sei o que aconteceu com o Formigão e o Ari Navalhada. A todos, autênticos filhos do Brasil, tão castigados, presto homenagem, estejam onde estiverem, mortos ou vivos, pela maneira como trataram um jovem branco de classe média, na casa dos 20 anos, que lhes esteve ao alcance das mãos. Eu nunca soube quem é o "menino do MEP". Suponho que esteja vivo, pois a organização era formada por gente com o meu perfil. Nossa sobrevida, em geral, é bem maior do que a dos pobres e pretos. O homem que me disse que o atacou é hoje presidente da República. É conciliador e, dizem, faz um bom governo. Ganhou projeção internacional. Afastei-me dele depois daquela conversa na produtora de televisão, mas desejo-lhe sorte, pelo bem do nosso país. Espero que tenha melhorado com o passar dos anos. Mesmo assim, não pretendo assistir a "O Filho do Brasil", que exala o mau cheiro das mistificações. Li nos jornais que o filme mostra cenas dos 30 dias em que Lula esteve detido e lembrei das passagens que registrei neste texto, que está além da política. Não pretende acusar, rotular ou julgar, mas refletir sobre a complexidade da condição humana, justamente o que um filme assim, a serviço do culto à personalidade, tenta esconder".


Tendler: "Só um débil mental não viu que era piada do Lula"
Bob Fernandes
"César Benjamin, 55 anos, é ex-preso político e um dos fundadores do PT. Na sexta-feira, 27, Benjamin escreveu um artigo na Folha de S. Paulo e acusou o hoje presidente Lula de ter revelado, em 1994, uma tentativa de estupro dele, Lula, contra um "menino do MEP". Tentativa que teria acontecido em 1980, quando o então líder sindical Lula esteve preso por 30 dias, e na mesma prisão, com o jovem da organização de esquerda que já não existe, o MEP. César Benjamin cita, em seu texto, uma testemunha, "um publicitário brasileiro que trabalhava conosco cujo nome também esqueci".
O "publicitário" é o cineasta Silvio Tendler, que em 1994 trabalhou na campanha de Lula à presidência da República. De início, afirma Tendler:
- Ele diz não se lembrar de quem era o "publicitário", mas sabe muito bem que sou eu. Eu estava lá e vou contar essa história...
Sobre os fatos e a acusação, gravíssima, o cineasta, o documentarista Silvio Tendler conta o que viu e o que recorda daquele almoço em meio à campanha presidencial de 1994:
- Era óbvio para todos que ouvimos a história, às gargalhadas, que aquilo era uma das muitas brincadeiras do Lula, nada mais que isso, uma brincadeira. Todos os dias o Lula sacaneava alguém, contava piadas, inventava histórias. A vítima naquele dia era um marqueteiro americano. O Lula inventou aquela história, uma brincadeira, para chocar o cara...só um débil mental, um cara rancoroso e ressentido como o Benjamin, guardaria dessa forma dramática e embalada em rancor, durante 15 anos, uma piada, uma evidente brincadeira...
Silvio Tendler já fez cerca de 40 filmes, entre curtas, médias e longas-metragens. Além de vários prêmios é detentor das três maiores bilheterias de documentários na história do cinema brasileiro: "O Mundo Mágico dos Trapalhões" (1 milhão e 800 mil espectadores), "Jango" (1 milhão de espectadores) e "Anos JK" (800 mil espectadores).
Na 33ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, neste 2009, Silvio Tendler lançou o documentário "Utopia e Barbárie", no qual trabalhou durante 19 anos. Dentre os personagens ouvidos pelo documentarista mundo afora, o general vietnamita Vo Nguyen Giap, que derrotou os exércitos francês e americano. "Giap, o maior general do século XX", segundo o cineasta.
Na conversa que se segue, o documentarista Silvio Tendler recorda a história da história de Lula e o "menino do MEP".
- Terra Magazine - Silvio Tendler, é você o publicitário citado por César Benjamin no artigo na Folha de S.Paulo?
- Silvio Tendler - Eu mesmo, em pessoa.
- Você estava lá? Você, o Lula, o César Benjamin, o publicitário Paulo de Tarso e o tal marqueteiro dos Estados Unidos?
- Na verdade eu não me lembro é do César Benjamin lá no almoço (...) e, sim, o publicitário que ele diz não lembrar era eu. E ele, se estava lá, sabe e se lembra que era eu; não tinha mais três publicitários na campanha, portanto ele sabe que era eu quem estava lá...mas eu não sei se ele estava, não me lembro, de verdade, se ele tava na sala. Ele agora diz não se lembrar do "publicitário" porque sabe que eu não iria corroborar essa maluquice, até porque eu vi, testemunhei, a quantidade de erros, de bobagens que ele cometeu durante a campanha...
- Ele, César Benjamin?
- Ele, Benjamin...por exemplo: já tava tudo perdido, um dos poucos apoios que o Lula ainda tinha depois daqueles erros de ataques da campanha ao Plano Real, era o da Igreja. E de repente o César resolveu botar como pauta do dia o quê?
- O quê?
- O aborto! Só isso. Esse cara montava e desmontava os programas como se fosse um expert em comunicação... e não era. Me lembro de outra história dele. Tinham inventado uma legislação casuística, criada para segurar o Lula, que tinha feito aquelas caravanas pelo Brasil. Não podia ter imagem externa em movimento... então fizemos um video-clip, eu e minha ex-mulher, a jornalista Tânia Fusco. Ela fez o texto, e eu, com as fotos dele na caravana e outras imagens, fiz, fizemos um clip, uma biografia do Lula a partir de fotos...
- E aí?
- Aí fui dar aula no Rio de Janeiro por dois dias, o comando da campanha era em São Paulo, e quando voltei o clip estava desfigurado pelo gênio da comunicação. Onde havia poesia o César colocou chavões do tipo "arrocho salarial"...
- Por quê?
- Porque se acha um gênio, melhor do que todo mundo... peguei meu boné e fui embora pro Rio...
- E o César?
- Ele continuou com suas trapalhadas. E quinze anos depois ele segue em campanha, agora contra o Lula diretamente. Ele atrapalhou o Lula em 94 e segue tentando atrapalhar o Lula.
- Ok, esses detalhes à parte, você estava à mesa do almoço no dia da tal conversa do Lula?
- Eu estava lá, sentado à mesa. Eu sou o publicitário "anônimo" que estava lá. O Lula, um cara que foi brincalhão durante toda a campanha, mesmo quando já tava tudo perdido. Eu até pensava "esse cara passa a noite pensando em como sacanear os outros", porque todo dia tinha uma piada, um brincadeira, uma vítima de gozação... nesse dia o Lula queria chocar o tal marqueteiro americano... O James Carville era...O James Carville tinha sido contratado para ajudar na campanha do Fernando Henrique e nós tínhamos o nosso americano também. O Lula brincava: "O americano do Fernando Henrique fez a campanha do Bill Clinton, o nosso americano fez a campanha do Daniel Ortega" (NR: Ex e atual presidente da Nicarágua). Bem, o Carville já tinha ou tava sendo mandado embora da campanha do FHC e a campanha do Lula também ia despachar o "nosso" americano.
- E o que aconteceu?
- ...e aí, nesse dia, o Lula, claramente num clima de brincadeira, tava a fim de sacanear, de chocar o americano com essa história dele "seco" na prisão, todos na mesa, nós todos, sabíamos que aquilo era uma brincadeira, era gozação, sacanagem, e imaginando como seria se fosse traduzido pro cara...
- Você tem, teve então a certeza de que era uma brincadeira?
Não teve e não tem nenhuma dúvida?
- Nenhuma. Era claro, óbvio que era uma brincadeira, mais uma piada, mais uma gozação do Lula, nenhuma dúvida. E além disso a história, a cena toda não teve de forma alguma esse ar, essa dramaticidade que o César enfiou nesse texto melodramático. É incrível essa história... todos sabíamos que aquilo era uma brincadeira, como tantas outras feitas durante a campanha...
- As tais "conversas de homem"...
- Nem era esse clima "conversa de homem", era brincadeira, pura gozação, nenhuma responsabilidade, nunca, nunca com esse tom de "confissão" que o Benjamin fez parecer que teve. E você acha que se isso fosse, soasse verdadeiro, todos nós não ficaríamos chocados? Todos ali da esquerda, com amigos presos, ex-presos e tudo mais, você acha que nós ouviríamos aquilo com tom de verdade, se assim fosse ou parecesse, e não reagiríamos, não ficaríamos chocados?
- Na sua opinião, que conhece os personagens dessa história, o que aconteceu?
- O César Benjamin guardou ressentimentos por 15 anos para agora despejar todo esse rancor. Ele pirou com o sucesso do Lula. Ele transformou uma piada num drama, vai ganhar o troféu "Loura do Ano".
- O Paulo de Tarso estava lá?
- Estava. E estava o americano... pensa só uma coisa: você acha que o Lula, logo o Lula, tão pouco esperto como ele é, em meio a uma campanha presidencial, vai chegar na frente de um gringo que ele mal conhecia, um gringo que vai voltar pro país dele e contar tudo o que viu, você acha que o Lula vai chegar pra um gringo que nunca viu, na frente de testemunhas, e vai contar que tentou estuprar alguém? É, foi óbvio, evidente, que aquilo era gozação, piada, brincadeira, sem nada desse drama todo do Benjamin de agora... rimos e ninguém deu a menor importância àquilo...
- Você, um cineasta, um documentarista que viveu a cena, relembrando-a quadro a quadro, o que verdadeiramente pensa, o que diria hoje?
- O Lula adorava provocar... era óbvio para todos que ouvimos a história, às gargalhadas, que aquilo era uma das muitas brincadeiras do Lula, nada mais que isso, uma brincadeira. Todos os dias o Lula sacaneava alguém, contava piadas, inventava histórias. A vítima naquele dia era o marqueteiro americano. O Lula inventou aquela história, uma brincadeira, para chocar o cara... como é possível que alguém tenha levado aquilo a sério? Então...Isso não tem, não deveria ter importância nenhuma. Só um débil mental, um cara rancoroso e ressentido como o Benjamin, guardaria dessa forma dramática e embalada em rancor, durante 15 anos, uma piada, uma evidente brincadeira...".

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

MENINOS DE RUA É O CACETE!

O texto indignado abaixo é do meu chapa Victor Abramo. Reproduzo aqui porque vale a pena ser lido pelo menos por mais meia dúzia de pensantes, de acordo com a última pesquisa que o Ibope fez aqui perto de casa.

Outro dia O Globo trouxe estampada em sua capa uma foto mostrando um grupo de garotos dormindo em um monumento no bairro do Flamengo. Corriqueiro, meninos e meninas perambulando pelas ruas do Rio é o que mais se vê, o fato em si não me causou nenhuma surpresa. O que me chamou a atenção mesmo foi a legenda, que começava assim: “Meninos de rua ...” Ora, meninos de rua é um eufemismo que usamos para aliviar um pouco nossa culpa por essa verdadeira vergonha nacional que é o abandono de milhares de crianças. O rótulo “Meninos de rua” dá a impressão de que eles brotam dos bueiros de cada esquina, e que não temos absolutamente nada a ver com essa incômoda realidade.
Não sei o que motivou minha reação tão forte nesse dia, mas ao ver a foto e ler a legenda pensei imediatamente: Não, não são meninos de rua! São crianças abandonadas! Crianças que não têm um lar, uma família estruturada, que não freqüentam uma escola, que vestem trapos e se alimentam de solvente ou, pior, de pedras de crack. Crianças que não têm direito de sonhar, pois só conheceram o pesadelo do abandono, crianças que certamente já ouviram falar em carinho, em afeto, mas nunca viram ou sentiram nada parecido e nem sabem como são essas coisas. São crianças que levam porrada desde o dia em que chegam ao mundo, e que nós fingimos não ver em nossa ida e volta ao trabalho.
É mesmo muito fácil pensar que isso é um problema que cabe ao Governo resolver, e continuar desviando o olhar dessa cena deprimente, dessa enorme covardia cometida contra crianças indefesas. Se o Governo não cumpre sua obrigação, cabe a nós exigir que o faça. Cada vez que viramos o rosto para não enxergar essa criminosa realidade compactuamos com os administradores incompetentes ou mal intencionados que nem sequer esboçam qualquer ação no sentido de dar a esses pequenos brasileiros um mínimo de cidadania, algo que a Constituição Brasileira em tese garante a todos os brasileiros, mas na prática só acontece para os ricos e os remediados.
Os mesmos administradores que comemoram a realização dos Jogos Olímpicos a um custo astronômico de R$ 26 bilhões, não têm a decência de explicar, entre uma e outra viagem ao exterior com o dinheiro público, por que nunca existe “verba” para tirar essas crianças desse verdadeiro martírio. O máximo que se envolvem na questão é quando participam de seminários para discutir “as causas da violência”. Ora, é de chorar esse cinismo oficial, esse faz de conta governamental. Perdemos quatro ou cinco ou mais gerações nas ruas. Entregamos milhares de crianças ao Deus dará, não nos incomodamos quando, com fome, sede e atordoados pelas drogas eles vêem os ricos passar com suas poderosas picapes que custam algo em torno de R$ 300 mil e na maioria das vezes transportam apenas o ego de seu dono.
Mas nossas engravatadas autoridades insistem em não entender o que causa a violência. Na certa esperam que estas crianças a quem tudo é negado, a começar pelo direito de existir, nos assaltem com educação, com delicadeza. “Oh, por favor, o senhor pode me passar sua carteira, se não for incômodo?”. “A senhora me perdoe, mas vou levar sua bolsa, seu celular e esse cordão de ouro, tá bem?”. “Oi, irmãozinho, me entregue essa bicicleta? Seu pai amanhã lhe dará outra novinha!”
Não, não é assim. É demais esperar isso de quem sempre foi tratado à tapa em casa (casa?) ou nas ruas. Mas fiquem atentos. Não vai demorar e, como num passe de mágica, esta criançada que brota dos bueiros cheirando a esgoto vai desaparecer pelo menos por uns tempos da cena carioca. Ora, os responsáveis pela realização da Copa de 2014 e das Olimpíadas de 2016 vão tratar de varrer esse lixo humano para um depósito público de crianças sem porvir. E ao pensar nisso torço para que ninguém tenha a péssima idéia de recorrer à solução final ao estilo nazista no pavoroso Rio da Guarda, página mais vergonhosa da história do Rio de Janeiro.
Antes disso, vamos combinar uma coisa. Sempre que aparecer em algum jornal ou site a expressão “meninos de rua” vamos mandar uma enxurrada de e-mails e cartas exigindo que pelo menos tenham a decência de tratá-los pela realidade a que estão condenados: são crianças abandonadas. E vamos nos mobilizar para que na campanha eleitoral que se aproxima esse tema seja obrigatório. Vamos premiar com nosso voto somente quem se comprometer verdadeiramente com essa bandeira e, o mais importante de tudo, vamos nos organizar para, depois da eleição, cobrar o cumprimento de todas as promessas.
Victor Dawes Abramo

domingo, 8 de novembro de 2009

ABAIXO A LEI SECA! CASSEM OS PSICOPATAS DO TRÂNSITO!

Existem milhares de maus motoristas no país, psicopatas do trânsito, garotões que ganham carrinho zero do pai rico que faz isso para que o moleque pare de encher o saco. E se o moleque vai em cana, o pai poderoso e seus amigos influentes vão lá soltá-lo. Geralmente isso funciona. Quando não funciona, seja porque o policial era honesto ou porque, mesmo corrupto, ficou chateado com alguma coisa que o garotão lhe disse, vira notícia de jornal.
Uma barreira para impedir que esses desgraçados continuem à solta deveria atuar da seguinte maneira:
- O policial para alguns carros, aleatoriamente ou por perceber algo estranho em alguns dos sujeitos que estão na direção.
- Pede a carteira e sugere o teste no bafômetro num nível aceitável, não com essa tolerância zero que só existe contra gente de bem que toma umas e outras, e sai dirigindo melhor do que a maioria dos sóbrios.
- O cara nunca teve uma infração séria e o teste aponta que o motorista estava quase no limite.
- O policial observa que o sujeito está transtornado, estranho, o cacete. Multa o sujeito. Se este for um imprudente contumaz, o que o Detran, essa repartição acima de qualquer suspeita, deve fazer? Cassar a carteira pelo resto da vida do infeliz.
- O cara passou um pouco do limite, mas conversa cordialmente, não demonstra desequilíbrio, etc., tudo bem. Ah! O prontuário do sujeito está limpo. Vai segurar esse cara? Até pode. Aplique uma multa, 100 reais, que tal? Assim dá para concorrer com a corrupção que já está grassando entre os fiscais da Lei Seca.

ABAIXO ESSA BOSTA DE LEI SECA!

Faço questão de repetir aqui o comentário feito por meu chapa Salvador, criador do "Qual Delas", um blog para quem gosta de samba e choro. Salvador hoje vive em Curitiba, mas é daqui de Niterói.
O que ele disse:
"Estou sabendo que aí em nossa terra, numa dessas barreiras policiais, cem metros antes delas algumas pessoas se oferecem, em troca de pagamento, para conduzir o seu veículo até alguns poucos metros após a barreira. Quem utilizou o "serviço" notou uma certa camaradagem entre os policiais e o prestador de serviço. Pode???".
Não pode, camarada, não pode. Mas existe, sim, esse novo "serviço".
É mais uma consequência nefasta da falta de seriedade de quem formulou, de quem aprovou, de quem fiscaliza essa bosta de Lei Seca.
Lei Seca é, será e sempre foi uma merda.
Não sei se foi naquele livro do Hobsbawn, sob pseudônimo, "A História Social do Jazz", que li, mas em Kansas City, durante a Lei Seca, um prefeito mafioso liberou o birinaite. E salvou o jazz que em Chicago, Nova York, na Costa Leste estava agonizando por conta da escassez de clientela nas casas de espetáculo.
Kansas City reagiu, com prefeito mafioso e tudo (foda-se! em casos como este, estou com a máfia), e o resultado é que naquela cidade foram revelados alguns gênios do jazz: Count Basie, Billie Holiday, Lester Young etc.
A Lapa está morrendo, e em outros lugares, como Niterói, casas de samba que antes recebiam 400, 500 pessoas, ou até mais, estão entrando em crise.
Minha amiga Rita, que comanda uma dessas casas, está tendo prejuízo em cima de prejuízo.
Lugares frequentados por gente boa, e com público inclusive acima dos 30 anos, esvaziaram.
Mas quem enche o rabo de ecstasy e de red bull continua passando no teste do bafômetro e morrendo. A garotada que sempre fez merda no trânsito não deixou de fazer.
Cantores e músicos de samba, de chorinho, de pagode, de qualquer merda que acham que é música; bebedores de cerveja e de uísque, frequentadores de pés-sujos, boêmios do Rio de Janeiro, de Niterói, de São Paulo, do Brasil inteiro; donos de bares e de restaurantes; garçons, cozinheiros, vamos pensar numa manifestação maior que a passeata dos 100 mil contra essa merda de Lei Seca.
Alô, alô, políticos que bebem e que dizem gostar de samba, vamos pensar em saídas legais contra essa bosta de Lei Seca.
A propósito, sou sócio da ANDA (Associação dos que Não Dirigem Automóvel).
Na foto, para servir de inspiração a todos os boêmios de culhões, Antônio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes.

sábado, 7 de novembro de 2009

ABAIXO ESSA MERDA DE LEI SECA!


É como se vivêssemos sob o toque de recolher de uma ditadura. A vida noturna e a vida cultural acabaram. Lugares frequentados por quem gosta de boa música estão operando no vermelho. Músicos e trabalhadores de bares e restaurantes perderam o emprego ou fizeram acordo para ganhar menos por culpa dos filhos da puta que inventaram essa Lei Seca. Uns cornos que repetem hoje outras atitudes hipócritas do passado, como a proibição do jogo em cassinos e, mais recentemente, em bingos.
Gente que trabalha e quer sair no fim de semana até para um cineminha, para um teatro, para o aniversário de um amigo, hoje tem medo de sair de casa porque por toda a parte tem barreira. O chopinho depois do filme e da peça já era. Querem que a gente beba o quê numa festa de aniversário? Q-Suco? Vão pra puta que pariu!
Se um motorista é “sorteado” pelos policiais, não adianta nada ter uma ficha limpa no trânsito, nenhuma infração séria.
Não sou contra a vigilância no trânsito para impedir que bebuns malucos façam merda na rua, matem inocentes. Mas o que está havendo é um absurdo. Duvido que um senador ou um deputado de porre seja incomodado.
Os maus policiais estão adorando. Seja porque a corrupção não deixa de existir, seja porque é muito mais cômodo e menos perigoso participar dessas blitzes.
Falando em corrupção, ouvi falar que um cara parou um dia desses perto de uma barreira, em Niterói. Ficou sacando, escondido atrás de uma árvore, até que alguém surgiu por trás dele, sorrateiramente. Era um policial e perguntou se o carro era dele.
O "infrator" respondeu que não era. O canalha que o abordou sorriu e disse que o carro era dele, pois vira um negão vestindo camisa cor-de-rosa no volante. Não tinha saída. Enquanto o motorista estava pra lá de constrangido e com medo da multa absurdamente alta, o puto sorriu e perguntou se ele sabia com quem estava falando.
“Claro que sei. O senhor é um policial”.
“Não, o senhor está enganado. Eu sou o seu anjo da guarda. Vamos conversar que eu dou um jeito”.
E deu. O motorista morreu em cem pratas, algo assim.
Qual é a saída? É ir contra a bosta dessa lei e os filhos da puta que a apoiam, sejam autoridades ou não. Os donos de vans devem estar adorando. Os jovens consumidores de ecstasy e de red bull passam no bafômetro e continuam morrendo. As estatísticas provam que a garotada que faz merda no volante continua morrendo no trânsito, e os óbitos aumentaram em relação a 2008.
Proponho uma manifestação contra essa lei estúpida antes que os bares e as casas de show fechem, antes que isso aqui vire um país de idiotas fundamentalistas.
Vamos nessa, povo da Lapa, de Niterói, da Zona Sul, da Zona Norte, etc, para cobrar mudanças nessa lei idiota, aprovada por idiotas, fiscalizada por idiotas.
Na foto, o ministro da Lei Seca (filho de dono de restaurante!!!) e seu patrocinador oficial.
No som, Ismael Silva e uma de suas obras-primas, "Nem é bom falar".